Crítica | Palmer – Sensibilidade e coragem com melhor atuação de Justin Timberlake

“Meninos não brincam de boneca” – diz um dos personagens de Palmer, novo drama original do Apple TV+“Mas eu sou menino e eu brinco!” – retruca o jovem que esbanja carisma ao viver uma criança que, naturalmente, nasceu queer e precisa enfrentar, desde muito novo, a luta diária que é crescer em uma sociedade que possui aversão ao diferente. E com bastante sensibilidade, a trama assume a posição de didatismo e propõe reflexões sobre como a sociedade estabelece regras e gera sofrimento por encaixar a complexidade humana em simples caixinhas de gênero.  

A trama e o elenco

Ao colocar um de seus protagonistas em diversas situações terríveis de homofobia, o roteiro constrói interessantes estudos de personagens e conduz sua narrativa através dos olhos de um ex-presidiário que, ao mesmo tempo que recomeça sua vida após pagar pelo crime que cometeu, também desconstrói seus ensinamentos machistas a fim de compreender a inocência das relações humanas. Palmer, vivido por Justin Timberlake (Amizade Colorida) em o seu melhor papel no cinema até então, representa a parcela da sociedade que assiste o longa com o olhar de estranheza, inicialmente, mas que, aos poucos, começa a desenvolver empatia pelo menino Sam (Ryder Allen) e sua solitária jornada em busca de ser livre para ser ele mesmo. A dupla, além de ótima química em cena, conduz a trama com bastante maestria e emoção. Enquanto Timberlake vive um personagem denso, recluso e amargurado com a vida, Ryder Allen faz o contraponto e esbanja fofura, em uma performance carregada de amor e doçura.

Muito pautada por momentos de puro silêncio, a trama apresenta seus personagens e logo parte para explorar as diversas situações de redenção e afinidade que aproximam a dupla e, de forma assertiva, ainda que foque suas energias em evidenciar os momentos de violência que a criança sofre, nunca transparece que o menino está internalizando sua identidade, muito pelo contrário, Sam questiona os motivos de não poder brincar de boneca ou assistir seu programa favorito, voltado para “meninas”, mesmo com ataques constantes de outras crianças e adultos, ele sabe que o errado não é ele e essa mensagem que o roteiro se esforça para passar definitivamente o afasta de outros filmes digamos… mais densos, dentro dessa mesma proposta.

A direção

Além do olhar sensível sobre um tema que gera controversas no expectador conservador, sem dúvida, a maior qualidade do diretor Fisher Stevens (A Enseada) está em como consegue transformar um filme minúsculo em uma obra eficiente em todas as emoções que se prepõe fazer. Apesar de momentos de lentidão e poucos diálogos, a narrativa não perde ritmo e o drama envolve através do carisma dos personagens e da forma afetuosa e íntima de como Stevens escolhe contar sua história, mesmo que, para atingir no coração de todos os tipos de público, seja necessário assumir caminhos mais previsíveis e didáticos, enquanto trabalha pouco dentro das sutilezas. Fora isso, a trilha, que cresce com vigor em momentos dramáticos, ajuda a conduzir as emoções, assim como a fotografia fria e escura, que resgata a atmosfera de opressão da cidade pequena e preconceituosa em o longa se constrói.

Conclusão

Dessa forma, através de uma trama extremamente relevante, sensível e corajosa, Palmer é uma montanha-russa emocional que se mantém forte tanto pela perfeita sintonia de seu elenco, quanto pela forma afetiva e didática de como explora a inocência de uma criança queer. O roteiro reflexivo e por vezes com bom humor, ainda que denso, prova que temos muito a aprender com a maneira sincera e ingênua de como as crianças enxergam as diferenças do mundo. Facilmente a melhor performance de Justin Timberlake no cinema e um filme que é difícil não se emocionar.

Nota: 8/10

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