Crítica | Notre Dame – Comédia contemporânea, feita aos moldes clássicos

O timing do lançamento da comédia francesa Notre Dame, que está chegando agora aos cinemas brasileiros após uma breve passagem pelo Festival Varilux, não poderia ter sido pior, afinal, vale lembrar que a icônica catedral foi parcialmente destruída por um incêndio poderoso em abril de 2019 e a comédia romântica, ao invés de prestar algum tipo de homenagem à sua história, na realidade, cria um ambiente de humor sobre a arquitetura do local, repleto de piadas de cunho sexual que parecem terem sido escritas por um adolescente na 5ª série. De qualquer forma, o longa, que certamente foi realizado antes da tragédia acontecer, perde grande parte de seu apresso ou conexão por conta do atual contexto em que está inserido e isso, sem dúvida, é um problema.

A trama e o elenco

Sem fugir muito do eventual humor ácido francês e com boas tiradas, conquistadas através da conexão genuína do elenco, a comédia pincela romance e explora um triângulo amoroso que envolve uma jovem arquiteta, seu amor do passado e seu ex-marido. Nesse contexto, a jovem acaba fazendo parte de um projeto, digamos, duvidoso para dar uma nova vida ao lado externo da catedral de Notre Dame e, através desse emprego dos seus sonhos, sua vida amorosa e profissional só vai de mal à pior. E é basicamente isso que a trama aborda, sem mergulhar muito intensamente em nada, apenas entrega boas piadas e conduz uma narrativa que faz referências à filmes clássicos e algumas obras mais atuais, como La La Land.

O humor está sempre um tom acima com sua comédia de situações e o romance acaba sendo ofuscado no roteiro desproporcional, ainda que a protagonista, e também diretora do filme, Valérie Donzelli, conquiste rapidamente o espectador com seu ar de Fleabag. Seu envolvimento é evidente e atriz possui um ótimo timing cômico, especialmente quando divide a cena com o astro Pierre Deladonchamps (Um Estranho no Lago), o famoso Selton Mello francês. Fora isso, o restante do elenco serve apenas de trampolim para que a dupla possa brilhar. Nem mesmo a outra ponta do triângulo, vivido por Thomas Scimeca, funciona ou proporciona algum tipo de diversão ou empatia.

A direção

Conforme a trama clichê avança, o roteiro se torna cada vez mais desregular, previsível e se prende às reviravoltas bobas que construí precariamente. Sem saber se quer ser lúdico ou realista, a boa premissa inicial se perde em um emaranhado de loucuras patéticas, que devem funcionar melhor na cabeça de Donzelli, já que, na prática, as escolhas narrativas vão do extremo brega ao maçante. Como havia dito, a diretora se sai melhor na atuação do que na condução e esse acúmulo de funções prejudica o ritmo. Uma vez que perde o espectador para o tédio, é difícil fazê-lo se interessar novamente pela obra. Na contramão da falta de ritmo, a trilha se torna cada vez mais presente e serve para construir, tanto a atmosfera de imaginação da protagonista, quanto a estética de clássicos românticos do cinema.

Conclusão

Dessa forma, Notre Dame quer porque quer convencer o espectador de que é uma comédia romântica aos moldes clássicos, com pitadas ácidas do humor francês, mas se perde em uma trama brega, exagerada e totalmente descompensada. Ainda assim, algumas piadas funcionam, mesmo que infantilizadas demais para uma história adulta, e o ar jovial, somado à boa química o elenco, não deixam que seja um completo desperdício.

Nota: 6/10

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