Muito se discute sobre se a Netflix salvou as comédias românticas da extinção ao presentear seus assinantes com histórias teen superficiais e feitas apenas com o intuito de divertir. Mas será mesmo que o serviço de streaming salvou ou, na realidade, ressignificou o gênero? Um fato é certo: as comédias românticas perderam força nos cinemas e se mostraram mais eficazes online, especialmente pelo toque contemporâneo e atualizado de algumas franquias destemidas em, por exemplo, lidar com temas LGBTQIA+ e com uma geração de jovens adultos moldados pela internet. Mas e quando essas histórias caem na maldição das sequências desenfreadas? O quão original é replicar a fórmula uma, duas, três vezes seguidas sem que a trilogia – que tanto necessita agregar novidade na empreitada – tenha alguma evolução, seja em conteúdo ou na maturidade de como lidar com o conturbado período de transição para vida adulta de personagens tão infantilizados? Nesse quesito – e certamente o mais importante – A Barraca do Beijo 3 (The Kissing Booth 3), aguardado (para alguns!) desfecho da saga da Netflix, infelizmente proporciona mais um enorme emaranhado de vazio, caramelizado com uma conclusão apressada e preguiçosa para a franquia que não deveria ter passado da barraca original.
A trama e o elenco
A última parte dessa história boba que começou lá em 2018, também baseada no best-seller da autora Beth Reekles, segue os dilemas do trio de protagonistas que, dessa vez, decidem viver uma última aventura de verão antes de cada um seguir seu rumo para a universidade e, com isso, para as responsabilidades da vida adulta. Elle (vivida pela Joey King) sabe que vai ficar ainda mais afastada de seu melhor amigo Lee (Joel Courtney) e organiza uma lista de afazeres divertidos para que ambos possam passar o máximo do tempo juntos na casa de veraneio da família, porém, uma nova aventura obviamente agrega novos conflitos com seu namorado Noah (Jacob Elordi) e a sua típica crise de ciúmes e descontrole emocional que tanto marcou esse casal sem química.
E sem agregar muita novidade ao desfecho já previsto, A Barraca do Beijo 3 afunda no mesmo imediatismo exacerbado que a sequência de Para Todos os Garotos Que Já Amei, que tenta colocar mil enredos dentro de apenas uma história e, com isso, atira para todos os lados mas não acerta nenhum alvo com exatidão. Com muito exagero, há tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo dentro dessa franquia, que é difícil focar a atenção na jornada de autodescoberta da protagonista, algo que deveria ser a linha central da última aventura. Em seu ato final, Elle bate o martelo como imatura, rasa e submissa ao idealismo dos homens que dominam seu mundinho tolo e cercado de privilégios.
Joey King (indicada ao Emmy entre um filme e outro) tem carisma de sobra e entrega uma atuação condizente com a inocência da protagonista. Ela é boa atriz, mas segue presa à um texto que a limita profundamente. Courtney tem uma atuação tão água com açúcar, que passa despercebido. Já Elordi, por sua vez – desanimadíssimo no filme anterior – felizmente ganha mais gás aqui, ainda que não seja o suficiente para esquentar o clima de “boy lixo” que seu personagem carrega. Todos os coadjuvantes são requentados do que já vimos antes e não há nenhuma importante progressão ou mesmo consequência em suas jornadas individuais. Como último capítulo, isso é realmente triste para um roteiro.
A direção
Pela terceira (e por sorte última) vez, a “trama” – se é que há alguma – segue uma correria cansativa, intensificada por uma direção apressada, incoerente e afobada Vince Marcello, que nunca compreende que menos, às vezes, é mais. Ainda que o roteiro da trilogia tenha nuances de aprendizados adolescentes, o que faz a obra não ser um descarte absoluto, sua realização na prática destoa do nível de maturidade que finge seguir.
Os conflitos são resolvidos com facilidade em poucas cenas, a comédia é escrachada e o humor, completamente infantilizado, assim como a narrativa enérgica e a montagem paranoica com cortes excessivos e exagerados. A Barraca do Beijo 3 parece uma novela mexicana teen dos anos 1990 de tão boba que é sua construção dramática e tão infantil que são seus personagens. Não há enredo, apenas um amontoado de cenas picotadas que se encaixam com o intuito de provocar ânimo no público mais jovem.
Todo o drama gerado por crises de ciúmes dos casais, sendo que o roteiro finge ter alguma inteligência quando, na verdade, está mesmo é nadando – sem colete salva-vidas – no mar da previsibilidade, soa um tanto quanto desconexo do que a premissa deveria se tratar, uma vez que esse filme tem a função simples de elevar o nível de drama – por se tratar de um final – e dar um adeus adequado.
Os clichês de filmes adolescentes, que tanto pesam em outras obras, acabam nem se sobressaindo aqui, já que há problemas maiores e mais urgentes, como a falta de maestria do diretor em construir relações palpáveis e trabalhar a difícil química entre todos os chatos e aborrecidos personagens.
No entanto, talvez o único ponto de qualidade dessa vez seja em assumir o tom infantil da franquia e abraçar a galhofada de uma vez por todas durante a jornada de Elle e Lee para zerar a tal lista de coisas idiotas para se fazer antes de ser adulto e perceber o quão tempo perdido algumas coisas são.
Conclusão
Dessa forma, A Barraca do Beijo 3 conclui a trilogia mais patética e sem ânimo da Netflix com uma enorme festa infantil que – preguiçosamente – repete a fórmula dos filmes anteriores e não demonstra adquirir nenhuma maturidade pelo caminho com seu humor enfadonho e personagens absurdamente estúpidos.
Na tentativa de dar um desfecho satisfatório para os coitados que investiram tempo de vida nessa rasa trama de amadurecimento, o roteiro tenta abraçar tanta coisa que, no fim, não desenvolve bem nenhuma delas e a direção parece correr uma maratona para explorar essas histórias. É puro desperdício de energia e oportunidade de fazer a aventura de Elle, Lee e Noah – que já não é lá grandes coisas – evoluir e se aperfeiçoar para ser, de fato, uma comédia teen de qualidade. O resultado é uma novela adolescente sem alma, que deseja ser uma obra contemporânea, mas que se perde em sua própria ambição e falta de amadurecimento. Felizmente, a tortura acabou e agora podemos seguir em frente.
Nota: 4/10
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