Paul W.S. Anderson é um cineasta apaixonado por games. Se isso não ficou claro com adaptações como as de Mortal Kombat e Resident Evil, Anderson retorna para o mundo dos games em 2021 com sua musa inspiradora e esposa, Milla Jovovich. Dessa vez, porém, o maior obstáculo na vida de Jovovich não são zumbis, mas sim monstros gigantes. Inspirado na franquia de games homônima, Monster Hunter conta a história de Natalie Artemis, uma militar que parte em uma missão para resgatar parte de seus companheiros de tropa e acaba indo parar em uma realidade alternativa, que por um acaso é dominada por enormes bestas enfurecidas. Assim, Artemis deve aprender a lidar com esses monstros para que consiga sobreviver neste novo mundo.
Essa é a premissa de Monster Hunter, e não se pode dizer que o filme não entrega o que promete. O grande problema, porém, é que ele não faz o menor esforço para proporcionar mais do que o superficial. Se você decidiu furar a quarentena apenas para ver Milla Jovovich batendo em alguns monstros gigantescos de CGI, você certamente sairá satisfeito da sala de cinema. Entretanto, alguém que espera qualquer coisa além disso pode acabar se decepcionando ou até mesmo se indignando com o novo filme.
Sejamos justos: o filme tem sim boas cenas de batalha, gravadas à luz do dia, e com computação gráfica bem aceitável. As cenas noturnas podem até ser mais confusas, mas não chegam a ser péssimas. Além disso, Milla Jovovich tem um grande dom para filmar cenas de ação, e consegue fazer com que tudo seja mais crível e empolgante. Outro ponto positivo é o design de produção criado para o filme. Cheio de exageros e bizarrices, como as armas enormes e um gato humanóide chef de cozinha, a atmosfera criada para o universo acaba sendo bem divertida.
Os problemas, porém, começam com os personagens. Com excessão da protagonista, todos os outros ficam em segundo plano, ao ponto de que você não se lembrar do nome de nenhum deles quando o filme acaba. Tony Jaa (Ong Bak), que tem um dos maiores papéis no filme, acaba tendo um arco extremamente raso. Atores como Ron Perlman (Hellboy) e a brasileira Nanda Costa (Salve Jorge), por exemplo, são meras participações especiais e sua presença em nada muda o rumo da trama.
E o mais frustante: depois de muitas batalhas entre a Tenente Artemis e monstros gigantes (que podem até ser divertidas em um primeiro momento, mas passam a ficar repetitivas e desinteressantes), quando o filme parece estar finalmente chegando em seu clímax, ele termina da forma mais abrupta possível. O final fica em aberto, apontando para uma possível continuação. Qualquer diversão proporcionada pela 1h40min anterior é substituída por um grande sentimento de incredulidade.
No fim das contas, parece que Paul W. S Anderson se preocupou tanto em emplacar uma nova franquia que acabou se esquecendo de trabalhar os pilares do universo de Monster Hunter nesse primeiro filme. Para mim, é difícil dizer o que os fãs dos jogos vão achar da adaptação, até mesmo porque nunca joguei nenhum dos títulos da franquia. Entretanto, como simples espectador, o que posso dizer é que Monster Hunter peca demais ao utilizar elementos tão bacanas de forma tão pífia e desperdiçar boas cenas de ação em uma trama extremamente vazia.