Crítica | Bad Trip – Muita vergonha alheia em pegadinha da Netflix

O senso de humor de Eric Andre (O Rei Leão) não é algo tão inquestionável assim e seu retorno aos cinemas proporciona mais uma de suas inúmeras presepadas. Em Bad Trip, produção original da Netflix, o comediante se apega as populares pegadinhas televisivas para construir uma trama sem substância, que funciona apenas como esquetes de comédia e, como tal, diverte pelo teor absurdo que proporciona e pela imensa vergonha alheia que injeta no espectador. No melhor (ou pior!) estilo Vovô Sem Vergonha, o longa trata-se de um amontoado de brincadeiras e chacotas que o ator e sua equipe pregam em figurantes, enquanto, no fundo, uma trama bobinha sobre amizade é construída. Se por um lado a comédia acerta na gozação sem limites, por outro, é realmente difícil chamar isso de longa-metragem, já que não há estrutura básica para tal.

A trama e o elenco

Na premissa, uma dupla de amigos encabeça uma road trip sem pé nem cabeça para Nova York, para que um deles possa se declarar para uma jovem que recém conheceu e já se apaixonou. Nessa viagem maluca, tudo é possível de acontecer – incluindo fazer o espectador assistir um gorila ejaculando – mas a aventura promete mudar para sempre a amizade da dupla. Esse é o enredo que serve de base para que, uma a uma, cada pegadinha seja apresentada ao público, tendo como foco os figurantes e as pessoas reais que estão por fora do fato de ser uma produção cinematográfica. Com isso, se excluirmos que uma história com início, meio e fim precisa ser desenvolvida e de que há personagens que necessitam ser trabalhados mais a fundo, a comédia apenas tem êxito nas piadas nonsense e nas situações bizarras. As reações reais das pessoas é a parte mais hilária, ainda que, com o passar do tempo, a diversão se esgota pela falta de novidades e criatividade do roteiro.

Eric Andre é cômico em sua essência e tem um tipo de humor bastante escrachado, semelhante ao de Sacha Baron Cohen na franquia Borat. O ator parece se divertir na mesma proporção que as piadas forçam nosso riso, porém, é só isso. Não há nenhuma nuance dramática ou emoção no personagem, apenas palhaçadas. Lil Rel Howery (Corra!), por outro lado, tem seu humor mais contido e o personagem possui um pouco mais de sensibilidade, ainda que não seja o suficiente para justificar carisma algum. E sim, mesmo que se trate de uma comédia de pegadinhas polêmicas, havia sim espaço para que fosse bem mais criativa e interessante do que o roteiro preguiçoso proporciona, afinal, boa parte das piadas são construídas através de conteúdo sexual.

A direção

Além da falta de história em Bad Trip para preencher as quase uma hora e meia de filme, toda a parte técnica também é bastante precária e mal trabalhada, especialmente se pensarmos que se trata de um filme e não um programa de humor com intervalos. Não há qualquer tratamento de imagem e a direção de Kitao Sakurai é quase nula, tendo em vista a liberdade de improviso do elenco e a falta de substância no desenvolvimento das lacunas que existem entre um esquete e outro. Assim como todo o longa, a produção também beira a superfície e aposta todas as suas fichas nas situações estúpidas presenciadas.

Conclusão

Através disso, apesar de ser uma comédia estúpida e grosseira, Bad Trip possui seu teor de diversão nas absurdas pegadinhas que insere seu elenco e investe o humor em situações pra lá de inusitadas, que arrancam riso fácil, mas o grande erro está em chamar essa maluquice da Netflix de filme, já que peca em qualidade, desenvolvimento e conteúdo. Não chega a ser um total desperdício de tempo, especialmente no mundo atual que precisa rir para extravasar a realidade, mas é vergonha alheia em excesso e que cansa facilmente.

Nota: 5/10

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