Há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante… algo familiar, mas que já não funciona tão bem assim. Esta poderia ser a definição do que tem sido Star Wars sob a tutela da Disney. Quase como o parente que era próximo durante a infância, mas que os anos os afastaram e, agora, você quase não reconhece mais essa pessoa – com exceção das vezes em que ele menciona momentos marcantes do passado, ainda que nem isso faça a magia retornar. A série de Obi-Wan Kenobi cumpre exatamente os requisitos deste familiar distante, nos grandes momentos que tem e nos terríveis também.
O seriado conta a história entre os episódios 3 e 4 da saga de filmes, acompanhando Obi-Wan durante seu exílio em Tatooine. Diferente do que as pessoas haviam imaginado, o foco não fica no planeta deserto, nem na proteção do Jedi para com Luke Skywalker. Em vez disso, Obi-Wan é convocado para resgatar a Leia Organa de um sequestro, que é apenas uma armadilha para levá-lo até os Inquisidores (ex-Jedi que foram para o lado negro da Força) e, por consequência, até Darth Vader.
De cara, o melhor e pior da série já fica evidente nos primeiros dois episódios. Toda a carga dramática da trama está no protagonista, na culpa que ele carrega pelo que aconteceu com Anakin Skywalker, e nesse sentimento de que ele falhou com seu aprendiz e amigo. Além disso, a tensão que é criada entre Obi-Wan e seu velho aprendiz é excelente. Tanto na sutileza da ligação que ainda compartilham, quanto no jogo de gato e rato que acontece nos primeiros episódios. A expectativa para a revanche do século é estabelecida de forma excepcional, mesmo com os deslizes de direção que acontecem concomitantemente.
É justamente a direção anticlimática e genérica de Deborah Chow que estraga a maior parte da experiência de tudo que é apresentado. A diretora, ainda que saiba trabalhar bem closes e emoção em tela, parece se perder quando se trata de liderar os jovens talentos do elenco e quando precisa manter a tensão que já foi criada. Foram várias as vezes que os cortes de cena serviram como um gelo anticlimático, em vez de aumentar a expectativa do que aconteceria em seguida. Sempre que a escala da série parece crescer um pouco, a diretora se limita ao básico e caminhos mais simples: todas as cenas de perseguição beiram o ridículo; a utilização de cenários é terrível, quase como uma série da Record; e as cenas de batalha, ainda que tenham seus momentos memoráveis, baseiam-se apenas em vários cortes, em vez de uma coreografia caprichada.
O roteiro genérico, perdido e sem direcionamento contribui para isso. É difícil culpabilizar apenas a direção quando até mesmo a premissa da série se perde. Em vez de uma série sobre os traumas de Obi-Wan, a volta de sua crença na Força e em uma nova esperança (perdoem-me o trocadilho), depois do segundo episódio o seriado se torna apenas uma trama pessoal entre Kenobi e Darth Vader, com alguns episódios sem peso algum no meio disso. No fim das contas, a única coisa que realmente acaba importando é a luta final entre eles, que, mesmo sendo o grande momento da série, ainda recai no grande problema que Star Wars tem enfrentado nos últimos anos: a falta de criatividade.
A franquia tem passado por uma crise de identidade desde que a Disney resolveu responder aos fãs irados que odiaram Os Últimos Jedi. Ame ou odeie, aquele é, de verdade, o filme mais ousado da saga e o único que realmente levou esses filmes para uma nova direção dentro desta nova leva. Desde então, a LucasFilm decidiu que não quer mais coisas tão fora da caixinha ou que se distanciam do panteão criado por George Lucas. O problema disso está dentro de séries como Obi-Wan Kenobi: criações que dependem de um tipo de nostalgia temporária e que não trazem risco algum. Até porque todo mundo sabe o que vai acontecer depois dos eventos do seriado.
Claro, é legal demais ver Hayden Christensen e Ewan McGregor de volta a seus papéis, e Obi-Wan Kenobi aproveita bem isso em alguns momentos – ainda que fique apenas na superfície e repita momentos épicos de outras mídias. O retorno deles, especialmente no último episódio, é o suficiente para fazer com que qualquer fã de Star Wars dê aquele sorriso gigantesco e sinta que está de volta aos tempos de ouro. Mas o problema é justamente esse: a franquia deixou de ter grandes momentos e passou a depender de nostalgia e autorreferências vazias e repetitivas.
De novo, ame ou odeie Os Últimos Jedi, mas aquele filme tem uma mensagem muito importante (e que chega até mesmo a ser irônica): fala sobre deixar o passado para trás e dar espaço para o que é novo, para aquilo que vai além da nostalgia. É até mesmo trágico perceber que depois de todo o simbolismo daquela trama (com a qual tenho várias questões, deixando bem claro), a LucasFilm tenha decidido ir no caminho oposto. Chegou a hora de Star Wars evoluir e ir além dos dois sóis no fim do horizonte.
Nota: 6/10
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