Proporcional à escala crescente do visual estonteante, está a queda pelo interesse da trama embolada e complexa de Caminhos da Memória (Reminiscence), nova superprodução da Warner Bros. que até apresenta um interessante mundo distópico e uma jornada pelos misteriosos labirintos da mente humana, mas falha no mais simples e óbvio: contar uma história envolvente.
Ao sofrer da mesma síndrome dos filmes pseudo-cults da escolinha de Chistopher Nolan, a diretora Lisa Joy (uma das criadas da série Westworld que, aliás, certamente serviu de inspiração aqui), mergulha na pretensão de criar algo que desafia o espectador médio, mas se esquece de trabalhar os princípios básicos de como contar uma narrativa sedutora.
A trama e o elenco
Sendo uma mistura intrigante de sci-fi com suspense noir, a trama acompanha a jornada de um investigador particular da mente (vivido por Hugh Jackman), que navega pelo mundo obscuro do passado para ajudar seus clientes a acessar memórias perdidas. Em um futuro distópico – em que Miami está quase que completamente submersa pelo oceano – ele atende uma nova cliente, que se torna sua obsessão particular, e o leva para uma inesperada aventura perigosa.
Desse enredo intricado, o roteiro extrai o máximo possível de seu potencial visual e desenvolve uma ambientação bastante imersiva e singular, infelizmente, afetada pela falta de entusiasmo da produção de fazer o mesmo com o desenrolar da trama, que se torna cada vez mais maçante e tediosa conforme a jornada do protagonista se acentua.
Ao mesclar elementos clássicos da ficção científica e de filmes cultuados como Blade Runner, Chinatown, Interestelar, A Origem e até mesmo Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, a trama de Caminhos da Memória segue presa demais às regras já estabelecidas por esses clássicos do gênero e perde o fôlego quando busca construir seus próprios caminhos, mesmo com o carisma habitual de Hugh Jackman (O Rei do Show), que entrega um personagem cativante, porém, engessado e preso às amarras do roteiro raso.
Até mesmo a talentosa Rebecca Ferguson (Doutor Sono) é apagada por um texto robótico e mal construído, isso para não mencionar como Thandie Newton (Westworld) tem suas habilidades dramáticas desperdiçadas. Por vezes, o filme mais se assemelha à um spin-off desanimado de Westworld do que qualquer outra coisa. Nenhuma das personagens são apegáveis ou bem construídas o suficiente para que possamos nos importar com seus conflitos individuais.
A direção
Definitivamente é um começo triste para Lisa Joy – mente brilhante por trás de várias produções da TV – na cadeira de direção. A condução da cineasta oscila entre criar um drama policial intrigante e uma ficção científica plausível. É arrastada, confusa e repleta de inconsistências. Ainda que faça planos mais elaborados e enquadramentos de encher os olhos, essas qualidades se perdem aos poucos no meio de uma narrativa tão caótica e superficial, que culmina em inúmeras reviravoltas bobas e um desfecho vergonhoso de tão amargo e clichê.
O romance da trama – presente desde o começo – atrapalha o drama e ofusca totalmente qualquer tentativa de criar suspense. Por outro lado, tanto a trilha sonora quanto a direção de fotografia são épicas e atmosféricas. O trabalho técnico quase – eu disse quase – encobre as falhas do enredo.
Conclusão
Apesar de sua imersiva atmosfera visual, os conceitos promissores de Caminhos da Memória são desperdiçados por um enredo maçante, pouco inspirado e plenamente tedioso, alimentado por atuações rasas de um elenco de primeira e uma direção igualmente imperfeita. Um filme que nos faz questionar onde estão os bons filmes e que deve entrar para o seleto hall das priores obras do ano até agora. Felizmente, sua trama labiríntica se esvaece de nossa memória após a sessão, senão os danos poderiam ter sido piores. Como repete uma das personagens: “não existe isso de final feliz, todos os finais são tristes…” e nesse caso, põe tristeza nesse excesso de ambição.
Nota: 4/10
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