Já está disponível na Netflix o thriller polonês Interrompemos a Programação (Prime Time), filme que fez certo sucesso no Festival Sundance e agora chega ao Brasil através da plataforma. Apesar de sua trama carregada de suspense, o longa foca bem mais na execução do plano do protagonista, que invade uma TV ao vivo, do que nos reais motivos pelos quais ele fez tal ato. Aqui vamos explicar o que é possível entender sobre seus objetivos dentro da história. Pega a pipoca e vem!
Leia a nossa crítica completa do longa
[CUIDADO COM SPOILERS]
Vale lembrar, antes de mais nada, que Interrompemos a Programação gasta todo o tempo de execução para obter uma recompensa que nunca chega para o público. Não há fim para explicar. Qual é o objetivo dessa matéria então? Bem, vale a pena tentar descobrir o que o filme estava tentando fazer, já que tenho certeza de que há um ponto aí, mesmo que não seja necessariamente algo que valha a pena. E às vezes pode ser tão interessante explorar por que um filme não funciona quanto por que funciona. Então, vamos ver o que podemos fazer.
A premissa é que um jovem ofendido chamado Sebastian assume uma estação de TV na Cracóvia na véspera de Ano Novo de 1999, e enquanto a paranoia do “bug do milênio” atinge outras redes de notícias, esta é forçada a transmitir a declaração pré-preparada por ele para a nação – exceto que não, já que ele nunca vai tão longe, apesar de ter alguns reféns, como o segurança Grzegorz e a personalidade de longa data da TV Mira.
Ao longo da trama, temos pequenos fragmentos de desenvolvimento para Mira e Sebastian, o último particularmente quando seu pai é trazido por uma força policial em um esforço para acalmá-lo. Mas o que nunca conseguimos é uma noção de por que Sebastian está fazendo o que está fazendo. Sabemos que ele está aborrecido e que seu chamado “estilo de vida doentio” pode ter algo a ver com isso, mas nada além disso. As notas que ele escreveu para seu discurso são tratadas como uma espécie de MacGuffin, um dispositivo de roteiro que funciona como um objeto para a trama alcançar. Continuamos observando para vê-lo ler essas palavras em voz alta, para que possamos finalmente descobrir o que ele espera receber com tal ato, ou pelo menos dizer, mas esse momento nunca chega.
Por que não? Bem, grande parte do final do longa está constantemente atrasando a chance do protagonista ter seus 15 minutos de fama. Cada vez que parece que vai ter seu depoimento transmitido, ele descobre que a delegacia e a polícia estão tentando enganá-lo. Isso continua acontecendo até que percebemos, mais tarde, que ele nunca terá a chance de fazer seu discurso. Eventualmente, ele queima as páginas, o que é simbólico para ele, mas frustrante para nós.
Mas há um elemento crucial. Quando um Sebastian é derrotado e percebe que sua oportunidade foi perdida, ele é seduzido pela voz desencarnada do diretor da estação em pré-gravar sua mensagem para ser tocada mais tarde. Sabendo que mais uma vez está sendo manipulado, Sebastian coloca a arma na cabeça e puxa o gatilho.
Claro, a arma está vazia. Ele nunca foi uma ameaça. Mas durante seu suposto “suicídio”, a conversa gira inteiramente em torno de classificações. De muitas maneiras, Sebastian está sendo encorajado a se desligar pelo bem da estação, pelo bem da televisão de grande sucesso, o que é um ponto claro sobre a natureza cínica e predatória do negócio. Mas é uma observação estranha, já que Sebastian não comete suicídio. Ele é preso sem cerimônia. Sua missão é um fracasso.
Isso é em si pode ser um comentário sobre a impossibilidade de tentar derrubar “o homem”? De tentar obter alguma aparência de justiça em uma cultura que só anseia por sensacionalismo e drama. Ninguém se importa com a verdade quando a mentira é mais divertida, afinal, é por isso que as outras redes de notícias estão publicando histórias de conspiração sobre a mudança do milênio. Você deve se lembrar que nada aconteceu naquela noite, na virada de 1999 para o tão místico ano 2000. Talvez seja por isso que nada aconteceu em Interrompemos a Programação também.