Crítica | Top Gun: Maverick – Uma viagem perfeita de volta ao clássico

Cedo ou tarde todos nós seremos substituídos no que fazemos. O futuro reserva espaço para as máquinas e a extinção do trabalho humano é só uma questão de tempo. Esse viés existencialista poderia ser o enredo de qualquer filme “cabeça” de algum diretor Oscarizado, mas não, trata-se de Top Gun: Maverick e suas muitas facetas. Romance com ação, suspense com adrenalina, drama familiar e um certo grau de reflexão sobre os rumos da humanidade. Elementos esses que dão sabor ao retorno triunfal de um clássico que marcou uma geração e influenciou centenas de filmes de ação desde os anos 80. E com um adicional fundamental para o sucesso: a presença de Tom Cruise 36 anos depois de ter estrelado Top Gun – Ases Indomáveis.

Agora com o subtítulo Maverick, afinal, trata-se de um filme sobre o personagem e sua influência no mundo da aviação após ter se tornado uma verdadeira lenda viva em 1986, o longa da Paramount Pictures consegue o inesperado: ser totalmente melhor e mais envolvente que o filme original, uma vez que pega todos os elementos que funcionaram no passado e adiciona mais emoção, carisma e sensação de gravidade para construir uma zona de perigo intensa. Ou seja, forte candidato a ser O Poderoso Chefão: Parte 2 da década.

A trama e o elenco

Ao som de uma canção tema de arrepiar, feita por Lady Gaga (forte candidata ao Oscar 2023), a trama de Top Gun: Maverick evoca toda a essência dos anos 80, com nostalgia e estilo, mas adiciona também uma boa dose de contemporaneidade, especialmente na relação de Maverick (Tom Cruise brilha de carisma e arrogância) com a Marinha. Sua personalidade forte e “indomável” agora dá espaço para um homem mais cauteloso, que se deixa levar pelo coração e carrega a culpa pela morte acidental de seu parceiro Goose (Anthony Edwards). Tantos anos depois das aventuras juvenis e imprudentes, vive uma vida de solidão e isolamento, até ser convocado para retornar à Top Gun para uma missão extremamente perigosa: ser professor de uma nova geração de pilotos. E para piorar: um desses jovens é ninguém menos que o filho do seu parceiro morto, vivido por Miles Teller (Quarteto Fantástico).

Essa mistura de passar o bastão com uma espécie de redenção ao protagonista funciona que é uma beleza, especialmente pelo fato de o roteiro inteligente desenvolver uma relação bastante honesta e comovente entre Maverick e Rooster, que serve de base para o desenrolar da trama e seus ápices dramáticos. Uma relação praticamente de pai e filho, mas que foge do convencional, uma vez que o jovem não é seu filho e alimenta por ele uma raiva reprimida por conta do passado conturbado. Outra maestria está na forma como esse filme consegue dialogar com diferentes gerações, uma vez que reforma o lado sabichão do paizão da geração X – já que Maverick é inegavelmente o melhor no que faz – mas também traz um elenco jovem potente e promissor, que inclui, felizmente, uma mulher como piloto (Monica Barbaro) para afastar a sombra do machismo do filme anterior.

Fora isso, em Top Gun: Maverick há as clássicas passagens importantes para uma sequência funcionar, como a cena de abertura que possui o mesmo peso e estilo do original (com sua batida de sintetizador) e a presença de Hangman (Glen Powell), que faz o papel do galã rebelde que uma vez foi dado ao astro Val Kilmer (que, aliás, retorna para uma pequena participação especial carregada de emoção). O filme lindamente incorpora os problemas de saúde da vida real de Kilmer e cria um momento para o ator que é pungente em vez de explorador. Já a missão do grupo em si é digna de Missão: Impossível, mas serve como o clássico McGuffin de roteiro para guiar a trama para frente. Grande parte da história gira e torno do treinamento dos jovens e da preparação para se infiltrarem na zona inimiga sem que alguém saia morto no final.

Esse suspense crescente envolve, diverte e cria uma atmosfera de expectativa para o épico e bem realizado clímax, duas vezes maior e mais hipnotizante do que o ponto mais alto do filme de 1986. Claro, fruto do avanço da tecnologia em relação aos efeitos especiais limitados da época. Mas não se engane, estamos falando de Tom Cruise, ator raiz quando se fala em ação realista, e o longa opta por priorizar os efeitos práticos. É deslumbrante.

Notavelmente ausente de toda essa renovação está Kelly McGillis como o interesse amoroso do primeiro filme, que não é nem sequer mencionada dessa vez. Em vez disso, Jennifer Connelly (Hulk) assume o papel de dona de um bar em San Diego que teve um relacionamento com Maverick por décadas. Connelly traz muito para o papel e cria um interessante contraponto com o protagonista. Mais uma presença feminina que é muito bem-vinda.

A direção

E por falar na ação pirotécnica e desenfreada, as sequências de treinamento e o grande bombardeio climático mostram à que Top Gun: Maverick veio e sua real intenção além de ser uma montanha-russa divertida: as cenas de tirar o fôlego com jatos da Marinha realizando coreografias aparentemente impossíveis à medida que se aproximam e se afastam. Essas sequências dão ao diretor Joseph Kosinski (Tron O Legado) e ao diretor de fotografia Claudio Miranda seus momentos de brilho. Tudo é perfeitamente coreografado e, apesar de longo, o filme não cansa, muito pelo contrário, os momentos de ação e perseguição aérea poderiam até ser maiores.

A condução, por sua vez, possui coerência e respeita o eixo dramático, um avanço em relação ao original com suas sequências bagunçadas e confusas no céu. O som é outro grande destaque. O desenho de som, especialmente para as salas IMAX, junto com a trilha sonora, criam uma ambientação imersiva e autêntica. Com exceção de alguns artifícios fáceis de roteiro, praticamente todas as engrenagens estão em movimento.

Conclusão

Top Gun: Maverick decola com perfeição e é um triunfo entre as repaginadas de clássicos do cinema. Com muito estilo e substância desta vez, a sequência proporciona uma eletrizante e nostálgica viagem ao passado para extrair toda a essência do cinema blockbuster dos anos 80. Para os fãs, a sensação de vestir uma jaqueta de couro velha e um par de óculos de aviador se mantém mais viva do que nunca.

O feito raro de ser uma continuação maior, mais divertida e melhor que o filme original é louvável, quase que um milagre, e Tom Cruise sabe a potência que essa montanha-russa possui. Ainda que tenha um crescimento fantástico, a trama não se vende à grandiosidade e, ironicamente, mantém o pé no chão, quebra a masculinidade tóxica da época e se mostra aberto para uma renovação inteligente, inclusiva e que respeita sua essência indomável. Sem dúvida, um dos grandes filmes do ano.

NOTA: 9/10

Leia também: Crítica | Stranger Things: 4ª temporada (Parte 1) – Maior, mais sangrenta e mais TENEBROSA do que nunca


Aproveite para nos acompanhar nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e também no Google News.

Quer receber notícias direto no seu celular? Entre para o nosso grupo no WhatsApp ou no canal do Telegram.

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você vai querer ler isto: