Com Hollywood tão desgastado e redundante nos últimos anos, é preciso dizer que A Mulher Rei (The Woman King) é uma proposta culturalmente rica e refrescante na onda genérica de filmes de ação, especialmente com a enxurrada desenfreada de super-heróis. Ao sair do lugar comum, o filme desenvolve um drama histórico sobre as guerreiras inspiradas na vida real do Reino Africano de Daomé, conhecidas como Agojie, e isso, claro, com um elenco majoritariamente negro e liderado pela força da natureza Viola Davis.
Apesar de ter um roteiro levemente superficial quando se trata das complexidades da dinâmica social e política da tribo da época, uma vez que o tráfico de escravos pela tribo era muito mais complexo e problemático do que o romantizado pelo longa, o elenco impecável eleva o nível de qualidade e proporciona altos níveis de emoção, que se equilibra com as arrepiantes sequências de ação e luta em um filme que sabe muito bem onde deseja chegar.
A trama e o elenco
Situado na África Ocidental de 1823, durante os conflitos com o violento Império de Oyo, o drama acompanha as valorizadas mulheres guerreiras de Daomé, que formam a guarda real do Rei Ghezo (John Boyega) e que, com devido esforço e destaque, podem se tornar a renomada Mulher Rei, companheira do reinado. Desse ponto de partida, o roteiro explora as diferenças de gênero dentro do reino, a colonização portuguesa e como uma jovem rebelde, Nawi (Thuso Mbedu), se recusa a se casar e passa a treinar para ser uma poderosa Agojie.
Apesar do processo de treinamento brutal supervisionado pela general Nanisca (Viola Davis), Nawi encontra seu propósito na amizade entre suas colegas e é orientada pela guerreira de elite Izogie (Lashana Lynch), tornando-se a grande jornada do herói da trama. A conexão do elenco é imediata e a química funciona tranquilamente. Fora isso, um dos dilemas morais mais interessantes do filme é testemunhar como tanto Daomé quanto Oyo são cúmplices em ajudar o tráfico de escravos para às américas e Europa. Esse comércio sangrento serve de base para o desenvolvimento da história e motiva suas personagens à lutar duas vezes mais contra a opressão do homem branco.
Mas não espere muito! Sem se aprofundar nas complexidades e hipocrisias da realidade, o roteiro apenas divide os grupos e estabelece seu conflito de forma clara e simples ao espectador. As tribos são reduzidas ao básico e a trama segue o caminho mais fácil, apoiada em subtramas melodramáticas, romance, maternidade e estratégias políticas descomplicadas. No entanto, o elenco é ótimo em vender a humanidade daquelas pessoas.
Em termos de desempenho, Viola Davis é excelente como Nanisca, com suas cicatrizes e dores do mundo. A performance da atriz explora toda a valentia e os traumas da guerreira, é um verdadeiro privilégio ver Davis em ação. Lashana Lynch segue sempre em deslumbre em tudo que faz, mas Thuso Mbedu é a maior estrela dessa história com suas expressões poderosas. Nawi carrega o peso emocional e é através das reações de Mbedu que o filme muitas vezes ganha lágrimas ou gritos de entusiasmo.
A direção
Apesar disso, o excesso de tramas paralelas faz com que o filme pareça inchado, sem ritmo e, por vezes, até maçante de acompanhar. O final se apressa demais e passa por cima de alguns momentos cruciais que mereciam mais tempo e destaque emocional. Gina Prince-Bythewood (The Old Guard) já provou que possui um olhar único para sequências de ação e coreografias brilhantes.
E são exatamente essas cenas de ação (e uma trilha belíssima) que tornam o filme envolvente, junto com a união das mulheres guerreiras. Tudo é visualmente muito bonito, comovente e inspirador. O resultado do esforço são sequências brutais de combate que parecem reais, especialmente pelo nível hard de violência gráfica.
Conclusão
Mesmo com Viola Davis sendo o centro emocional, A Mulher Rei se mostra um drama histórico feroz e revigorante, que vai muito além do que se espera de um filme de ação convencional, uma vez que reverencia o empoderamento nos cinemas como poucos blockbusters até então. O épico de Gina Prince-Bythewood nos faz acreditar que Hollywood pode e consegue fazer grandes filmes apesar de tudo que já foi feito.
Essas novas heroínas são mais palpáveis, reais e vulneráveis que as de qualquer filme de super-heróis atualmente e é exatamente por conta disso que somos envolvidos nessa jornada inspiradora. Mas não se engane no drama, há ação empolgante, lágrimas inesperadas e violência na medida certa para coroar este como um dos filmes mais impressionantes do ano.
NOTA: 9/10
Leia também: A Mulher Rei | “Coloque seu dinheiro em filmes com pessoas como nós”, diz Viola Davis em coletiva
Já conhece nosso canal do YouTube? Lá tem vídeo quase todo dia. Se inscreve! Dá uma olhada no nosso vídeo mais recente:
Aproveite para nos acompanhar nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e também no Google News.
Quer receber notícias direto no seu celular? Entre para o nosso grupo no WhatsApp ou no canal do Telegram.