Em uma literal jornada de amadurecimento e autoconhecimento, o roteiro simples, porém eficiente de Diários de Intercâmbio – nova comédia nacional distribuída pela Netflix – explora as peripécias de viajar para fora do país e conhecer novas culturas, enquanto mostra a transição de uma jovem para a vida adulta e cheia de responsabilidades.
Sem grandes feitos narrativos ou pretensões exorbitantes de ser o que não é capaz de ser, o filme acaba sendo bem-sucedido no mais importante: o senso de humor. Já Larissa Manoela (Modo Avião) – estrela teen em ascensão – surpreende ao entregar sua performance mais natural e madura até aqui. Ou seja, a receita está correta, agora só resta a direção contornar as carências. Algo que acontece em partes.
A trama e o elenco
Não há nada de fora do habitual no enredo de Diários de Intercâmbio, rodado no Brasil e nos EUA e, ao mesmo tempo que decepciona por se manter na zona de conforto das comédias românticas nacionais mergulhadas em previsibilidades, após algum período imerso no mundinho sonhador da protagonista – que idealiza viver uma vida feliz fora do Brasil e explorar um lugar maior do que o seu próprio quarto bagunçado – é perceptível que o roteiro (escrito por Sylvio Gonçalves) definitivamente não gasta suas energias na tentativa de surpreender ou mesmo inventar a roda, mas sim, proporcionar uma aventura divertida dentro do material ingênuo que possui. E isso dá certo.
O humor é atual, simples e eficiente em provocar reflexões – ainda que rasas (e tá tudo bem!) – sobre a relação do Brasil com os Estados Unidos e todas as questões sobre consumismo, patriotismo e diferenças culturais que tanto permeiam a internet nos dias de hoje. Tudo isso com pitadas de romance adolescente leve e descontraído.
Enquanto persegue seu desejo de sair e viver uma vida com propósito, Barbara (Larissa Manoela) acaba por levar junto para uma temporada de intercâmbio nos EUA sua melhor amiga Talia (vivida pela excelente Thati Lopes, que rouba a cena).
A química entre as duas atrizes é ótima e, sem dúvida, o humor ágil e natural de Lopes completa as lacunas de onde Manoela não consegue alcançar, porém, isso não significa que a ex-estrela de Carrossel não está bem no papel. É visível que houve uma evolução de seu último trabalho – o sem ânimo Modo Avião, também da Netflix – para esse. Aqui, ela está com mais fluidez, tanto na comédia quanto no drama, e entrega uma personagem bastante interessante em relação ao que estava acostumada a fazer.
Já as piadas, bobinhas e exageradas, funcionam melhor quando são extraídas da falta de experiência da personagem de Lopes no idioma inglês. No geral, a comédia gerada por situações rotineiras e cômicas dessa colisão de países diverte e distrai na maior parte do tempo.
A direção
Outro bom destaque – além da direção de fotografia caprichada, que dá ao longa bastante sofisticação para uma comédia tão simplista – está na condução enérgica do John Hughes brasileiro Bruno Garotti (Ricos de Amor, Cinderela Pop), cineasta que trabalha muito bem com histórias teen e comédias “coming of age”.
Ainda que a trama tenha uma progressão apressada e os conflitos sejam resolvidos de forma arrastada para gerar mal-entendidos que, por sua vez, servem para gerar ainda mais humor, as personagens felizmente são bem desenvolvidas e as atrizes, bem dirigidas, especialmente quando dividem cena.
Por outro lado, a trilha sonora é um dos pontos mais fracos – tanto as canções da própria Manoela quanto as demais. Para um filme cuja premissa mostra em seu ímpeto como o Brasil guarda valores singulares, que não encontramos em países estrangeiros, faltou mais sabor na escolha das canções e na emoção que elas provocam. Ainda assim, por não fugir de mostrar todas as divergências de sair de casa e dar a cara à tapa no mundo lá fora, a trama ganha pontos extras, principalmente por – sabiamente – não glamorizar tanto assim o “sonho americano”.
Conclusão
Assumidamente uma comédia leve e descontraída sobre autoconhecimento, Diários de Intercâmbio conta com a atuação mais natural e madura de Larissa Manoela até aqui e entrega bons momentos de humor e romance teen. No entanto, as previsibilidades da trama e um plot twist bastante insosso podem encaixar o longa na tediosa caixinha de ser mais do mesmo, mesmo que esse – pelo menos – ainda possua algo de relevante à dizer. Para os fãs da jovem estrela em ascensão, o filme deve satisfazer, e para quem busca distração com pitadas de reflexões ingênuas, é uma ótima escolha do que assistir na Netflix.
Nota: 7/10
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