Crítica | Até o Céu – Clichês a mil em novo longa de ação da Netflix

A segunda parceria entre o diretor espanhol Daniel Calparsoro e o roteirista Jorge Echevarría, entrega um filme desorientado que surge de lugar nenhum e não sabe para onde vai. Em Até o Céu, o cotidiano do jovem Ángel (Miguel Herrán) vira de cabeça para baixo após uma briga numa boate local. Ao invés da vingança, seu adversário o encoraja a integrar a quadrilha de assaltantes da qual faz parte.

Enquanto o grupo se perde na hierarquia de poder, o detetive Duque (Fernando Cayo) ameaça a impunidade quando converge as forças da polícia para instaurar a ordem. Diante da premissa desgastada, a experiência fracassa ao vincular um texto expositivo com atuações medianas. Somado a isso, os elementos técnicos são mal articulados e as sequências de ação ainda carecem de lógica, constituindo assim, um universo onde até o entretenimento vazio deixa a desejar. 

Na contramão de O Aviso, projeto anterior da dupla Calparsoro e Echevarría também distribuído pela Netflix, o roteiro de Até o Céu remete a uma fanfiction. As chamadas “ficções de fãs” são contos baseados em obras já existentes, como livros, filmes e séries. Alguns deles se equiparam a sucessos literários, mas a maioria está associada à falta de complexidade, diálogos mal escritos e decisões incompatíveis com a realidade. O longa espanhol dispõe de todas essas características. Uma vez que os integrantes da trama são apresentados às pressas, não há evolução além do mínimo necessário para o desenrolar dos conflitos. Esses, por sua vez, precisam ser explicados a cada instante, pois ao invés de contribuir para a coerência narrativa, parecem compor episódios soltos de um seriado. 

A direção conduz os dois primeiros atos por meio de acontecimentos cíclicos e um ritmo arrastado. O ainda inexperiente Miguel Herrán não convence no papel de gângster, apesar da fama por viver um ladrão na série La Casa de Papel. Suas infrações se tornam repetitivas, assim como a montagem fragmentada e as interrupções abruptas no tempo. A fim de engrandecer o protagonista, qualquer risco é descartado, pois o enredo se vale de conveniências absurdas para burlar a lei, seja subestimando a competência da polícia ou apostando na corrupção da defesa, representada pela advogada Mercedes (Patricia Vico). Do outro lado, a produção tenta contrapor as transgressões dos roubos com o romance entre Ángel e Estrella (Carolina Yuste), mas o relacionamento previsível entre eles é vazio e apenas reforça a submissão da mulher perante ao machismo romantizado em produções do gênero. 

Após inúmeras cenas supérfluas e outras até inúteis para o andamento da trama, Até o Céu atinge o clímax na sequência final. Nesse ponto, o detetive Duque finalmente assume o controle da situação e, pela primeira vez, se mostra um passo à frente do crime ao arquitetar uma estratégia compatível ao seu trabalho. A tensão é construída por meio de uma edição ágil, a qual alterna planos picotados para ilustrar perspectivas opostas, combinada à trilha sonora instigante. Em consequência disso, os personagens passam a definir prioridades a partir de ameaças reais, mas embora a mudança de tom resulte num desfecho crível, a história ainda se baseia no velho embate entre impunidade e justiça. No fim das contas, tudo se trata do discurso maniqueísta mascarado pela tentativa de modernização que nunca existiu. 

Nota: 3/10

Escrito por: Nathalie Moreira 

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