Crítica | Abaixo de Zero – Suspense satisfatório de assistir

Interessante como o novo thriller espanhol original da Netflix, Abaixo de Zero (Bajo Cero), é um exemplo delicioso de trama que trabalha, de forma gradativa, sua tensão e, ainda que demore para engatar, cresce fortemente dentro de sua premissa básica e toma caminhos inesperados, que mantém o espectador vidrado na tela por pelo menos grande parte do tempo. Esse magnetismo é fruto de um roteiro perspicaz, que tem plena consciência de suas limitações, mas que entrega o melhor que pode fazer dentro do que se propõe. Filmes com esse tipo de essência, como por exemplo, Rua Cloverfield 10, 7500 e Quarto do Pânico, geralmente se conectam facilmente com a plateia e o maior desafio da direção é manter o nível de adrenalina e suspense no topo. Felizmente, isso é alcançado aqui, ainda que haja falhas em outras vertentes.

A trama e o elenco

Se há algo que o longa faz com maestria, além de manter o suspense relevante, é desenvolver a ambientação da trama. Após uma introdução até prolongada demais, que serve para apresentar os personagens e suas personalidades convergentes, a história se concentra dentro do ônibus blindado e da, até então, pacata transferência de prisioneiros de uma delegacia para outra durante uma fria noite de inverno. Acontece que, como é de se esperar, essa viagem não sai como planejado após um homem misterioso interromper o trajeto e tentar de tudo para entrar dentro do veículo com o mais puro e maligno desejo de vingança. Dentro dessa premissa divertida, tanto o roteiro quanto a direção aproveitam bastante a sensação de claustrofobia do local e os mistérios da situação para criar um cenário realmente intrigante e intenso, mesmo quando revela, muito cedo, a real motivação do vilão.

O astro Javier Gutierrez (A Casa), um dos melhores atores espanhóis do gênero, entrega um protagonista com princípios morais, mas que se prova ter mais camadas obscuras conforme a história avança. Ao dar vida a um policial, ele possui o fardo de ser o herói daquele caos, mas o roteiro não facilita para o personagem e, pra nossa surpresa, cria um contraponto atraente com o outro lado da moeda, já que há uma forte tentativa de humanizar o vilão e causar empatia no público. Se funciona, aí vai depender de cada indivíduo e suas vivências, mas o roteiro se mostra sábio em ao menos dar essa chance. Por outro lado, conforme as cenas de suspense aumentam, o desenvolvimento dos personagens secundários, em especial os prisioneiros, fica estagnado e logo grande parte acaba sendo descartado sem muito apego emocional. Fora as prometidas cenas de violência, que até estão lá, mas são bem menos impactantes do que se poderia esperar de um filme cuja grande parte dos personagens são criminosos perigosos.

A direção

É curioso como essa premissa de “homens presos em gaiolas dentro de um veículo pilotado por um maníaco louco” renderia um ótimo jogo de vídeo game e como há tanto para ser explorado dentro de uma ideia tão simples. Filmes que se passam grande parte dentro de apenas um ambiente são ricos em narrativas intrigantes e o diretor Lluis Quilez sabe que possui uma obra promissora em mãos com Abaixo de Zero. Sua condução é enérgica, mesmo com quebras de ritmo no começo e no desfecho, e a forma como trabalha o suspense para construir atmosfera é bastante satisfatória, especialmente por saber dilatar o tempo em momentos cuja ação está no auge, como na sequência em que o ônibus está preso em cima do lago congelado, por exemplo, que se estende por longos minutos, mas que acaba funcionando e entretendo. Desde o começo, há uma estranha sensação de mau presságio permeando a trama e alcançar essa vibe não é fácil no cinema, agora imagina ainda ter que mantê-la na constância?

Conclusão

Apesar dos tropeços da trama e de falta de grandes surpresas, Abaixo de Zero é puro eco de clássicos de ação dos anos 1990 e se prova bastante satisfatório no suspense que se propõe fazer. No melhor estilo Con Air: A Rota da Fuga, o thriller da Netflix fornece bom entretenimento e prende a atenção do espectador. Isso, por si só, já é um grande mérito, mesmo que seja um filme genérico com estilo e que, muito em breve, vai se dissipar da lembrança de quem assistiu.

Nota: 7/10

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