Crítica | Thor: Amor e Trovão só evidencia a péssima Fase 4 do MCU 

Doa a quem doer. O Marvel Studios virou o “fast food” de Hollywood. Filmes rápidos, fáceis e saborosos aos olhos. Cada nova produção mata nossa fome por blockbuster escapista, mas está longe de vir igual promete na embalagem. Essa “imagem meramente ilustrativa” parece ser a nova onda do estúdio que consagrou o gênero de super-heróis nos cinemas. Tanto as séries recentes – feitas para o Disney+ – quanto os filmes dessa precária Fase 4 são deliciosas “junk foods” cinematográficas. O problema é que, depois que passa a emoção da refeição, digerir seus defeitos tem sido um exercício de desgosto e decepção. E não é diferente com Thor: Amor e Trovão (Thor: Love and Thunder), nova superprodução do herói que explora as aventuras do deus asgardiano após os eventos de Vingadores: Ultimato.

Bom, pelo menos é essa a premissa da produção, que acaba se apressando em todas as suas vertentes para entregar uma trama dinâmica, quando, na realidade, parece apenas uma corrida contra o tempo levemente salpicada de exageros desanimados dentro da fórmula saturada do MCU.

A trama e o elenco

Convenhamos, nesses últimos 10 anos vimos Thor passar pelo maior rebranding do Universo Cinematográfico da Marvel até agora e sair de dois filmes extremamente ruins para um Thor: Ragnarok repaginado, tanto na estética quanto no senso de humor nonsense empregado pelo imaginativo Taika Waititi. O capítulo três não apenas fez o público ter interesse pelo super-herói bobão, como também o colocou em uma das melhores produções da Marvel. Porém, é difícil manter o trem nos trilhos por muito tempo dentro de um estúdio onde 10 mil coisas estão acontecendo simultaneamente e cada novo projeto dependo de outro para existir.

Em Thor: Amor e Trovão, o personagem está exausto de tudo que viveu e, ainda assim, sente que precisa viver mais. Muito semelhante ao fôlego e a sobrevida que o personagem tem recebido nos cinemas.

Após assumir uma aposentadoria temporária e se unir aos Guardiões da Galáxia (presença especial piscou-perdeu) para explorar os confins do espaço, o asgardiano é convocado novamente para a ação quando descobre que existe um sujeito à lá Voldemort que está ceifando todos os deuses do universo. Sendo assim, a Terra está em sua rota de colisão, agora que a Nova Asgard encontrou um lar aqui.

Thor (Chris Hemsworth segue com seu poço de carisma convencional) desperta, emagrece e volta a ativa para derrotar esse vilão tenebroso e enigmático vivido por Christian Bale. A segunda melhor coisa do filme, já que a primeira é inigualavelmente a Poderosa Thor de Natalie Portman. De qualquer modo, a nova equipe ainda conta com retorno da badass Valquíria (Tessa Thompson) e do hilário Korg (Taika Waititi) que, aliás, serve de narrador da história.

Mas o roteiro de Thor: Amor e Trovão é vazio e não se arrisca ir muito além do convencional. Se sustenta apenas por sequências de ação embaladas por clássicos do rock e um humor requentado do filme anterior, por vezes pastelão, por vezes nonsense. Ainda que dê um gostinho de como ficou a vida de Thor após tantas perdas em filmes anteriores, parece que amadurecimento é algo que a franquia não consegue desenvolver. O herói está ainda mais bobão e tolo, mesmo após sua versão revoltada durante a batalha contra Thanos.

Ou seja, ao mirar no futuro e mostrar o crescimento do personagem, Waititi apenas replica a energia caótica de Ragnarok como se nada além disso tivesse acontecido. E as piadas são, em sua grande maioria, péssimas, salvas apenas por uma ou outra sacada divertida.

Gorr, a entidade vilanesca, dita o tom obscuro de um filme que morre antes mesmo que possa atingir esse nível de ousadia. Sua força e seu propósito maléfico de matar todos os deuses por nunca ter sido atendido por um – assim como o peso de ser o “novo Thanos” – não casam com a palhaçada da vertente heróica do filme. Na busca por passar medo e temor, torna-se apenas uma paródia insignificante de um vilão de filme de terror trash. Desperdício total de potencial e ator.

A direção

É claro que a franquia criou raízes na comédia e é exatamente isso que a fez ter destaque, mas ter coração e criatividade é pré-requisito de qualquer gênero. Ser um filme “feito para divertir” ou “sem pretensão de ser inteligente” não é desculpa para um roteiro tão apressado, que extrapola o bom senso e acaba por não levar os personagens para lugar nenhum.

Thor não tem nenhum tipo de evolução ou mesmo parece afetado pelos traumas do passado. Parece que nada mais tem peso dentro do MCU e todas as suas produções, insistentemente interligadas, são apenas desculpas baratas para levar o público ao cinema sem entregar todo o potencial prometido. Mais uma vez, a embalagem engana.

Amor e Trovão tem inúmeras falhas narrativas, sofre com o CGI mal trabalhado (digno dos seriados da CW), ainda que entregue sequências visualmente empolgantes – especialmente em uma batalha sensacional em um planeta todo em preto e branco e na arena de Zeus (vivido por Russell Crowe).

Taika Waititi é engenhoso e visionário, é fato. Seu humor irreverente não é para todos, mas como artista que celebra e faz questão de destacar a cinematografia, entrega uma identidade visual ímpar e belíssima, carregada de cores e uma energia oitentista que sempre funciona, especialmente no mundo amplo dos super-heróis.

Dessa vez, a estética brega de bandas de rock serve de base para criar o mundo galáctico e, ao mesmo tempo, mostra a atitude rebelde do protagonista. Mas é mesmo o Amor do título que fisga, uma vez que Thor e Jane Foster se reencontram e resgatam o namoro do passado. Como uma comédia romântica da Netflix, a doçura é cafona, mas a dinâmica dos atores e a química em cena acaba sendo divertida.

E o que sobra em amor, falta em trovão. São poucos os momentos memoráveis dentro da ação. A narrativa não encontra equilíbrio e por vezes soa exageradamente cômica e forçadamente romântica, até mesmo quando tenta passar seriedade, falha na entonação, resultando em um clímax aguado em relação ao que prometia fazer, com crianças lutando como soldados ao lado do herói. Isso mesmo, crianças comuns.

Conclusão

Desequilibrado entre o romance cafona e a ação decepcionante, Thor: Amor e Trovão até diverte pelo humor nonsense, mas dá um choque nas expectativas, evidencia a péssima Fase 4 do MCU e mostra que seguir a fórmula de sucesso nem sempre funciona. Depois do ótimo frescor de Ragnarok, parece que o raio da originalidade não cai duas vezes na mesma franquia. O roteiro descompromissado, a falta de profundidade nos personagens e algumas mortes precoces transformam o épico divino em uma mera falha humana.

Irônico que, para um filme sobre o Deus do Trovão, falta energia na história. Taika Waititi usa toda a sua visão criativa para abraçar a palhaçada que o personagem se tornou nos cinemas e até entrega visuais deslumbrantes de galáxias inexploradas, mas transforma seu vilão numa ameaça que promete tudo e não entrega nada, seu protagonista num bobalhão e sua Poderosa Thor na única coisa que realmente brilha neste filme. Mais um hambúrguer requentado saindo do fast food Marvel Studios para agradar quem tem fome por histórias que nunca saem do lugar. Nem com a ajuda da Bifrost.

NOTA: 5/10

Obs: O filme possui DUAS cenas pós-créditos sendo que a primeira apresenta um novo e aguardado personagem. Saiba o que acontece clicando aqui.


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