Com um enredo bastante atraente e questões levantadas sobre como o mundo reagiria se a capacidade de dormir fosse perdida, Awake, novo suspense original da Netflix, é intrigante de assistir e mantém a tensão em alta, mesmo que tenha falhas catastróficas em sua história e um desfecho decepcionante. Certamente, parte do charme está nas performances do elenco e no mistério que necessita ser desvendado, razões essas que servem para manter o público entretido por boa parte do tempo. Mas será mesmo que tudo isso é motivo para que Awake, ironicamente, não provoque sono?
A trama e o elenco
Desse premissa apocalíptica, ao melhor estilo Bird Box e Um Lugar Silencioso, quando todos os aparelhos eletrônicos são eliminados, as pessoas começam a entrar em pânico à medida que a contagem de corpos aumenta. A ex-soldado Jill (interpretado pela ótima Gina Rodriguez, de Jane The Virgin), descobre que sua filha pode ser a solução para restaurar o mundo ao normal. Como resultado, os personagens principais, Jill, Noah (Lucius Hoyos) e Matilda (Ariana Greenblatt), embarcam em uma missão de sobrevivência e fazem uma jornada para um lugar onde esperam que haja uma cura para a insônia do planeta.
No entanto, de forma perspicaz, o roteiro esconde a chave para a solução desse mistério está logo no começo da trama e pode passar despercebida por todos. Uma pena que esse inicio seja tão apressado e mal desenvolvido, assim como qualquer aprofundamento nos motivos do colapso global, talvez, fruto de um orçamento baixíssimo, que pesa negativamente para a construção da atmosfera de “fim dos tempos”.
Porém, depois de algumas cenas chocantes em uma igreja, a tensão consegue ser restaurada e se mantém alta por boa parte do desenvolvimento. Uma das qualidades do suspense está exatamente no fato da trama não perder muito tempo com histórias paralelas e seguir o fluxo do enredo principal. Por um lado, isso afeta a profundidade nesse universo caótico, porém, a imersão na jornada da protagonista é bem trabalhada, especialmente por conta do carisma de Gina Rodriguez, que passa veracidade à mãe desesperada para salvar seus filhos custe o que custar.
Os sustos, por sua vez, são bons e boa parte surpreende por não “preparar” o espectador com os famosos jump scares, um mérito da direção que não pode passar despercebido. Apesar disso, há diversas oportunidades desperdiçadas em gerar terror genuíno através de momentos de silêncio e/ou por parte da violência humana. Falta uma ameaça que seja, no mínimo, mais temerosa do que apenas não dormir, mesmo que parte do charme esteja nessa simplicidade.
A direção
A condução do cineasta canadense Mark Raso (Copenhagen) tenta emular parte do sucesso que foi Bird Box ao colocar tensão na luta por sobrevivência de uma mãe num mundo onde é olho por olho. A direção é condizente e até explora alguns planos mais elaborados e elegantes nas poucas cenas de ação, tendo em vista o orçamento. Mas, se por um lado acerta em não forçar sustos, por outro, arrasta demais seu mistério e, quando a hora finalmente chega no clímax, a revelação não possui o peso que poderia ter tido, especialmente por conta da resolução preguiçosa e o final maçante demais para convencer que o tempo investido valeu a pena.
Conclusão
Apesar de um enredo sólido e original, Awake desperdiça seu potencial com uma trama que começa intrigante, mas que, ironicamente, provoca sono pelo desenvolvimento enfadonho e um mistério que cresce para culminar em lugar algum. Com exceção do ótimo elenco e de uma tentativa da direção de fazer o novo Bird Box da Netflix, pouca coisa se salva nessa maré de boas intenções. Talvez, a solução para resolver os problemas desse mundo, em que a ausência de dormir é a grande vilã, esteja em exibir Awake para a população. Pode funcionar.