É muita pretensão da crítica esperar algum avanço significativo vindo dos criadores das proezas cinematográficas A Noiva e A Sereia – Lago dos Mortos, duas obras do genérico e sem ânimo terror russo que são puramente um chamariz de bilheteria internacional, especialmente no Brasil, que consome o gênero nos cinemas sem muito critério, algo que justifica também a tentativa – sempre falha – de dublar para inglês com a esperança de ser bem recebido no ocidente. Mas sim, é de se esperar que haja alguma mínima noção de aprendizado após duas porcarias seguidas, porém, infelizmente, com A Viúva das Sombras (Vdova/The Widow), novo longa que está chegando aos cinemas só agora mas que foi gravado lá em 2018, prova-se que a terceira tentativa consegue a difícil façanha de ser ainda mais desastrosa no que se propõe e inconsistente no que tenta fazer, concluindo então a “trilogia” mais ineficiente de cinema de terror moderno. Sem dúvida, um mérito para poucos.
A trama e o elenco
Claramente, o orçamento é baixo e a produção precisa dar o melhor possível dentro da precariedade, limitando-se a cenas noturnas, muita correria sem nexo e uma direção caótica que, por sua vez, utiliza horrivelmente elementos de found footage com o intuito de “disfarçar” erros aparentes. Acontece que o longa nunca alcança seu objetivo ao misturar esse icônico estilo de filmagem (que, se mal realizado, pode dar muito errado, como podemos ver), com o estilo convencional ao tentar reproduzir uma espécie de “falso documentário”, baseado em fatos (ou seria em uma lenda?) sobre um grupo de voluntários que entra em uma densa floresta para resgatar um adolescente desaparecido e, obviamente, encontra algo bem mais perturbador. Nesse caso: uma mistura incerta de bruxa/assombração/entidade/viúva vingativa cujo objetivo nunca se torna claro e sua maldição se espalha pelo lugar, levando a vida de todos os inocentes embora. E é isso, pode subir os créditos. Sem grandes explicações plausíveis (não que seja necessário ter) ou aprofundamento, o terror se desenrola com base nos insuportáveis jump scares e uma trilha altíssima, que vai na contramão ao tédio repetitivo das cenas.
O roteiro de A Viúva das Sombras, por sua vez, parece pegar A Bruxa de Blair e REC e bater no liquidificador com bastante água para fazer render. Absolutamente nada do que é apresentado nas quase 1 hora e meia de filme é original ou surpreendente. Ao replicar a fórmula sem dó e sem medo de testar a inteligência do espectador, a trama caminha por estradas previsíveis e segue percursos esperados, até culminar em um desfecho confuso, anêmico e vergonhoso de tão anticlimático. A dupla Viktoria Potemina e Anastasiia Gribova são as únicas que conseguem ter um mínimo destaque, já que o elenco masculino serve para absolutamente nada além de corpos para serem mortos pela vilã. Aliás, a tal viúva do título é uma tragédia por si só. Não assusta, não tem nenhuma camada além de ser “malvada e vingativa” e, para piorar, se aparecer em cena por 3 minutos de filme é muito. Sua presença permeia a história, mas ela nunca entra em ação de fato. E quando entra, é tão raso e bobo que faz o espectador querer que ela desapareça mesmo. Ou seja, a grande vilã do filme é, na realidade, a estrada de terra de nunca deixa o carro seguir viagem em sequências repetitivas de interrupções que não levam a lugar algum.
A direção
A condução do diretor iniciante Ivan Minin é o mais genuíno caos. Definitivamente nada funciona a não ser a atmosfera de terror que levemente cria. Sim, apesar da trama caminhar para nada e dos personagens vazios não conseguirem manter uma conexão emocional com o público, há um clima de horror interessante, muito por conta da ambientação, é claro, afinal, se Minin não conseguisse criar um clima de horror em uma floresta escura, aí sim seria necessário rever se está na profissão correta. No entanto, mesmo que haja algumas poucas e isoladas cenas que provocam medo devido ao nível de dilatação do tempo que utiliza, é visível que está apenas replicando elementos que já vimos antes em tantos outros filmes e que exploram exatamente as mesmas possibilidades. Não há uma gota sequer de originalidade ou maestria. Toda a sensação de medo que alcança tem como base a trilha constante e a antecipação do susto da forma mais cara de pau possível.
Conclusão
Dessa forma, A Viúva das Sombras fracassa majestosamente no que se propõe, mergulha de cabeça no manual de como provocar medo da maneira mais superficial existente e, com toda a inconsistência de uma direção desastrosa, se consagra com a mais nova porcaria extraída do péssimo e clichê cinema russo de terror. Com pouco investimento narrativo e uma trama cínica, o longa apenas se salva (e olhe lá!) devido a boa atmosfera de suspense que entrega. Ainda assim, o posto de “pior filme de terror do ano” acaba de ganhar um fortíssimo concorrente.