Desde que foi anunciado em 2018, Shang-Chi se tornou um grande coadjuvante de luxo no calendário de lançamentos da Marvel. Em um ano como 2021, isso poderia ser ainda mais verdade. No Disney+, o Marvel Studios apostou em suas primeiras séries e explorou tramas fundamentais para o futuro do multiverso. Enquanto isso, nas telonas, Viúva Negra foi o grande destaque até agora, mas Os Eternos e Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa são os carros-chefe do estúdio. Até mesmo o CEO da Disney, Bob Chapek, disse que Shang-Chi e a Lenda dos Dez Aneis serve como um experimento para o retorno aos cinemas – o que não foi bem recebido pela equipe que produz o filme. Em meio a tudo isso, o longa que traz o primeiro asiático como protagonista de um filme da Marvel apresenta uma das melhores histórias de origem do universo cinematográfico.
Seguindo um modelo parecido com Senhor dos Anéis – a coincidência dos nomes não é intencional -, contextualizando toda a mitologia por meio de uma narração externa e que consegue rapidamente te inserir na história, Shang-Chi sabe muito bem como contar a origem do protagonista sem repetir a fórmula dos primeiros filmes do estúdio. Com um passado sombrio, o personagem que dá nome ao filme é treinado pelo pai em artes marciais, a fim de se tornar um assassino completo. Ele tenta fugir disso, mas precisa voltar a enfrentar o império dos Dez Anéis quando o lar da sua mãe é ameaçado.
A trama por si só, envolvendo muito mais uma questão familiar e de ancestralidade, é bem diferente do restante dos filmes da Marvel. O diretor Destin Daniel Cretton sabe pegar o melhor dos filmes de origem que vieram antes, apostando em flashbacks e em uma trama movida por meio de uma dívida de sangue familiar. Simu Liu, que vive Shang-Chi, além de servir de inspiração para vários jovens asiáticos que nunca se viram devidamente representados nas telonas da Marvel, também cria laços com qualquer filho de um pai ou mãe rigorosos demais. Se tem uma coisa que o Marvel Studios quase sempre acerta é na escolha dos seus atores e Simu Liu é mais um desses casos – ele claramente parece bem confortável no papel, como se fizesse isso há bastante tempo.
As cenas de ação são um show à parte. Remetendo sutilmente às coreografias bem ensaiadas da série de filmes O Grande Mestre, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis tem seus melhores momentos de ação quando opta por trabalhar com a sutileza e beleza das artes marciais. Às vezes, os embates lembram danças compassadas, exprimindo por completo o significado da palavra arte. Destin Daniel Cretton também faz um bom trabalho com lutas mais elaboradas e com mais velocidade. O primeiro combate do filme, que se passa dentro de um ônibus, é uma das cenas mais legais e bem filmadas de um longa da Marvel. Dá para perceber claramente uma referência à direção de Sam Raimi, lembrando a cena de luta do Homem-Aranha contra o Doutor Octopus no trem, no segundo filme da trilogia do herói.
Assim como em Homem-Aranha 2, Shang-Chi também apresenta um vilão interessante – não no mesmo nível, aí já seria pedir demais. O pai do protagonista, o verdadeiro Mandarim do Universo Marvel, é um homem com motivações razoáveis e as soluções visuais para seus poderes com os Anéis são bem interessantes. Este novo Mandarim também resulta em referências bem interessantes a outros filmes da Marvel – e até mesmo a um personagem que aparece em boa parte do filme, servindo como ótimo alívio cômico.
Também é interessante como Shang-Chi consegue equilibrar o lado urbano dos heróis da Marvel com todo um universo mais místico. Diferentemente de longas como Doutor Estranho, que se confunde nessa missão, Shang-Chi é muito mais bem-sucedido nesse sentido, sem nunca deixar o espectador perdido. O misticismo do filme, depois de contextualizado no começo, parece algo completamente natural e permite que a história viaje e alcance outros patamares, lembrando às vezes até mesmo um anime ou as animações do Studio Ghibli.
O grande problema do filme está no seu último ato, que é uma confusão visual e exagerada. Toda a última batalha lembra muito toda a parte ruim do confronto final do primeiro Mulher-Maravilha, em que não dá para enxergar absolutamente nada a não ser raios de cores diferentes. O último confronto lembra bastante uma cena de Dragon Ball que não foi bem filmada e todas as maravilhosas ideias fora da caixinha, e que apresentam o tal do misticismo dentro do Universo Marvel, são mal executadas nesse trecho.
No fim das contas, engraçado na medida certa, trazendo boas referências e uma ótima trilha sonora, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis é uma das melhores histórias de origem do Universo Marvel, lembrando em alguns momentos a animação Homem-Aranha no Aranhaverso. O filme apresenta um protagonista carismático, um Mandarim à altura dos quadrinhos e introduz um mundo místico recheado de possibilidades. Infelizmente, as memoráveis cenas de ação do filme desandam no último ato, que é uma confusão completa. Mesmo assim, Shang-Chi chegou ao Universo Marvel e o futuro parece brilhante.
Nota: 8/10
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