O que faz de um clássico ser um clássico senão a forte influência na cultura pop? Nessa questão, remakes são perigosas ferramentas que, se não bem justificadas, acabam por fazer o mais indesejado: falhar com o legado do original. Não que a existência de uma nova versão faça a anterior desaparecer, mas é um completo desperdício quando – 24 anos depois e com todos os recursos atuais – o suspense de Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (I know What You Did Last Summer) retorna tão sem identidade como na série Original do Amazon Prime Video. Produção essa que visa trazer o contexto do filme de 1997 para os dias atuais (e acerta muito!), uma vez que corrige o senso de humor contestável da época, mas troca sua essência de horror slasher por uma trama de terror psicológico que não convence e muito menos diverte.
A trama e o elenco
Com base nos quatro primeiros episódios, Eu Sei o Que vocês fizeram No Verão Passado se aproxima um pouco mais do tom de mistério do livro original, de Lois Duncan, e apresenta sua ambientação praieira e seus novos personagens, trocando o tradicional quarteto do filme original (Jennifer Love Hewitt, Sarah Michelle Gellar, Ryan Phillippe e Freddie Prinze Jr.) por jovens adultos com dilemas contemporâneos, quase que retirados direto de alguma temporada de Euphoria.
Nesse novo universo – que ignora a existência dos filmes, ou seja, não serve de sequência – a protagonista é Madison Iseman (Annabelle 3), que vive as gêmeas Lennon e Allison, duas pessoas completamente diferentes, apesar de ironicamente compartilharem a mesma fisionomia.
Entre uma festa regada a drogas ilícitas, álcool e brigas por um mesmo homem, a dupla – juntamente com outros amigos descolados – acaba por ser envolver no famoso acidente de carro que dá origem à toda a matança desenfreada de um serial killer que “esteve presente” na cena do crime e está comprometido em não deixar os jovens esquecerem o ato cruel que cometeram no fatídico verão passado.
No entanto, essa é a energia da premissa do filme, uma vez que a única (é sério!) coisa que remete a série ao longa-metragem é o fato de alguém ser atropelado e o grupo optar por esconder o corpo, fora isso, toda a trama – que incluí a identidade de quem morto, relevada bem antes da hora – acaba por ser algo totalmente distinto.
Para a decepção dos fãs mais apaixonados, a nova premissa – bastante novelesca, com direito à troca de identidade entre irmãs gêmeas – passa longe de ter a imersão do clássico.
As deliciosas cenas de perseguição e luta pela sobrevivência no melhor estilo Pânico e Halloween são trocadas por apenas a sugestão de que alguém está à espreita. Ou seja, o lado gore, sangrento e divertido acaba por perder espaço para mortes pouco corajosas e um começo de história tedioso, salvo apenas pelo comprometimento de Iseman – que se entrega para viver uma mocinha clássica e uma vilã irritante na mesma intensidade – e pela ótima performance de Brianne Tju (Medo Profundo), destaque do elenco.
É evidente que a showrunner Sara Goodman centraliza a nova trama na relação entre as personagens, uma vez que o tempo de desenvolvimento é maior e, com isso, satisfatoriamente quebra estereótipos cansativos – como o do “melhor amigo gay” ou do “atleta valentão da escola” – e acrescenta mais representatividade, tanto racial quanto LGBTQIA+, no entanto, não há equilíbrio entre o suspense crescente e o quanto nos importamos com esse grupo de amigos, ou seja, as mortes não possuem peso algum e a narrativa, por vezes lenta e maçante, vaga por subtramas pouco atrativas e com mínimas entregas. Outra grande falha está na montagem caótica, apressada e que atrapalha o ritmo das cenas. Nada é sutil, as pistas falsas são óbvias demais e boa parte das situações em que o elenco é colocado soam forçadas.
Conclusão
Dessa forma, a ausência de uma atmosfera de suspense convincente, da sensação de perigo genuíno e de personagens com maiores conexões emocionais transforma a série de Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado em uma obra frustrantemente inferior ao filme original, uma vez que troca sua essência slasher, seus litros de sangue e reviravoltas engenhosas, por um suspense psicológico meia boca, ensopado de dramas irrelevantes e com uma trama confusa e caótica.
Apenas a premissa básica é aproveitada nessa tentativa pouco inventiva de dar uma nova roupagem ao clássico, que até funciona pela quebra de estereótipos, mas passa longe de ter a potência de perpetuar. Após esse começo enfadonho de temporada, só resta mesmo esperar que toda a promessa de diversão esteja guardada para o desfecho.
Nota: 4/10
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