Crítica | A Última Carta de Amor – Um típico e previsível filme de romance

Os fãs de romances de época – no melhor estilo Jane Austen – sem dúvida abraçarão A Última Carta de Amor (The Last Letter from Your Lover), novo original da Netflix que, de fato, está visualmente espetacular, crédito para a direção de arte e figurino, especialmente por ser uma obra que se ambienta no estiloso e sóbrio anos 1960. As lindas paisagens oceânicas e o charme do elenco dão à trama aquele bom e velho gostinho do amor de outras épocas, da sensação de se apaixonar em um mundo onde a facilidade da internet não é vantagem na troca de flertes. Então, por qual razão não gostar da nova aposta da plataforma de streaming se todos os elementos do gênero estão presentes?

Aos olhos, o filme é como um bom café da tarde ao pôr-do-sol, mas, como a maioria dos filmes que se dedicam a várias histórias lineares, o problema é que a estética atua como uma cortina de fumaça, encobrindo recompensas e interação de personagens que não são necessariamente conquistadas por um roteiro miseravelmente fraco.

A trama e o elenco

O enredo extrai até a última gota possível do romantismo forçado pela ambientação ao acompanhar duas histórias paralelas, ambientadas em décadas diferentes, que se conectam de forma bem inusitada.

Na trama, Jennifer Stirling (vivida pela excelente Shailene Woodley) é uma doce e humilde dona de casa dos anos 60 que vive uma vida de luxo com seu gato folgado e o marido capitão da indústria, Laurence (Joe Alwyn). Sua vida se torna o assunto de uma história, quase 50 anos depois, quando uma repórter, Ellie (Felicity Jones), descobre uma pilha de cartas clandestinas escritas por Jennifer – enquanto ela mesma vive seu conturbado começo de um amor. O intrigante é que elas não foram escritas para seu marido. Na realidade, a jovem se correspondia com Anthony O’Hare (Callum Turner), um jornalista financeiro designado para cobrir o marido da Sra. Stirling. Jen está cansada da ausência do marido em sua vida (que resultou em ela não ter filhos) ou, em geral, da maneira como ele rejeita seus pensamentos e sentimentos apenas por ser uma “dona de casa que não conhece o seu lugar”. Anthony se conecta com ela em um nível intelectual e a trata como uma igual, não como uma subordinada. E, como podemos esperar, logo essa relação de “amor proibido” apimenta a vida de ambos.

Vale lembrar que A Última Carta de Amor trata-se de uma adaptação do best-seller homônimo escrito por Jojo Moyes (autora de Como Eu Era Antes de Você), lançado em 2008 e meramente inspirado em uma história verídica. Porém, certamente por ter mais espaço, o livro se aprofunda em temas que o roteiro apenas aborda superficialmente.

Os roteiristas nunca vão além do óbvio e esperado para esse tipo de narrativa. Por exemplo, os dois amantes de Stirling são de uma nota só e não têm nenhuma qualidade tridimensional. O roteiro nunca se aproxima de um significado mais profundo da opressão de uma dona de casa nos anos 1960, apesar de flertar com isso o tempo todo. Fora o pano que passa para O’Hare, visto como um homem “melhor” por fazer o mínimo (mesmo tendo histórico de adultério?). Essas situações nunca são claras.

É um romance com uma conexão emocional rasa que, na adaptação para o cinema, francamente não foi conquistada como se deveria. Com exceção do talento e carisma de Shailene Woodley (Big Little Lies) e da performance divertida de Felicity Jones (Rogue One) ao viver uma personagem charmosa e teimosa, o restante do elenco entrega apenas o necessário, sem nuances destacáveis. Também falta química nesse tempero adocicado demais.

A direção

A condução de Augustine Frizell (Never Goin’ Back) é melosa, mas coerente com a premissa, ainda que tenha alguns visíveis problemas de ritmo pelo caminho. A cineasta sabe dosar o humor com o drama e mostra habilidade em difíceis cenas de diálogos, mas perde pontos por não conseguir manter a conexão das personagens em alta. Uma vez que se perde o interesse, dificilmente ele irá retornar.

A trilha sonora, por sua vez, também faz pouco esforço para criar o clima essencial e não aproveita sua ambientação. A atmosfera é bastante fraca e a imersão custa a acontecer. Toda iniciativa de sair da caixinha é primitiva e a direção desperdiça pontos interessantes, que reforçariam a emoção das cenas finais sem que houvesse o desespero por fazer chorar a qualquer custo.

Conclusão

Dessa forma, A Última Carta de Amor é muito mais pitoresco do que original em sua essência, um típico e previsível filme de romance que não avança, não marca e serve apenas de conforto aos amantes do amor idealizado de outras épocas. A história de paixão que atravessa gerações é, de longe, maior do que o próprio filme em si e esse problema é culpa de uma adaptação precária, mediana e que bebe da fonte de diversos outros dramas similares para replicar a fórmula mágica do sucesso sem fazer esforço.

A impressão é de que o longa não deseja esculpir sua própria identidade ou subverter qualquer expectativa, já que a intenção é – unicamente – satisfazer o público-alvo. Falta coragem de tocar em feridas e dramas mais densos e sobra mesmo é uma sopinha rala, com gosto de comida de hospital que mata a fome, mas é esquecível na mesma proporção.

Nota: 5/10

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