Ah o amor no século da trapaça! Podemos nos perguntar como – no auge da Era Digital – alguém ainda pode ser enganado nas redes sociais e manipulado à dar todo seu dinheiro em nome de uma relação amorosa precária. Porém, conforme a tecnologia avança desenfreadamente, igualmente acontece com as táticas cada vez mais elaboradas e extremas dos psicopatas vigaristas. E uma dessas histórias inacreditáveis é palco no documentário O Golpista do Tinder (The Tinder Swindler), da Netflix. Mas, antes de mais nada, fica o aviso de que este romance online documental está longe de ser um conto de fadas, já que o príncipe, na realidade, trata-se de um vilão mal escrito de um filme que ninguém quer lembrar.
A trama
Neste documentário tenso e angustiante, somos levados pela história de amor perfeita e trágica entre a consultora de TI de 29 anos, Cecilie Fjellhoy, e o empresário bilionário Simon Leviev. À medida que o documentário avança, descobrimos que Simon é um fraudador israelense chamado Shimon Hayut, um criminoso condenado, que seduz mulheres por meio de aplicativos de namoro e as convence de que sua vida depende da ajuda delas. O salafrário ganhou cerca de US$ 10 milhões aplicando golpes pelo mundo e, perdão o spoiler, segue sua vida impune, uma vez que a lei parece sempre privilegiar os homens brancos.
Entre viagens caras, hotéis de luxo e uma torrente de mentiras deslavadas sobre ser dono de empresas de diamantes e estar sendo “ameaçado” de morte por seus inimigos imaginários, o homem aplicava gaslighting em diferentes mulheres e as convencia de que era o mais próximo de um príncipe que elas iriam conhecer. Uma mulher fraudada servia de base para que ele pudesse atacar a próxima e assim por diante.
Dentro dessa jornada revoltante, a narrativa sabe conduzir o espectador e fisgar a atenção com suas inúmeras reviravoltas malucas, dignas de um filme hollywoodiano facilmente dirigido por alguém como Michael Bay. No entanto, por mais que essa trama real seja mirabolante, esse sujeito asqueroso provocou muito mais que alguns corações partidos por seu caminho.
O charme de Simon é evidente quando as entrevistas mostram como essas mulheres – vitimas de seus próprios sonhos e desejos – se apaixonaram por ele, além de ter toda a fortuna inclusa, como ele se comportava como um homem encantador, doce e envolvente. Ou seja, o tipo ideal para ser um serial killer.
O choque da realidade, de quem é Simon de verdade, é algo terrível de ser assistido e o documentário explora cada detalhe dos encontros e do modus operandi do falso empresário, além de mostrar um maravilhoso plano de vingança de uma de suas namoradas.
A direção de Felicity Morris (do ótimo Don’t F**k with Cats: Uma Caçada Online) é bastante precisa, imersiva e mostra uma condução sábia e íntima. Por vezes, a cineasta no coloca dentro dos encontros de forma tão realista, como se estivéssemos mesmo lá.
De maneira inteligente e perspicaz, o documentário toma um rumo dramático interessante e se torna uma história de sororidade, uma vingança feminista, onde as mulheres usadas pelo golpista ajudam os investigadores a leva-lo à justiça – ainda que a sensação de impunidade seja absurdamente claustrofóbica. Contudo, suas quase duas horas acabam por passar de forma lenta, especialmente nos primeiros 30 minutos, onde a história parece não se desenvolver. O roteiro segura tanto as reviravoltas, que as entrega tarde demais.
Conclusão
Enquanto Hollywood e a Disney vendem seus sonhos inalcançáveis, seus contos de fadas irreais, a verdade é muito mais fria e crua do que podemos imaginar. Como forma de alerta sobre os perigos da vida online, O Golpista do Tinder é uma história de crime real revoltante e que nos faz questionar o nível de confiança que dedicamos à desconhecidos.
Este documentário enfurecedor, sobre um vigarista que rouba bem mais que o coração das mulheres, usa e abusa da narrativa de mistérios e de reviravoltas assustadoras para fisgar o público da mesma forma que o golpista fisgava suas vítimas. Envolvente, real e provocante. Agora você já sabe, se encontrar um homem sedutor desses por aí, lembre-se sempre de deslizar para a esquerda.
Nota: 9/10
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