Crítica | Dia do Sim – Às vezes é melhor dizer “não” para um filme

O conceito divertido de Dia do Sim (Yes Day), que alimenta a fantasia infantil de existir um dia especial em que os pais não podem dizer a palavra “não”, é desperdiçado por conta de seu tom exageradamente inocente, mesmo se tratando de uma obra despretensiosa e feita para família. A comédia equilibra muito precariamente o drama familiar com o humor e acaba não se saindo bem em ambos. Por exemplo, se pegarmos outra obra dentro desse conceito, o Sim Senhor, protagonizado por Jim Carrey, é perceptível como o roteiro inteligente desenvolve uma trama leve, mas dinâmica e instigante, sobre a possibilidade de dizer “sim” para tudo. Já no original da Netflix, estrelado por Jennifer Garner (Demolidor), a vontade de passar dos dez minutos iniciais é quase nula, muito por conta do excesso de presepadas sem lógica e da falta de química do elenco.

A trama e o elenco

Cansada de ser vilanizada por todos, Allison (Garner) decide criar o “dia do sim” para incentivar seus filhos a se comportarem nos demais dias. Nesse dia especial, mesmo com algumas regras, os pais não podem dizer não para nenhum dos caprichos das crianças que, obviamente, decide transformar a vida da família em um caos sem limites. Acontece que dessa premissa, até mesmo promissora para uma comédia familiar, o roteiro se deixa levar por artimanhas convencionais e, com muita preguiça, explora – uma após a outra – situações patéticas e fantasiosas no intuito de aproximar a família e passar a mensagem de que os pais precisam ser mais maleáveis com seus filhos e vice e versa.

A graça nunca alcança seu auge com as piadas requentadas de outras histórias e o drama sentimental soa mais falso do que nota de três reais. Ou seja, além da ausência de química no grupo, mesmo com o carisma de Jennifer Garner e o talento de Jenna Ortega (Você), o roteiro utiliza mais tempo para gerar situações cômicas com humor físico do que para aprofundar as relações pessoais entre os personagens. A abundância de incoerências e facilidades narrativas não permitem que a trama tenha uma progressão natural, já que parece que o mundo inteiro parou para que aquela família qualquer possa ter um dia de diversão. Além disso, a passagem de tempo é confusa e o dia, dilatado até não poder mais, aparenta nunca ter fim, problema causado pela péssima direção de fotografia que não sabe lidar com a luz natural.

A direção

A condução de Miguel Arteta é boa quando se trata de avançar a trama e não deixar o ritmo perder fôlego, no entanto, o diretor faz o convencional e renuncia a qualquer experimentação apenas para entregar a comédia água com açúcar comum. Ainda que haja algumas cenas de ação mais divertidas, perdidas dentro das bobas aventuras infantis, praticamente todos os momentos são previsíveis e culminam em praticamente nenhuma surpresa. Até mesmo o grande dilema, da filha que quer ir em um show sem a mãe, termina de maneira tão cínica e ilusória, que é difícil estabelecer qualquer ligação emocional com o espectador.

Conclusão

Através disso, Dia do Sim se esforça para ser uma comédia familiar notória, mas alcança pouco entusiasmo do espectador com seu humor requentado, tom exageradamente infantil e ausência de química do elenco. Ainda que possa distrair algumas pessoas no vasto catálogo vazio da Netflix, a trama é pura chatice, fora o desperdício de talento de Jennifer Garner. Às vezes o melhor mesmo a se fazer é dizer “não” para um filme.

Nota: 3/10

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