Não é novidade para ninguém que Damien Chazelle é um jovem diretor para frente de seu tempo. Seu primeiro filme de sucesso, Whiplash: Em Busca da Perfeição já mostrava que sua visão criativa é apurada e diferente, mas foi mesmo com La La Land: Cantando Estações que seu reconhecimento chegou ao auge. Dois filmes que possuem muitas coisas em comum, como o ritmo, elemento fundamental de suas obras, e a perfeita condução da narrativa. Agora, seu terceiro grande filme é O Primeiro Homem, já disponível na Netflix, porém, há também uma desconstrução de sua forma sutil e delicada de filmar, assumindo uma câmera na mão que se coloca na pele do protagonista. Mas será mesmo que funciona?
A trama
O drama biográfico O Primeiro Homem, com roteiro de Josh Singer (The Post – A Guerra Secreta) e baseado no livro de James R. Hansen, conta a trajetória conturbada do jovem Neil Armstrong e sua ascensão como piloto da NASA rumo a maior missão espacial da história da humanidade: a chegada do homem à Lua. Apesar de retratar diversos acontecimentos da vida do piloto, o longa opta por recortar uma fase de sua vida após perder sua filha pequena, acontecimento que irá influenciá-lo até sua tão aclamada ida ao espaço. Entre acertos e erros, Ryan Gosling apresenta um protagonista quase inexpressivo, com olhar vago e de poucas palavras. Fiel ao Armstrong ou não, sua personalidade fria afeta sua interpretação, que se torna exagerada e fechada, nos distanciando de criar qualquer empatia que seja vida do piloto e guiando nossa atenção mais para sua realização como profissional do que pelos seus motivos emocionais.
Uma das falhas de direção de Chazelle, seguida então pelo irritante e excessivo estilo de filmar tremido, que não foca nos rostos dos personagens e parece estar sempre desesperado para encontrar a ação da cena, aproximando o zoom de algum ator que esteja falando e perdendo até mesmo o foco em algumas tomadas. Mesmo que essa tenha sido a escolha do diretor de retratar a trama, como se fosse pelos olhos de uma câmera Super-8 em um filme amador, reforçando isso com a direção de fotografia, que apresenta uma textura granulada típica da época, o efeito definitivamente nos distancia da ação e o uso abusivo de cortes na montagem causa certo desconforto.
O roteiro e a direção
Enquanto Gosling é contido e vive no mundo da lua (literalmente!), sobra para a talentosa da Claire Foy (que interpreta Janet, a esposa de Neil) segurar a parte emocional da trama, fato que faz com dedicação e carisma, se mostrando um forte pilar feminino por trás do marido, que mais parece uma criança mimada e sonhadora tendo que viver uma vida de adulto. Os demais personagens são rasos e suas eventuais despedidas do roteiro não causam nenhum tipo de comoção, já que só estão ali para preencher lacunas e intensificar os perigos pelo qual Armstrong precisa enfrentar. Uma pena, vindo de um diretor que soube criar personagens que são um poço de carisma em La La Land.
O grande trinfo do roteiro vem de nos colocar na pele do protagonista quando está dentro das espaçonaves. O trabalho de som é intenso e o local é claustrofóbico, nos provocando sensações de arrepiar, principalmente no último ato do filme, quando a trama finalmente encontra sua direção certa e começa a mostrar a tão aguardada viagem à Lua, é aí também que Chazelle redime seus erros e mostra que também sabe criar suspense baseado na admiração por algo que vemos todos dos dias. Aqui a Lua é deslumbrante, solitária e apresentada com um fascínio surpreendente e encantador pelos olhos do diretor, até mesmo a ausência de som na cena é feita com muita perspicácia.
Conclusão
Mesmo não apresentando seu melhor trabalho de direção, Damien Chazelle não deixa de ser criativo e usa O Primeiro Homem para mostrar que a conquista de algo pode não ser tão profunda quanto a sua jornada até chegar lá. Intenso e instiga nossa curiosidade, mas que se perde na tentativa de ser grandioso demais.