Crítica | Era Uma Vez Um Gênio – Um conto de fadas adulto e surreal

Se em Mad Max: Estrada da Fúria George Miller pisa no acelerador e segue desenfreado pelo deserto, em Era Uma Vez Um Gênio (Three Thousand Years of Longing) – novo filme do cineasta que chega ao Brasil pela Paris Filmes – o efeito é exatamente o contrário. Ao explorar a mitologia de gênios/djinns, o roteiro cria um conto de fadas lento, por vezes cansativo, que brilha especialmente por conta de seus visuais impressionantes e elenco espetacular, encabeçado pela brilhante Tilda Swinton.

Porém, apesar da fábula ganhar vida própria em suas belas imagens, o diretor parece não encontrar o tom ideal para contá-la e muito menos um final satisfatório. Nos resta apenas mergulhar na aventura durante a jornada que, de forma divertida, moderniza e subverte alguns clichês desse tipo de história. Diferente de Aladdin, a protagonista aqui – ao encontrar a garrafa com o gênio preso dentro – decide que não possui nenhum pedido a fazer. Uma reviravolta interessante, pena que mal aproveitada.

A trama e o elenco

Adaptado do livro The Djinn in the Nightingale’s Eye, a trama acompanha a independente e autossuficiente Alithea (Tilda Swinton), que compra uma garrafa enfeitiçada e, sem querer, desperta um gênio milenar (vivido por Idris Elba) com sua escova de dentes elétrica durante uma viagem a Istambul. Até aí, tudo comum. Porém, a personagem decide que não possui nenhum desejo a ser feito, pois vive uma vida feliz e plena no momento. Dentro disso, sem ter o que fazer, o gênio começa a contar suas melancólicas histórias de como foi preso na garrafa ao longo de 3 mil anos. Aos poucos, Alithea percebe que há um estranho amor nascendo entre ela e o ser místico.

E é ai que a ação do filme se deve a inúmeros flashbacks líricos sobre lendas antigas e histórias de amor do início da civilização humana. Contos de reis e rainhas que se perderam pela paixão. O gênio não é como outros da cultura pop – um acerto feliz do filme. Por um lado, há um senso de humanidade nele que raramente vemos em histórias como essas. Ele não é apenas um espírito em uma garrafa, concedendo desejos às pessoas – ele é um ser que ama, que teme, que comete erros, e Elba traz um maravilhoso charme sobrenatural ao papel que funciona. A química com Swinton é absurda de boa de ser assistida.

Ainda que o roteiro caia na monotonia por estender demais algumas histórias e se perder dentro do encanto das mesmas, seu elenco realmente ajuda a equilibrar as reflexões dos contos de fadas com uma perspectiva muito mais realista e fundamentada, especialmente por ter uma protagonista questionadora e inteligente como Alithea – ainda que seja propensa a cair na fantasia (e o filme brinca se o que vemos é real ou puro fruto de sua mente fértil). Infelizmente, tudo cai por terra no ato final do filme.

A direção

George Miller se perde profundamente em sua ambição e esquece que a trama precisa de ritmo. Tudo parece ir para lugar nenhum dentro de suas quase 2 horas de trama arrastada e maçante. O cineasta se apaixona tanto pela sua narrativa demorada que não consegue mais sair dela. As pequenas histórias dentro da história central são imprevisíveis e divertidas, mas falta substância entre elas e o núcleo contemporâneo.

A parte técnica do filme é bem trabalhada e inspirada, assim como a belíssima fotografia e uso das cores quentes. Há palácios suntuosos e quartos cheios de livros. Cada local parece único e interessante. Da mesma forma, a trilha sonora nos envolve na grandeza desses momentos. No entanto, o desfecho é amargo e deixa uma sensação de que o tempo gasto não valeu tanto à pena assim. O seu final ilógico parece fora do lugar. Ao evitar cair em clichês por toda a trama, Miller faz exatamente isso na resolução rasa da história. A fantasia se dissipa e suas escolhas repentinas e inexplicáveis ​​surgem completamente do nada, uma tragédia.

Conclusão

No seu melhor momento, Era Uma Vez Um Gênio enfeitiça com ótimas performances do elenco ao criar um conto de fadas adulto visualmente magnífico e surreal. Porém, o desfecho ilógico e a lentidão da narrativa levam 3 mil anos para se conectar com o emocional do público. E, no fim, a experiência não é o desejo que poderíamos pedir ao genial George Miller.

Essa fantasia madura infelizmente não realiza as nossas vontades, mas diverte e se mostra uma história escapista leve e superficial. É romântico e ambicioso, mas desperdiça seu potencial assim como desperdiça seus três pedidos mágicos.

NOTA: 7/10

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