Com o claro intuito de ser atmosférico, Beckett – novo filme original da Netflix – nos leva para uma viagem intensa pelo interior da Grécia e reforça uma ambientação por vezes sinistra, porém, o orçamento limitado e o roteiro superficial não o permite ir muito além do habitual thriller que acredita estar sendo original quando, na realidade, está submergido nos velhos clichês dos clássicos cafonas dos anos 70, que tanto moldaram a forma como o gênero progride e que, nos dias de hoje, são apenas relíquias para serem vista em museus. Nesse caso, condizente com a Netflix, que cada vez mais tem se tornado uma espécie de zona de descarte de filmes ruins e medianos no streaming.
A trama e o elenco
Estrelado pelo ótimo John David Washington (Tenet), que dá vida ao personagem-título, a trama acompanha o protagonista por uma viagem de férias pelo interior do Mediterrâneo com April (Alicia Vikander, de Tomb Raider). Depois de um divertido dia tirando fotos da paisagem histórica, eles tentam uma longa viagem de volta à noite. Infelizmente, Beckett não percebe que adormeceu ao volante. Quando acorda, descobre que eles haviam sofrido um tenso acidente e April está desaparecida. Ele retorna à cena do acidente, se torna o alvo de uma perseguição e corre contra o tempo para chegar à Embaixada dos Estados Unidos.
Dessa premissa de suspense, o enredo extrai o máximo possível das relações humanas em situações caóticas e até trabalha bem a construção das personagens e seus conflitos pessoais, porém, a falta de ousadia da história pesa gradativamente conforme a trama não avança no ritmo que deveria avançar para um filme desse estilo. As reviravoltas são mornas e pouco surpreendentes diante da preparação que o roteiro faz para elas, sem contar a abordagem simples do filme – grande parte dos conflitos são rasos e sem consequências para a jornada, uma vez que o protagonista é blindado dos perigos. Washington, com seu olhar penetrante, conquista nosso interesse com facilidade, mesmo que haja pouco esforço pelo caminho. Fora ele, ninguém do elenco se salva.
A direção
O cineasta italiano Ferdinando Filomarino, por sua vez, mostra que sabe segurar a tensão pelo máximo de tempo possível e entrega para o protagonista bons momentos de solidão e isolamento que servem para que possamos criar uma conexão forte com o personagem, mas não o suficiente para fazer o mundo à sua volta ser atraente.
O roteiro se mostra limitado em todas as alternativas que escolhe seguir. A intensidade do mistério de Beckett desacelera à medida que começa a tomar decisões clichês e, francamente, estúpidas. Isso vai na contramão que o filme tentou estabelecer na primeira metade e mostra o esgotamento da direção dentro de sua própria narrativa.
O vilão burocrático é óbvio demais – ainda que seja uma visível homenagem ao seres vilanescos cafonas de franquias de espionagem como 007 e Missão: Impossível. Com exceção da agitação política que serve de pano de fundo pra história central, com protestos violentos que funcionam como reflexões palpáveis, pouca coisa realmente funciona e dá sabor à trama requentada.
Conclusão
Dessa forma, em Beckett, apesar do desempenho do talentoso John David Washington, o produto final é um thriller cafona, desinteressante e facilmente descartável. O roteiro requentado se mostra exaustivo e desgastado para um filme de ação que tenta replicar a sensação de imediatismo de franquias clássicas do cinema. Ainda que tenha uma ótima premissa, o longa carece de elementos fundamentais para chegar ao seu ponto de ebulição e se torna mais um descarte na extensa prateleira de filmes mornos da Netflix.
Nota: 5/10
Gostou dessa notícia? Acompanhe sempre o site do Pipocas Club para não perder nenhuma novidade sobre filmes e séries. Aproveite para nos acompanhar nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e também no Google News.
Quer receber notícias direto no seu celular? Entre para o nosso canal no Telegram.