Antes de qualquer coisa, é importante dizer que Boa Sorte, Leo Grande (Good Luck to You, Leo Grande) é um filme muito especial e original, em partes por conta de sua história honesta e intimista, em partes por ser uma comédia romântica que quebra inúmeros paradigmas da indústria do cinema e sua mania triste de centralizar esse gênero apenas em jovens estrelas em ascensão. Aqui, vemos Emma Thompson em uma de suas melhores performances, no auge dos seus 63 anos, dando vida à uma protagonista absolutamente inesquecível e jovial.
O filme, que chega ao Brasil pela Paris Filmes, é daquelas tramas que se passam em apenas um ambiente, com poucos recursos e elenco limitado, mas que cresce imensamente exatamente por conta da simplicidade da premissa e da sinceridade do texto apresentado. Porém, ser descomplicado não quer dizer ingênuo. Muito pelo contrário, o roteiro sagaz constrói uma lição de vida interessante, repleta de ternura e sexualidade, para fazer qualquer história de amor juvenil sentir inveja da ousadia.
A trama e o elenco
Com apenas dois personagens como foco da narrativa, a trama acompanha Nancy Stokes (Thompson), uma viúva aposentada e ex-professora. Cansada da vida sem emoção, ela conhece um homem que tem metade da sua idade, chamado Leo Grande (Daryl McCormack), um profissional do sexo que ela encomendou para experimentar novos desafios.
Nancy, porém, fica apreensiva e nervosa com as infinitas possibilidades de fazer sexo casual com um homem mais novo. Ela amava o falecido marido, mas ele não parecia tão interessado assim em sexo. Entre um problema de confiança e autoestima e outro, ela descobre porém que essa relação pode mudar seu ponto de vista do mundo, assim como o ponto de vista de Leo e, de quebra, ainda trazer o seu primeiro orgasmo da vida.
Como uma boa história de autodescoberta sexual, quase que um clássico filme coming of age – só que da melhor idade – o casal desperta algo profundo e poderoso dentro um do outro, nos fazendo refletir sobre a finitude da vida, a solidão da velhice e a passagem apressada do tempo.
O amor é algo para jovens? Sexo não combina com idade avançada? Todos esses estereótipos são colocados na mesa – ou melhor, na cama – para nos permitir pensar sobre o eventual destino de todos nós. Essa quebra de tabu é, entre muitas coisas, uma preciosidade inesperada dentro de um filme que entrega mais do que promete.
Enquanto Boa Sorte, Leo Grande questiona os clichês de Hollywood de sempre escalar uma mulher mais jovem como uma atração romântica e sensual para um homem mais velho (pega a franquia 007, por exemplo), essa mudança de ares desconstrói com vigor as dúvidas e vergonhas que muitos podem ter sobre o assunto, dando à Emma Thompson uma protagonista fantástica e uma atuação corajosa, que inclui, aliás, sua primeira cena de nudez no cinema.
À medida que a confiança de Nancy cresce, o mesmo acontece com a do espectador, fruto do ótimo trabalho de McCormack e da espontânea doçura que existe entre o casal. É sim um filme sobre sexo, mas que nunca deixa o espectador desconfortável ou sentindo-se um mero voyeur de transa alheia. Mesmo com tantas qualidades, o filme pertence à lendária Thompson e parece nascer dela. À medida que a história avança, sua atuação como Nancy se torna valente para qualquer artista realizar, não importa sua idade.
A direção
Além do elenco, um dos pontos fortes são também os diálogos líricos, que se comportam quase como notas musicais na boca dos personagens. A diretora Sophie Hyde (Toda terça-feira) sabe muito bem como conduzir essa história de forma que o senso de humor não a torne desrespeitosa ou mesmo clichê, afinal, busca alfinetar e explorar as vulnerabilidades do sexo “não convencional”, que não brilha aos olhos de Hollywood. Seu trabalho é impecável, assim como a sensação de afeição que extrai de detalhes tão simples, como olhares inseguros e comentários ingênuos sobre as delicadezas do corpo.
Conclusão
Há sensibilidade, carinho e uma boa dose de drama transbordando de Boa Sorte, Leo Grande, cuja maior mensagem é sobre amar a si mesmo antes de pensar em amar os outros. Uma história esclarecedora, adorável e divertida sobre sexo, prazer, autoaceitação e conexões humanas, que deve arrancar risos honestos e suspiros singelos do público.
Como uma boa e rara comédia romântica adulta, o filme brilha na simplicidade da trama e cresce na química irresistível do elenco. Emma Thompson, no auge dos seus 60 anos, dá voz a menina insegura, doce e ingênua que habita todos os corações juvenis por aí. É especial, sexy e rejuvenescedor. Um desejo carnal que conecta, exatamente como a primeira vez com alguém que a gente ama deveria ser.
NOTA: 9/10
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