Crítica | A Sentinela – Thriller monótono e sem inspiração da Netflix

Nos últimos anos, temos a sensação de que os filmes de ação entraram no loop da falta de criatividade que, para sobreviver, replica a mesma fórmula repetidas vezes. Por conta disso que o sabor amargo do roteiro de A Sentinela (Sentinelle), nova produção francesa da Netflix, é tão marcante. Ao mesclar drama de guerra mais do mesmo com filmes de vingança convencionais, a trama genérica começa com boa progressão, mas mergulha de cabeça nos clichês do gênero, sem dar espaço para que o espectador seja surpreendido. Com tamanha falta de coragem e ousadia, é inevitável não ter a sensação de que já vimos essa história inúmeras outras vezes e que, em boa parte delas, o desenvolvimento acabou sendo bem mais instigante e natural do que esse, ainda que seja estrelado por Olga Kurylenko, nome com forte presença no gênero. A atriz vive uma das personagens mais incompletas de sua carreira até então.

A trama e o elenco

Em seu começo decente, a trama de A Sentinela mostra a rotina dramática de uma jovem soldado na guerra da Síria e como um atentado terrorista na sua equipe acaba a afetando profundamente. Ao tratar transtorno pós-traumático e as consequências da guerra na mente humana, o roteiro até apresenta uma personagem densa, silenciosa e fechada, que intriga o espectador. Porém, o trem descarrilha quando esse drama de guerra abre espaço para uma busca por vingança totalmente incoerente, quando a protagonista descobre que sua irmã mais nova foi abusada sexualmente por “russos” em uma balada que ambas foram para distrair a cabeça. Diferente de filmes corajosos, como o recente Bela Vingança, que também mostra uma mulher fazendo justiça com as próprias mãos contra homens abusadores, essa produção da Netflix apenas promete muito, mas se perde em seu longo e arrastado desenvolvimento, culminando em um desfecho totalmente anticlimático. Até mesmo a violência gráfica, grande aposta desse tipo de obra, peca com sua falta de audácia.

Olga Kurylenko (007 – Quantum of Solace), ainda que tente acrescentar mais profundidade a personagem com seu olhar sombrio e doloroso a iniciativa, fracassa, afinal, o roteiro não permite que nada ultrapasse a barreira do superficial. Os traumas da personagem servem apenas para desumanizá-la e transformá-la em uma justiceira, já seu preparo para batalhas é descartado com facilidade, uma vez que a protagonista toma decisões errôneas o tempo inteiro e seu treinamento serve para praticamente nada em sua busca implacável. Até mesmo sua orientação sexual não é desdobrada. Os vilões – ou melhor, os “russos” estereotipados – são rasos e seguem apenas o instinto violento. Ainda que, obviamente, não haja qualquer justificativa para tais atos criminosos, a premissa de “pai rico que passa pano pra filho estuprador” já está mais do que batida a essa altura do campeonato, não é mesmo? Durante todo o lento e repetitivo desenvolvimento da trama aguardamos por alguma reviravolta mais, digamos, criativa, porém, esse resultado nunca chega. Além da protagonista que perde o compasso, os demais personagens coadjuvantes são a pura personificação da falta de progressão do roteiro.

A direção

O trabalho de Julien Leclercq (A Terra e o Sangue, que, inclusive segue a mesmíssima premissa) é entediante. Até mesmo as cenas de luta, ainda que isoladas dentro da história, são mal realizadas. O diretor não consegue equilibrar o drama com a ação e se perde no ritmo, utilizando mais tempo para apresentar o plot central do que para nos surpreender com ele. O tom de A Sentinela e sua intensidade se mantém no mesmo nível do começo ao fim, sem nuances, nem no clímax a narrativa ganha energia. Isso para não mencionar as cenas de ação picotadas e a ausência de tato do diretor em tratar o assunto com mais sensibilidade. Para ele, o que importa é ligar o piloto assassino sanguinário na protagonista e deixar o sangue falso fluir.

Conclusão

Com isso, A Sentinela sacrifica a interessante premissa sobre trauma emocional da guerra para focar em uma história de vingança sem emoção, que alcança sucesso no catálogo da Netflix pelo fator curiosidade, afinal, com esse roteiro genérico, só mesmo um thriller monótono e sem inspiração consegue ser sustentado. No melhor dos casos, a atuação de Olga Kurylenko ainda compensa parte do tempo dedicado, mas se tiver algo melhor para assistir, faça isso.

Nota: 3/10

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