Crítica | Em Busca de ‘Ohana – Aventura infantil herança de Os Goonies

A nova aventura amigável para as famílias Em Busca de ‘Ohana (Finding ‘Ohana), da Netflix, mergulha sua trama na cultura e nas tradições havaianas e acerta em explorar novas possibilidades, mesmo dentro de um roteiro tradicional para o gênero. O predominante tom infantil é equilibrado com engenhocas criativas e algumas boas mensagens sobre dar valor as origens e o verdadeiro significado de família, já que a história bebe da mesma fonte de clássicos como Os Goonies e Indiana Jones para montar sua jornada arqueológica de fantasia que certamente deve agradar ao público-alvo, no entanto, há muito pouco que sirva de atrativo para os demais espectadores.

A trama e o elenco

No enredo descomplicado e direto ao ponto, acompanhamos uma família havaiana de Nova York que viaja para o Havaí para se reconectar com suas origens durante as férias de verão, porém, ao encontrar um diário secreto, que aponta para um misterioso tesouro na ilha, os irmãos Ioane (Alex Aiono) e Pili (Kea Peahu) e mais alguns amigos, começam uma busca que pode mudar para sempre suas vidas. Dessa premissa “caça ao tesouro”, há uma interessante relação dos personagens com suas heranças familiares e com a cultura e ancestralidade, ofuscadas pelo mundo moderno de hoje. O roteiro faz um ótimo contraponto entre as histórias que moldaram o mundo como conhecemos e o fato de como essas informações são desinteressantes para os jovens desse século. Isso, claro, nas camadas mais profundas. Assim como a animação Moana, o longa também proporciona um vislumbre dos costumes e hábitos de um povo rico em valores ainda pouco explorados no cinema. Além de, conscientemente, revisitar cenários icônicos de filmes como Jurassic Park e séries como LOST, para evidenciar as maravilhas naturais do Havaí e criar a atmosfera mágica perfeita para que haja essa tal energia encantadora escondida na ilha.

Porém, ao voltar a superfície da trama, o roteiro não se mostra assim tão perspicaz em desenvolver uma narrativa engenhosa, já que o baixo orçamento e os cenários completamente artificiais pesam negativamente e aproximam o filme de produções televisivas do Disney Channel, enquanto a ambição de ser maior que isso acaba decepcionando. O humor, por sua vez, nunca acerta o tom e, ainda que tenha bons personagens, as piadas não soam tão divertidas. Kea Peahu, que vive a protagonista, tem carisma de sobra e consegue manter o longa no topo, porém, definitivamente não é uma atriz de comédia. Seu ponto mais forte está mesmo na química em cena com o jovem Owen Vaccaro (O Mistério do Relógio na Parede) e no entusiasmo nos momentos de ação física.

A direção

O diretor Jude Weng, que faz sua estreia em longa-metragem, aproveita as limitações e até entrega boas cenas de ação nas cavernas artificiais, condizentes com a proposta. O ritmo também funciona, ainda que leve tempo demais na introdução dos personagens no começo. O grande problema, de modo geral, surge quando a aventura realista começa a se transformar em uma fantasia mais do mesmo. Ainda que tenha evolução na história e que a protagonista descubra, gradativamente, que o verdadeiro tesouro é, na realidade, dar valor à sua família, o misticismo chega sem desenvolvimento prévio e empobrece tudo que estava sendo construído até então, aproximando o filme de outras obras genéricas do gênero. Fora que os efeitos especiais são realmente toscos e não havia a necessidade deles, já que a parcela emocional, a mais bem sucedida do longa, estava no seu clímax.

Conclusão

Embora imperfeito e às vezes previsível, sendo mais uma herança da fórmula clássica deixada por Os Goonies, a aventura Em Busca de ‘Ohana tem altos e baixos, mas se esforça para passar uma mensagem importante sobre o valor da família e se mantém fiel à singular cultura havaiana, tudo isso enquanto constrói uma fantasia de “caça ao tesouro” totalmente feita para fisgar o público infantil e que renderia uma ótima franquia na Netflix.

Nota: 7/10

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