Crítica | O Massacre da Serra Elétrica da Netflix massacra o clássico com sequência preguiçosa e irrelevante

O terror slasher sem dúvida é um dos subgêneros que mais tem sofrido com o passar do tempo, indo de impactante ao ridículo na mesma velocidade que mata suas vítimas. Quando as regras de sobrevivência e confronto se tornam os maiores clichês do cinema, não sobra muito para a obra além de tentar, ao menos, entregar alguma diversão. Algumas conseguem subverter esse destino, outras apenas navegam na maré sem intenção de se reinventar, como é o caso de O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface (Texas Chainsaw Massacre) e sua completa falta de ambição.

Se em 1974 o diretor Tobe Hooper apresentou um banho de sangue que ficaria na cabeça do público por uma geração, agora a Netflix – dona do resgate de clássicos que ninguém pediu – ressignifica a obra original, ignora todas as suas sequências e faz uma continuação direta do filme 1, porém, sem uma gota do carisma, impacto e força que a franquia um dia já teve.

Esse “retorno de Leatherface” se espelha no que a franquia Halloween anda fazendo atualmente e traz de volta alguns rostos e cenários conhecidos do passado, porém, após quase 50 anos de diferença, fazer um banho de sangue é moleza, o difícil mesmo é encontrar a relevância do vilão. E já adianto: não tem.

A trama e o elenco

Torna-se incrivelmente assustador como esse novo capítulo desperdiça todas as suas promessas com uma trama ruim, personagens irrelevantes e escolhas terríveis de roteiro. Esse bolo sem sabor é coberto por uma calda de sangue e violência que, afinal, precisa fazer jus ao “massacre” do título, mas que nada supera o nível de tensão do passado ou mesmo de seus remakes dos anos 2000.

Ou seja, ao seguir na zona de conforto e entregar o óbvio, a história ainda tenta modernizar algumas questões do passado que, de fato, hoje não fazem nenhum sentido existir (se é que um dia fizeram!) e não deixa de ser curioso ver um vilão tão… raiz e analógico, viver no digital e conectado século 21.

Na premissa, Leatherface parou de matar e vive “escondido” na cidade que nasceu – sim, ninguém ligou os pontos e descobriu quem era o assassino de 1974, ok, vamos acreditar nisso – porém, um grupo de jovens idealistas – formado por Melody (Sarah Yarkin), sua irmã adolescente Lila (Elsie Fisher) e seus amigos Dante (Jacob Latimore) e Ruth (Nell Hudson) – chega na remota cidade de Harlow (Texas) na tentativa de revitalizar o lugar e trazer mais “vida”, apagando assim a mancha de sangue do passado. No entanto, após um breve encontro com a mãe do assassino – que resulta em uma tragédia – o vilão resgata sua fúria (assim como sua motosserra) e decide provocar o caos mais uma vez. Ai de quem estiver em seu caminho, pois o massacre segue grandes proporções e, assim como Michael Myers, não há nenhuma arma de fogo que o detém.

Desse enredo cabível e até promissor – uma vez que mostra como o mal nunca deixa de ser mal – pouco se salva do seu debilitado desenvolvimento, transformando todas as boas iniciativas em algo algo absurdamente previsível, permeado por mortes péssimas (para não dizer apressadas e algumas até mesmo surreais) e uma trama sem impacto algum. Porém, nada supera o gosto amargo da participação medíocre da final girl Sally Hardesty (interpretada aqui por Olwen Fouéré devido ao falecimento da atriz original Marilyn Burns em 2014). Ela foi claramente modelada totalmente no retorno de Jamie Lee Curtis como Laurie Strode. Haja criatividade (e paciência). Ainda que isso seja uma tendência atual, copiar e colar uma personagem é um pouco demais, não acham?

É broxante ver como o roteiro não dá importância alguma ao seu retorno e a descarta – literalmente – no lixo. Essa decepção ofusca até os bons momentos da performance do elenco jovem. Sarah Yarkin (A Morte Te Dá Parabéns 2), por exemplo, é boa e entrega o mínimo, mas de nada disso importa quando todos os personagens são finos como papel e seus destinos fatídicos pouco comove o espectador, que só quer mesmo é ver o sangue jorrar.

A direção

Quem prestou atenção nos créditos de O Massacre da Serra Elétrica sabe que Fede Alvarez – que dirigiu o ótimo Evil Dead de 2013 – co-escreveu o roteiro desse. Sua simples presença já havia colocado as expectativas no topo, afinal, o cineasta possui um ótimo senso de revitalização para remakes, mesmo assim, há uma falta de consideração implacável com a obra original que, além do título e do vilão – que por sua vez está mais eloquente e com um visual menos aterrador, quase um integrante do Slipknot – nada mais remete à essência, mesmo com a presença de uma ambientação ensolarada, suja e vazia, típica desse tipo de slasher.

A cidade pequena, cercada de mistérios e pessoas suspeitas não deixa de ser envolvente e intrigante, mas, até mesmo essa atmosfera se perde ao longo do percurso, fruto de uma condução superficial de David Blue Garcia (Festival Sangrento), ainda que o diretor acerte em não perder tempo demais no desenvolvimento e partir logo para a ação e as sequências de morte. É instigante, mas faltam sutilezas.

À todo custo, o longa tenta se impor e se situar no contemporâneo, caindo em estereótipos bobos, afinal, não precisamos de transmissões ao vivo e “cultura do cancelamento” dando tapas na cara para nos lembrar que um filme está acontecendo nos dias atuais; todo mundo com iPhone é o suficiente.

Conclusão

Com maior investimento, tecnologia e um legado a ser cumprido, O Massacre da Serra Elétrica da Netflix é um equívoco preguiçoso, um total desperdício de carne fresca com algo sem ambição, que nasce do desespero de replicar a fórmula de franquias atuais. Mesmo com banho de sangue (é o mínimo né?) e a violência brutal, o roteiro raso falha em encontrar a relevância de Leatherface, que retorna infinitamente menos aterrador.

O filme simplesmente segue pelo caminho mais fácil e entrega uma continuação tão capenga e mal realizada, que nos faz desejar nunca ter assistido e ficar mesmo na imaginação do que poderia ter acontecido com esses personagens que marcaram a história do terror. Faça-me o favor, são 50 anos para fazer essa sequência direta e, no fim das contas, sai isso?

NOTA: 2/10


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