“Boa música não nasce de quando as coisas estão boas”, diz uma das protagonistas de Unidas Pela Esperança (Military Wives), dramédia que está chegando essa semana aos cinemas brasileiros e que explora, com veracidade e sutilezas, a arte como transformadora de vidas e a importância da música durante o processo de superação do luto. Neste caso, o longa acompanha a rotina de uma vila militar ocupada pelas mulheres dos combatentes que foram enviados para a guerra e, diferente de produções como a minissérie We Are Who We Are, da HBO, que também explora esse sentimento de espera e angústia, o roteiro agrega um humor bastante simples e eficaz enquanto as personagens precisam aprender a entrar em sintonia, literalmente, para participar de um coral distrativo e escapista. Repleto de lições, seu forte não está em surpreender o público já acostumado com a fórmula, mas sim, em como desenvolve uma ótima dinâmica entre o elenco de boas atrizes.
A trama e o elenco
Como o humor é a cereja do bolo que não permite que a trama, carregada de sentimentalismo, possa cair nos lugares mais convencionais possíveis, o roteiro dosa as piadas irônicas, com a vida “sem valor” daquelas mulheres que necessitam ser ouvidas e que vivem apenas em função de seus maridos. Por um lado, a trama é brega e ultrapassada nessa visão feminina que tanto explora e sustenta, algo que vai contra o mundo real que vivemos hoje, mas por outro, aqui e ali há uma consciência de que essas mulheres, talentosas e fortes, estão apenas orbitando em torno de seus homens, vendidos como “heróis corajosos”. Há sim a boa e velha glamorização dos EUA sobre os pobres coitados selecionados para lutar em guerras absurdas do país, mas também existem algumas camadas mais densas e, na melhor delas, está a decisão assertiva de aprofundar e focar sua trama principal nesse mundo vazio e solitário que existe na linha tênue entre amar alguém e ver esse alguém ser obrigado a te deixar.
A dinâmica da trama, inspirada na série de documentários da BBC, The Choir: Military Wives, que, por sua vez, têm base em histórias verídicas, e a construção do “coral da superação”, estão divididas em dois pilares: Kristin Scott Thomas (Rebecca – A Mulher Inesquecível) e Sharon Horgan (A Noite do Jogo) duas atrizes com presença forte e que possuem a química perfeita para esse duelo entre o tradicional x moderno. Uma delas vive uma mãe em luto após a perda de seu único filho para a guerra, já a outra, vive uma mãe que não consegue se dar bem com sua filha em fase de crescimento em uma vila militar machista e dominada por homens “predadores”. Essa personalidade diferente que ambas possuem é o que adoça a história e instiga o espectador, fora o fato de que as atrizes entregam bastante carisma e veracidade nas suas performances. Uma surpresa bastante agradável dentro de um filme que prometia ser totalmente na zona de conforto. O elenco que sobra, enorme e repleto de jovens talentosas, se destaca apenas Amy James-Kelly (Jericho), já que nesse aspecto, o roteiro falha em aprofundar suas inúmeras personagens secundárias, que só existem para preencher espaço.
A direção e problemas
O trabalho de Peter Cattaneo (Ou Tudo ou Nada) tem fortes raízes na comédia e isso se torna evidente quando o humor de Unidas pela Esperança definitivamente rouba a cena, ainda que os momentos dramáticos sejam conduzidos com bastante maestria para que possa funcionar no público, especialmente pelo uso de canções clássicas, que mexem com o lado sentimental e brincam com essa sensação de perda, afinal, todos já perdemos algo de grande importância na vida algum dia.
Por outro lado, o diretor pesa a mão no excesso de rixas sem sentido entre as protagonistas, que perdem a graça após algum tempo e se tornam apenas cansativas de se acompanhar. As sequências com canções, assim como a forma simples e convencional que Cattaneo escolhe filmar, sem firulas visuais ou ousadias, funcionam, ainda que fique aquela sensação de que o espetáculo poderia ter sido maior e mais elaborado, mesmo que esteja ressignificando os filmes de guerra ao dar outra perspectiva sobre a situação.
Conclusão
No fim das contas, Unidas Pela Esperança é um filme agradável, com uma história simples, convencional e sem surpresas, mas que funciona por conta da ótima dinâmica do elenco e por não desejar ser nada além do que a premissa promete. Apesar do roteiro se basear em uma ultrapassada, brega e clichê visão da mulher que vive em prol de seu marido e claramente o diretor refletir a sua perspectiva masculina sobre o que acredita ser a solidão feminina, o humor conquista facilmente e as canções levam o espectador à uma zona de sentimentos que se torna difícil não se emocionar. Está longe de ser um filme perfeito, mas se sai muito bem dentro de suas imperfeições.