Crítica | Ele é Demais – Releitura superficial de um clássico datado

Antes de mais nada, para os mais jovens, é importante saber que Ele é Demais – nova produção original da Netflix – trata-se de um remake de Ela é Demais, lançado em 1999. Filme que estabeleceu a fórmula do “patinho feio” nas comédias românticas e que inspirou diversos outros desde então. Ao replicar o icônico senso de humor dos anos 90, o longa logo encontrou seu público teen da época e seu charme estava mesmo é na simplicidade da trama.

Dessa vez, além de mudar o gênero do protagonista, a Netflix, obviamente, trouxe a premissa para os tempos atuais ao explorar a nova necessidade do mundo em ter fama online e a pressão que os jovens estão passando dentro das redes sociais. Ainda simples e direto – como uma dancinha boba do Tik Tok – a formula ingênua funciona, mas parece que a modernidade só a tornou mais fútil.

A trama e o elenco

O enredo é reconhecível e nada de novo. À medida que a trama avança, percebemos muitos temas e características tiradas de outros filmes/programas de TV de comédia romântica. O fator originalidade da versão anterior se dissipa totalmente aqui. Mas isso não é necessariamente uma coisa ruim, há conforto no familiar e esse tipo de obra precisa disso para funcionar, embora alguns assuntos sejam tratados com pressa.

O roteiro raso lança ideias demais e não consegue dar espaço e tempo para todas elas possam ser desenvolvidas. Basicamente, temos uma jovem influenciadora (vivida por Addison Rae, papel que no passado foi de Freddie Prinze Jr.) que se torna viral por todos os motivos errados, que se vingando de seu ex e que recebe patrocínio para pegar um garoto geek, nerd e antissocial (vivido por Tanner Buchanan, no lugar de Rachael Leigh Cook) e transformando-o em um rei do baile. Para isso, como podemos esperar, ela mente e o engana por benefício próprio, até que seus sentimentos começam a mudar quando um se apaixona pelo outro: o grande conflito da trama. Uau. Tamanha engenhosidade.

As atuações não são totalmente terríveis, mas grande parte do elenco não tem química, especialmente o casal protagonista. Suas cenas juntas são forçadas e sem charme algum. Falta sal, tempero e carisma na dupla e isso afasta totalmente a conexão emocional com o público. Com poucos momentos de diversão – como o clímax do baile – o humor navega entre piadas clichês – feitas da forma mais óbvia possível – e situações cômicas que exigem o humor físico do elenco.

No entanto, nas entrelinhas do roteiro, há pequenas reflexões sobre a cultura do influencer e a necessidade de estar sempre transmitindo sua vida ao vivo. O que perdemos na vida real por estarmos sempre online. A protagonista possui uma gradativa evolução em sua personalidade, ainda que tenha absorvido muito pouco pelo caminho e que culmina em um desfecho óbvio, com lapso de bondade à la Meninas Malvadas.

A direção

E essa comparação com o clássico de Lindsay Lohan é compreensível, uma vez que ambos os filmes possuem o mesmo diretor: Mark Waters. Nome forte no gênero, mas que parece estar preso 20 anos no passado. Sua condução é brega, superficial e apressada enquanto tenta replicar a vibe do filme original. Além disso, trabalha muito mal seu elenco e definitivamente não atinge o potencial de suas obras mais famosas. Na linguagem mais atual: seu trabalho é cringe. Um tiozão que se esforça para replicar o mundo moderno pela ótima de um recorte completamente estereotipado.

Conclusão

Ainda que seja da classe de filmes para assistir sem mergulhar intensamente, Ele é Demais desperdiça a premissa que marcou o gênero e torna-se uma releitura superficial, rasa, estereotipada e que apenas prova que algumas histórias só funcionam uma vez. O charme da comédia romântica original dá lugar à uma premissa sem coração, sem química e fabricado sob medida para a geração A Barraca do Beijo. É atual? Sim, mas sua capacidade de permanecer em nossa mente e na cultura pop – como o original – tem a durabilidade de um simples story.

Nota: 2/10

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