Crítica | A Escola do Bem e do Mal – Como seria se Harry Potter tivesse dado errado

Contos de fadas tendem a comunicar histórias simples e carregadas de lições morais atemporais. Esse modelo não costuma ser provocativo ou reflexivo, na realidade, é apenas um passatempo distrativo e está tudo bem. E esse é o grande problema de A Escola do Bem e do Mal, nova produção da Netflix. Ao invés de abraçar a galhofada, tenta exageradamente ser o tipo de filme que não é. A obra de Paul Feig é apenas uma variante de Harry Potter protagonizado por princesas, fadas e outros seres mágicos com nem 1/3 da potência e originalidade que o filme do bruxo possui. Mas, ainda assim, insiste em subverter a fórmula que está atolado até o topo nela.

A trama e o elenco

Cafona do começo ao fim, após um prólogo exageradíssimo e com CGI bem duvidoso, a trama feijão com arroz acompanha duas amigas adolescentes, Sophie (Sophia Anne Caruso) e Agatha (Sofia Wylie), cuja amizade estremece após conflitos pessoais. Sophie, uma amante de contos de fadas, sonha em escapar de sua vida comum na aldeia em que mora, enquanto Agatha, com sua estética sombria, tem os ingredientes de uma bruxa de verdade. Não demora muito para que elas sejam levadas para a popular Escola do Bem e do Mal (praticamente um O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares) – onde começa a típica história de todos os contos de fadas. O lugar, por algum motivo que é melhor não perguntar, é responsável por manter o equilíbrio moral de todo o universo.

No entanto, algo de errado não está certo nessa configuração: Sophie é colocada na Escola do Mal, dirigida pela posuda e ácida Lady Lesso (Charlize Theron), e Agatha na Escola do Bem, supervisionada pela gentil Dovey (Kerry Washington). Como se ter aulas com a prole da Cinderela, Capitão Gancho, e o filho do Rei Arthur (Jamie Flatters) não fosse duro o suficiente, de acordo com o diretor (Laurence Fishburne), apenas o beijo do amor verdadeiro pode mudar as regras e enviar as meninas para sua escola de direito. Simples, óbvio e convencional.

Para deixar ainda mais teen atual, a trilha sonora possui nomes como Olivia Rodrigo. No entanto, tudo sempre gira em torno de público-alvo e, neste quesito, os fãs da popular série de fantasia de Soman Chainanidona do livro que inspira o filme – devem ter um passeio divertido pelo mundo descomplicado criado pela autora, obviamente anos-luz atrás da complexidade de obras de J. R. R. Tolkien e C. S. Lewis. Nem mesmo o cosplay barato do Chapeleiro Louco de Charlize Theron ou a participação especial da ótima Michelle Yeoh é o suficiente para encantar um público mais amplo para uma saga de amizade tão dolorosamente sobrecarregada.

É raro que uma premissa tão simples como esta leve a eternidade que leva para chegar onde deseja e estabelecer seus conflitos centrais. O roteiro visivelmente sofre pela escassez do seu raso e fraco material de origem e precisa inventar história para preencher as absurdas 2 horas e meia de filme. Só essa duração exagerada já sabota o próprio universo básico que deseja construir, afinal, se até mesmo Harry Potter se perde com tanto tempo assim, imagina isso aqui. Além do mais, mesmo que tente sair da caixinha, tudo é bem preto no branco. Há heróis e vilões, mocinhas e malvadas, bem e mal. Falta nuances e personagens mais bidimensionais, algo que daria mais profundidade e humanidade para as até boas protagonistas.

A condução de Paul Feig (Caça-Fantasmas) é igualmente caótica e suas decisões criativas parecem ultrapassar o limite do genérico, mas, ainda assim, usa e abusa dos belos cenários e dos efeitos especiais para criar fluidez pelo mundo mágico. O diretor não parece muito bem saber trabalhar com mistérios e entrega algumas surpresas antes da hora.

Diferente de HP, que tanto reverencia, o filme encontra muita dificuldade de criar conexão com o nosso mundo e o mundo da magia e trabalhar as diferenças e os detalhes divertidos de haver algo assim existindo bem debaixo dos narizes dos humanos comuns. O único arco narrativo consistente diz respeito à transição brusca de Sophie de princesa em treinamento para bruxa poderosa, enquanto a aspirante a Cinderela é gradualmente seduzida pelo lado sombrio da força.

Conclusão

Ao desperdiçar todas as suas forças tentando desesperadamente ser Harry Potter ou um filme de Tim Burton, A Escola do Bem e do Mal faz uma mistureba de fantasia no caldeirão e vê sua magia ficar pelo desajeitado caminho que o roteiro percorre. Ainda assim, se sustenta apenas por um visual belíssimo, responsável por realçar tudo de melhor que um conto de fadas pode ter. Mas falta sutileza, ousadia e uma generosa pitada de originalidade para atingir todo o seu potencial fantástico.

Como tudo que a Netflix anda fazendo ultimamente, este filme soa bem mais como uma opção genérica de grandes sagas do cinema, feita diretamente para o público adolescente que consome o gênero. Um tapa-buraco planejado para aparecer no campo de busca, já que Harry Potter ou Descendentes são de outros streamings. Se a Netflix não pode ter, ela faz seu próprio derivado. Nem bem nem mal, nem bom e nem péssimo, é apenas guilty pleasure com um toque de eu já vi isso antes.

NOTA: 5/10

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