Crítica | Mundo em Caos – Muito ruído por nada em adaptação caótica

Ao pegar carona na onda de adaptações de sagas literárias para o cinema, Mundo em Caos (Chaos Walking) cumpre à risca todos os pré-requisitos básicos para trazer a fórmula do sucesso de volta ao interesse do público em uma época em que o mercado mudou e que filmes de super-heróis são os mais visados. Apesar de falhas catastróficas no roteiro, tem a distopia que fez Jogos Vorazes e Divergente serem tão interessantes? Tem! Tem o meloso e forçado romance que arrebatou corações em Crepúsculo? Tem! Tem um visual realmente cativante e uma premissa de ficção-científica que transformou Maze Runner em um sucesso? Tem. Então por qual motivo dessa vez não funciona como antes? A resposta pode estar no fato dessa adaptação, de um livro lançado lá nos primórdios de 2008, chegar mais de uma década depois da febre, sair no meio de uma pandemia global e se perder dentro de suas próprias expectativas.

A trama e o elenco

Tendo como base o primeiro volume da Saga, o best-seller The Knife of Letting Go (ou O Motivo, em português), do autor Patrick Ness, o enredo se passa no futuro distópico do ano de 2257, no qual os humanos vivem em um planeta marcado pela ausência total de mulheres, e no qual os homens são afetados pelo “Ruído”, uma força que torna seus pensamentos “audíveis” e expostos para todos. Nesse contexto, somos apresentados ao protagonista Todd Hewitt (Tom Holland), que tem sua vida virada de cabeça para baixo quando conhece Viola (Daisy Ridley), após a queda da nave dela no lugar. Com isso, a dupla precisa escapar das garras dos vilões e sobreviver, já que uma mulher não é permitida naquele ambiente. Dentro dessa premissa, o roteiro explora questões ideológicas de forma mais superficial e decide centralizar suas energias tanto na construção do relacionamento dos dois, quanto na criação do mundo em que vivem e suas peculiaridades. Por um lado, as soluções visuais são impecáveis e bastante criativas, mas por outro, o desenrolar maçante perde atenção rapidamente.

Além das paisagens espetaculares e do carisma de Holland (Cherry) – um dos melhores atores de sua geração – o trabalho da pós-produção acaba por deixar a obra bem mais interessante do que ela aparenta ser. Os efeitos visuais para expor o “pensamento” dos personagens funciona e se torna um dos poucos elementos que realmente dão a Mundo em Caos ar de originalidade, já que a ambientação lembra inúmeros outros projetos e que, hoje em dia, não é mais nenhuma novidade após a existência de The 100, por exemplo, série que mistura elementos teen com sci-fi. Ridley, por outro lado, apesar de ótima atriz em Star Wars, aqui entrega pouquíssimo do seu talento, fato esse que abre espaço para Mads Mikkelsen (Doutor Estranho) roubar a cena e assumir o papel de vilão medonho e estereotipado que já está acostumado a fazer. Sem grandes surpresas nas performances e com o desenvolvimento muito mais longo do que o necessário, a trama caminha por esse universo sem muita pressa, apresenta com calma seus personagens e, quando pega no tranco, se encerra sem surpresas e sem força para seguir adaptando os demais livros da franquia, mesmo que estabeleça uma atmosfera promissora nesse começo.

A direção

Curiosamente, apesar de levar tempo demais introduzindo todos os conceitos desse universo relativamente complexo, as explicações são confusas no primeiro momento e o diretor Doug Liman (No Limite do Amanhã, Identidade Bourne) tem dificuldade de equilibrar respostas coerentes com os mistérios da trama. Muitos detalhes passam despercebidos e isso, somado à narrativa com poucas cenas de ação, torna toda a aventura uma caminhada cansativa para subir a montanha e descobrir que, lá no topo, não tem nenhuma satisfação ou recompensa nos aguardando. O romance é forçado e a dupla não possui lá essa química toda em cena, mas o maior problema está mesmo na ausência de ritmo e na falta de maestria da direção em entreter e divertir ao mesmo tempo que explora um enredo denso, desordenado e que esgota suas alternativas muito antes de fisgar o nosso interesse por esse mundo em que a masculinidade tóxica é o grande inimigo.

Conclusão

Dessa forma, Mundo em Caos até possui boa atmosfera de mistério, mas acaba por não tirar proveito de sua premissa criativa e se torna uma adaptação bagunçada, confusa, sem ritmo e que apenas funciona por conta da identidade visual marcante. A diversão se esgota rápido, o entretenimento se perde no emaranhado de decisões ruins da direção e sobra um sci-fi caótico, que decepciona até mesmo quem não estava esperando muita coisa. Definitivamente, o último punhado de terra em cima do caixão das adaptações de sagas literárias infanto-juvenis para o cinema. É ruído demais para pouca recompensa.

Nota: 4/10

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