Crítica | Esquadrão Trovão – Nenhum superpoder pode salvar esse filme

De fato, os filmes de super-heróis realmente se tornaram um gênero cinematográfico consolidado e estão aí as paródias para solidificar a fase final dessa classe de filmes. Após bons anos de ascensão e um período de desgaste, o gênero agora vive seu momento mais conturbado, marcado pela falta de expertise dos realizadores e pela ausência de criatividade em sair da zona de conforto. Ou a moda agora é fazer filmes de super-heróis violentos ou é se dedicar a comédia e rir dos absurdos. Reflexos esses que podemos ver no descompensado Esquadrão Trovão (Thunder Force), comédia original da Netflix que abraça os clichês e a farofada em prol de dar um gás a mais, porém, o tiro sai pela culatra e se transforma em apenas mais um prego no caixão.

A trama e o elenco

Ainda que a premissa girl power tenha seu devido valor e que sim, é importante ver duas mulheres de meia idade e fora do padrão estabelecido por Hollywood como super-heroínas badass, o enredo pouco inspirado e repleto de artimanhas da comédia joga qualquer boa iniciativa por descarga abaixo quando opta, de forma preguiçosa, por replicar fórmulas exaustivas e se apega demais ao humor seco e forçado do elenco enquanto desenvolve uma trama água com açúcar sobre amizade e as responsabilidades de ser uma Pessoa com superpoderes em um mundo caótico. Sem grandes surpresas pela jornada e com poucas piadas que realmente decolam, nos resta apenas aproveitar o pouco de diversão que há na química entre Melissa McCarthy (Missão Madrinha de Casamento) e Octavia Spencer (A Forma da Água), duas atrizes que possuem ótimo timing cômico e que, por si só, já são naturalmente carismáticas.

Mas acontece que esse humor exagerado cansa muito cedo e a barriga que o roteiro deixa na metade de Esquadrão Trovão só o torna ainda mais tosco e cansativo. Faltam conflitos sólidos para que as personagens tenham suas convicções testadas, algo fundamental em um filme de super-heróis e que aqui passa batido através de uso excessivo de piadas bobas, especialmente pela personagem de McCarthy. É desgastante ver que o desenvolvimento das amigas, algo que começa promissor, se encerra quando a trama atinge a idade adulta das personagens. Desse ponto em diante, qualquer justificativa plausível para o desenrolar da história torna-se uma exigência que o roteiro não é capaz de nos presentear. As toneladas de presepadas infundadas e as cenas de ação sem a menor eficiência, somadas ao vilão que é o mais puro estereótipo vilanesco (vivido por Bobby Cannavale), só comprovam que nem mesmo os realizadores sabem para onde tanto absurdo vai levar.

A direção

Apesar de saber condensar o humor natural de McCarthy após tantas obras como Alma da Festa, A Chefa e Superinteligência, o diretor Ben Falcone parece não saber mais o que fazer com toda a energia de sua musa inspiradora e a dirige precariamente. Não chega a ser o ponto mais baixo da carreira da atriz (já que Crimes em Happytime é ainda pior), mas sem dúvida faz parte de uma ladeira que têm descido faz alguns anos. Fora a condução insossa, Falcone reproduz a fórmula sem tirar nem pôr, mesmo que, claro, esteja fazendo uma paródia e que isso necessite abraçar estereótipos do gênero, o diretor cai em suas próprias armadilhas e esgota a possibilidade de entregar algo minimamente original, até mesmo com os efeitos especiais tristemente precários. É difícil imaginar que alguém tenha achado uma boa ideia transformar esse roteiro em um longa-metragem que se leva à sério, mas, de fato, na prática, sai ainda pior, principalmente por deixar – para sempre – gravado em nossa memória o horrendo romance com um Jason Bateman (Ozark) caranguejo.

Conclusão

Com isso, Esquadrão Trovão é uma paródia pouco inspirada que, através de seu humor seco e exagerado, proporciona uma overdose de clichês que superpoder nenhum pode fazer funcionar. Ainda que, sabiamente, quebre alguns padrões e dê espaço para heroínas “fora do comum”, a comédia da Netflix é a evidência incontestável de que os filmes de super-heróis estão despencando em decadência criativa. E o abismo vai arrastar tudo que há pela frente caso não tenha uma mudança significativa nos próximos anos, pode apostar. O começo do fim está cada vez mais próximo.

Nota: 2/10
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