Pico da Neblina – 2ª temporada | “Maconha já é legalizada para os brancos no Brasil”, comenta ator na coletiva da série

A aguardada 2ª temporada de Pico da Neblina estreia neste domingo, 3 de julho, em episódios semanais na plataforma de streaming HBO Max e no canal HBO. A série brasileira se passa numa São Paulo ficcional na qual o uso e o comércio de maconha foram legalizados.

Durante a primeira temporada, o público pôde acompanhar o despertar da economia pós-legalização e agora a cultura canábica começa a integrar o cotidiano dos brasileiros, apesar da resistência de alas mais conservadoras da sociedade.

Agora, no Ano 2, os desafios são maiores e mais perigosos, porque existe apenas um futuro para esta indústria. Já no primeiro episódio da série, o público entende os dilemas da temporada. Biriba (Navarro) vê todos os aspectos de sua vida dominados por CD (Dexter). O líder do tráfico tomou controle não apenas de sua família, mas também de sua loja de cannabis. Ao se ver sugado novamente para o mundo do crime, Biriba se alia a velhos conhecidos em uma tentativa arriscada de articular a queda de CD e sair desse mundo de uma vez por todas.

Luis Navarro, Henrique Santana e Daniel Furlan voltam a interpretar Biriba, Salim e Vini, respectivamente, assim como Leilah Moreno no papel de Kelly. No elenco estão ainda o rapper Dexter, Nathalia Ernesto e Bruno Giordano.

O Pipocas Club pôde participar de uma coletiva especial com o elenco e o diretor Quico Meirelles para contar os segredos dessa nova temporada. Ficou interessado? Então pega a pipoca!

Gravações no meio da pandemia

Antes de qualquer coisa, vale ressaltar que a série – assim como muitas – foi afetada pela pandemia da covid-19 e teve suas gravações bem no meio do caos. Sobre isso, Luis Navarro conta como foi: “Por conta da pandemia, nos reunimos de forma online a maior parte do tempo para criar essa 2ª temporada. Foi diferente, mas deu tudo certo”. Ainda sobre ter mais profundidade no Biriba, ele comenta: “Definitivamente. Dessa vez, estudei muito para compor o personagem, viajei para países onde a maconha é legalizada para ter a experiência na pele e entender a importância que essa planta tem para a humanidade. Esse novo ano tem muito drama e depressão, foi mais intenso”.

“Gravar na pandemia foi complexo. Os ensaios foram online, mas encontramos um caminho que funcionou. Pegamos bem o processo de quarentena e no set tivemos todo o cuidado do mundo seguindo os protocolos. Até os cigarros passados de mão em mão eram trocados pela produção entre um plano e outro para ninguém trocar fluidos.”, completou o produtor Rodrigo Pesavento.

O que podemos esperar da 2ª temporada

“A história avança, é mais densa e sombria agora, mas segue tudo que sempre amamos fazer, um drama humano que foge de estereótipos. Apesar do tema, nunca fomos uma série panfletária. O racismo estrutural e a maconha servem bem mais como plano de fundo dessa história, cujo centro são os personagens e suas vidas”, contou o diretor Quico Meirelles.

“Essa temporada foi uma verdadeira terapia para mim. Há muito choro e pude colocar toda a minha bagagem dessa vez. As emoções foram muito diferentes. É interessante interpretar alguém com depressão”, disse Henrique Santana, que interpreta Salim. “Preparem-se para chorar junto com esses personagens”, avisa.

“Tivemos um preparador de elenco para ajudar os atores a encontrar seus personagens e seus dilemas. Definitivamente esse 2º ano é sobre personas”

“Da primeira para a 2ª temporada, os personagens são amadurecidos e exploramos temas mais sombrios. No final dessa temporada, Biriba sofre uma reviravolta por conta das suas escolhas e isso nos faz pensar muito”, disse Navarro.

Mas e Daniel Furlan, o que acha desses novo capítulos? “Por eu ser da comédia, gosto de maltratar os personagens, algo bem patético. Recebi muitas mensagens de ódio na internet depois da 1ª temporada, é sério, mas agora vamos ver o Vini em dilemas desafiadores, não é só comédia”. “Vini é um personagem que dialoga muito sobre privilégios e ele vive nesse mundo de contrastes. É um bom sujeito para expor esse tipo de pessoa que todos nós conhecemos uma”, completa.

Já a maravilhosa Leilah Moreno, por sua vez, conta que tem uma marca de cosméticos veganos à base de cannabis e que isso nasceu através do estudo que ela fez para compor sua personagem na 1ª temporada. “Por ser algo sobre o mundo da maconha, muita gente me pergunta se pode assistir a série em família e eu digo que sim. É uma história sobre conflitos, não sobre drogas. É uma história humanizada e nos faz perder o preconceito sobre o assunto. Isso deveria ser falado abertamente em todos os lugares”, completa a estrela.

Sobre a produção da série, Moreno rasgou elogios a produtora:

“Aprendi muito sobre trabalhar em equipe com a O2. Pico da Neblina tem um cuidado muito grande em colocar pessoas que se identificam juntas, seja nos bastidores ou na frente das câmeras. Temos mulheres negras escrevendo os roteiros e isso é fantástico. Ver pessoas que vierem de onde a gente veio me deixou muito feliz e à vontade. Estávamos em casa, em família. Isso é muito importante”

“A segunda temporada é bem mais ambiciosa e grandiosa do que a 1ª. O roteiro é maior e melhor, a produção é mais íntima e cinematográfica. Nos bastidores, ouvimos uns aos outros e damos opinião, construímos esse mundo juntos”, finaliza Henrique Santana.

Toda boa série tem um bom vilão

Sobre o antagonista dessa trama, o elenco reflete sobre quem é o verdadeiro vilão da história: “Ah, definitivamente é o Fernão (vivido por Bruno Giordano). O CD (Dexter) é vítima de um sistema que não funciona nesse país. Mas Fernão teve todas as oportunidades e desperdiçou”, comenta Santana. “Em termos de antagonismo ao protagonista, diria que é o CD o grande vilão”, completa Meirelles.

A maconha e o país da hipocrisia

Ao ser perguntado sobre a série ser uma “utopia”, o ator Henrique Santana tocou na ferida exposta e declarou a realidade:

“A maconha já é legalizada no Brasil para a classe com maior porte financeiro, pois não vão presas e nem sofrem represarias de nenhuma forma”

Ele continua sua reflexão pontual: “O Brasil é um dos maiores mercado do mundo de exportação de maconha. Na série, o que é utópico é ver pessoas pretas terem acesso à maconha e não serem presas. Com o governo atual – especialmente o governo atual – isso é ainda pior. Mas esse ano, com as eleições, isso pode e deve mudar”.

“Homem branco que discrimina o filho por usar é o mesmo que vai ganhar dinheiro com a venda da maconha, tudo é hipocrisia nesse país.”

“Na real, pessoas brancas no Brasil tem liberação para qualquer coisa, não só maconha. Não vão presas, não sofrem. Dinheiro compra tudo por aqui”, completa Dexter.

A maconha é real?

Sobre a fantástica cenografia da série, Quico Meirelles lamenta: “Os itens canábicos são apenas adereços no set, tudo é artificial. Para tristeza de alguns e felicidade do jurídico. É tudo de mentirinha. União de plástico e papel para trazer a maior realidade possível na direção de arte. A beleza do cinema é isso”.

E o que fica de aprendizado com a 2ª temporada?

“Plante maconha!” brincou Luis. “Mas falando sério, sempre vai ter alguém querendo monopolizar algo de bem comum, que serviria para todos. Seja dinheiro, maconha ou poder social. A série toca nessas feridas e nos faz pensar muito sobre o mundo que vivemos”, finaliza.

Vale lembrar que a 2ª temporada de Pico da Neblina estreia dia 3 de julho na HBO Max.

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