Com a franquia Piratas do Caribe engavetada pelo estúdio por conta das polêmicas de Johnny Depp, a Disney parece ter encontrado seu novo brinquedinho: Jungle Cruise, longa-metragem inspirado em uma das mais famosas atrações do parque temático do Mickey, que ganha vida em uma aventura live-action – no melhor estilo Indiana Jones – por uma Amazônia estereotipada até sua essência.
Quer dizer, obviamente fazer um filme sobre uma viagem por uma floresta com a fauna e flora tão singulares quanto a brasileira certamente faz a mente de qualquer roteirista hollywoodiano surtar com as inúmeras possibilidades de criar ação, porém, o problema está mesmo na falta de pesquisa, que faz mesclar diferentes culturas, hábitos de povos nativos e a visão clichê de uma América Latina mágica e jogar tudo isso em apenas um longo filme de mais de duas horas de duração cuja premissa necessita encontrar saída atrás de saída para não perder o fôlego por ser tão rasa. Junta essa proposta com dois dos mais carismáticos astros do cinema atual e o resultado é mais um megalomaníaco caça-níquel com gostinho de franquia.
A trama e o elenco
Evidentemente, tendo como base o período das Grandes Navegações e da colonização de terras da américa-latina – especialmente o Brasil – o enredo de Jungle Cruise pega onda nessa vibe de “ingleses exploradores” e coloca sua protagonista Lily (Emily Blunt está absolutamente cômica) rumo à uma viagem pela floresta amazônica em busca de encontrar um tesouro a muito tempo perdido. Com a ajuda de seu irmão (vivido por Jack Whitehall) e do canastrão Frank (Dwayne Johnson que interpreta a si mesmo pela milésima vez), a jornada cercada de perigos e descobertas acaba por revelar o lado mais místico e amaldiçoado do local.
Com pitadas de humor sarcástico no melhor estilo da outra franquia de piratas e com nuances de romance, a trama se desdobra em boas e elaboradas cenas de ação, mas perde seu ritmo entre uma e outra. Ainda que divertidos – e vale ressaltar a ótima química entre Blunt e The Rock, uma dupla realmente para vender rios de ingressos – os personagens são rasos, pouco explorados e só vemos um pequeno recorte de suas vidas. Nada que nos faça querer saber mais sobre eles em futuros próximos filmes, por exemplo.
O desenrolar da trama é cheio de agitação e reviravoltas que servem para colocar os protagonistas em situações de perigo que, convenhamos, não passa perigo algum – afinal, é um filme da Disney. Mas é divertido assistir o roteiro se desdobrar para gerar tensões exageradas e um clímax após o outro. E como os vilões são mortos-vivos amaldiçoados (sim, mais uma semelhança com os piratas famosos), a fantasia assume o controle e a interação é até boa tendo em vista que existem vários personagens vilanescos no filme: Jesse Plemons vive um alemão surtado e com mania de grandeza, Paul Giamatti é o rico branco que explora os nativos e, por fim, Édgar Ramírez dá vida à sinistra entidade principal que quer o tesouro para se ver livre da maldição que o prende à floresta. É gente demais para pouco espaço em cena e boa parte desses personagens são facilmente descartáveis sem causar alteração no rumo da história.
A direção
Ainda que a intenção seja boa (ou seja mesmo parte da visão estrangeira romantizada sobre o que foi o genocídio indígena na América do Sul), o roteiro de Jungle Cruise tenta fazer algumas críticas leves sobre a imagem do “homem branco colonizador”, mas nunca sai da superfície, semelhante ao fato de colocar um personagem LGBTQIA+ e não dizer – com todas as palavras – que ele é gay, mas sim, deixar o momento como uma mensagem subliminar apenas para os adultos. Falta coragem, não só no filme em si, como também na Disney, que tanto se gaba de ser diversificada e inclusiva. A trilha sonora, por sua vez, está épica e lembra os grandes blockbusters de aventura dos anos 80/90, assim como a fotografia solar e cores vivas. Visualmente, o longa é estonteante. Até o CGI dos animais cumpre o esperado.
O diretor Jaume Collet-Serra (A Órfã) explora todos os detalhes e objetos de cena dos ambientes para desenvolver as cenas de ação mirabolantes, mas seu ritmo é tão apressado, que em alguns momentos é difícil enxergar o que está acontecendo. Ainda assim, a condução enérgica e caótica é o menor dos problemas aqui, já que essa velocidade dá a tal da sensação de estar, de fato, em um parque temático. O dedo mágico da Disney é que pesa e, por vezes, é difícil aceitar que aquele universo místico tenha alguma coerência. Nesse caso, a fantasia e o mundo palpável se misturam de uma forma que nada soa convincente. E isso atrapalha a imersão, mesmo com as explicações cínicas que o roteiro dá aos eventos sobrenaturais.
Conclusão
Como bom escapismo feito pelo olhar adocicado da Disney, Jungle Cruise funciona no humor e na escolha do elenco fantástico, mas o passeio por uma Amazônia idealizada – e por vezes ofensiva – apenas navega pelas águas agitadas de um típico e superficial filme caça-níquel feito para replicar o desejado glamour dos parques da Disney. A aventura reproduz a sensação de estar em uma atração desenfreada e, como tal, certamente vai divertir… até começar a provocar náuseas!
Nota: 6/10
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