Com talento para esbanjar, Samantha Schmütz já provou anteriormente que consegue segurar sozinha uma história, mesmo que não haja um roteiro consistente. A comediante faz uma batida refrescante de seu carisma, com a fluidez de sua atuação, e entrega um suco cítrico interessante, talvez pouco original em sua essência, mas, ainda assim, divertido e que funciona de modo geral. Na comédia Tô Ryca! 2 – sequência do sucesso de 2016 – a atriz novamente cumpre o esperado e faz a trama mais do mesmo ter pontos de humor genuíno, mesmo que haja pouquíssima evolução nesses quase 6 anos de diferença entre um filme e outro.
Sem mudança no tom ou algo signicativo que justifique uma sequência plausível, o roteiro da comédia se sustenta apenas por um plot simples: agora Selminha está pobre novamente e precisa reaprender a viver como uma pessoa “normal”. A partir disso, o longa leva tempo demais para pegar no tranco, mas mostra sua real energia da metade para o final, que é quando a história, de fato, alcança o objetivo de divertir e entreter. Até lá, piadas que não decolam e exageros narrativos fazem o espectador desejar ir assistir outro filme que seja realmente rico em alguma coisa.
A trama e o elenco
Como o único grande conflito do roteiro é o fato da protagonista voltar ao seu estado de origem no filme anterior, há poucas alternativas para fazer o humor seguir vertentes criativas. Há também poucos personagens novos e a força maior – além da atuação sempre cômica de Schmütz – está mesmo em fechar algumas pontas soltas do passado e ressignificar personagens pouco utilizados antes, como o advogado da Selminha, sua melhor amiga (vivida por Katiuscia Canoro) e o noivo dela.
Dessa forma, todo o primeiro ato da trama – que explora a chegada de uma trambiqueira que rouba a fortuna da protagonista (vivida pela ótima Evelyn Castro) – é arrastado, a montagem é apressada e nada soa natural, porém, felizmente essa falta de sintonia perde força quando Selminha precisa voltar a viver no subúrbio do Rio com apenas 900 reais por mês e sem nenhum luxo. É o de sempre: colocar o pobre em uma vitrine e explorar suas peculiaridades, dores e lutas diárias, algo que os roteiristas brasileiros aparentemente se divertem fazendo. E aqui, como podemos esperar, não é diferente.
Ainda assim, com consciência e responsabilidade, até há pequenos trechos e falas que utilizam sabiamente o humor como forma de crítica social sobre assuntos importantes como desigualdade, valor baixo do salário-mínimo atual e solidariedade seletiva. Esses detalhes sem dúvida fazem a comédia ter um valor maior e não ser apenas um entretenimento vazio, como tantas outras.
No entanto, o diretor Pedro Antônio (Os Salafrários) – ótimo na construção do humor – parece estar preso no mesmíssimo filme por alguns anos e disposto apenas a cumprir a demanda por comédias unidimensionais. Sua condução é enérgica e bastante consciente de seu público-alvo, mas a falta de pensar fora da caixa tem deixado suas obras em um único tom.
Conclusão
Dessa forma, se tem algo abundante em Tô Ryca! 2, sem dúvida é o carisma de Samantha Schmütz, que ofusca as falhas de um roteiro pouco engenhoso e faz a sequência funcionar dentro de sua intenção despretensiosa, mesmo que não haja nenhuma grande evolução em relação ao filme original.
A comédia demora uma vida para pegar no tranco, mas alcança piadas já conhecidas pelo público e deve agradar quem saiu satisfeito com a história anterior. De resto, o entretenimento proporciona uma sessão leve, limitada e facilmente esquecível na prateleira de inúmeras outras histórias nesse mesmo timbre. Pelo visto, herança não compra criatividade.
NOTA: 7/10
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