Há momentos na vida em que nos perguntamos se as coisas teriam sido diferentes se tivéssemos escolhido caminhos diferentes. E essa narrativa especulativa sem dúvida nos provoca fascínio, algo que serve de base para a trama de Como Seria se…?, nova comédia dramática da Netflix que emociona com muito pouco e diverte com um roteiro bastante leve e sincero. Um daqueles filmes que passam sem divulgação, mas que são uma raridade dentro do catálogo da plataforma.
A trama e o elenco
O enredo de Como Seria se…? explora essa abordagem de “duas estradas que se divergem” sobre a mesma vida ao acompanhar uma jovem simpática chamada Natalie (Lili Reinhart), muito semelhante com a premissa de De Caso com o Acaso, de 1998. Ela tem os próximos anos de sua vida planejados, sabendo exatamente o que quer para o futuro. No entanto, uma noite não planejada com seu amigo Gabe a leva a fazer um teste de gravidez durante a festa de formatura, dai por diante sua vida se parte em duas possibilidades distintas, dois universos e linhas do tempo. Uma onde o teste dá negativo – e tudo segue como planejado – e uma linha do tempo onde dá positivo e ela tem que abrir mão de seus planos, reestruturando completamente sua vida para caber em uma criança inesperada.
O filme começa com uma premissa convincente e, por um momento, você acha que vai ser algo mais sério e profundo, afinal, trata-se de uma gravidez não planejada e todas as implicações que isso provoca na vida de uma jovem menina. No entanto, o roteiro se apega a uma mensagem mais simples e escolhe um caminho mais fácil, mais leve que, por um lado, funciona bastante, mas por outro deixa no ar as consequências agravantes de ser mãe. O conflito central começa forte, mas se dissolve no final. Dentro disso, Lili Reinhart (Riverdale) – diga-se de passagem está a cara da Brittany Murphy – absolutamente brilha ao assumir os dois papéis sem esforço. Ela tem um charme tão natural na tela, que estabelece com facilidade a conexão necessária com o público.
A trama imediatamente se envolve em criar uma diferença distinta entre as duas linhas do tempo e mostra como um filho pode mudar para sempre a vida de uma mãe, porém, apesar das dificuldades, curiosamente faz um trabalho melhor ao retratar a luta da Natalie sem filhos. Já sobre Gabe (Danny Ramirez também está bem no papel), infelizmente nunca vemos a dificuldade de ser pai com tão pouca idade. O filme parece mais focado em retratá-lo como um homem que é tão perfeito, que é quase isento de falhas e conflitos.
Uma das principais coisas que o filme mostra através da história de Natalie é que a vida segue seu próprio curso, não importa o quanto você planeje as coisas. Tudo acontece em seu próprio tempo, não importa o caminho que você tome. Fica claro quando, no final de sua jornada, vemos as duas vidas de Natalie convergindo para o mesmo ponto. Isso, sem dúvida, subverte clichês e dá ao longa uma outra tonalidade.
A direção
A sensibilidade do olhar de Wanuri Kahiu (Rafiki) faz total diferença para as questões femininas da história. A cineasta conduz a trama sem pressa, sem pôr os pés pelas mãos e, mesmo de forma lenta, constrói uma atmosfera doce, cativante e cômica. O visual do filme também é equilibrado, com tons quentes para Los Angeles e azuis para a cidade natal de Natalie. A trilha sonora assertiva faz o restante do trabalho.
Conclusão
Se você já se perguntou como seria viver outra vida senão a sua, Como Seria se…? certamente irá preencher seu coração de respostas e reflexões nesse Multiverso. E para uma comédia romântica fazer isso, é sinal de que há uma ótima e carinhosa execução por trás da produção. O filme é, possivelmente, um dos melhores da Netflix neste ano e funciona tanto no drama quanto no humor.
O elenco é adorável – encabeçado pela talentosa Lili Reinhart – e a trilha sonora entusiasmada faz a jornada dura parecer muito mais adorável, leve e sincera. O De Caso com o Acaso da nova geração. Como seria se a Netflix acertasse em um ano tão cheio de decepções? Agora nós já sabemos.
NOTA: 8/10
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