Crítica | A Galeria dos Corações Partidos – Muito charme para pouco enredo

Retirado dos cinemas mundiais e remanejado para ter seu lançamento direto no streaming, ‘A Galeria dos Corações Partidos’ (The Broken Hearts Gallery) é mais um filme promissor na fila de se tornar um clássico jovem que falha em sua execução e põe a divertida premissa por água a baixo. Sua trama se esgota tão rapidamente, que não encontra mais caminhos para fugir do seu maior temor: reproduzir clichês de filmes adolescentes. Curiosamente, a comédia reluta em ser um “filme adolescente” e se situa no bizarro meio termo entre ser um filme teen convencional e uma comédia romântica adulta. Sem saber exatamente o que deseja entregar ou como escapar de estereótipos, segue um tom bem mais jovem, sobre descobertas amorosas e superação, mas faz seu elenco parecerem adultos na crise dos 30 anos. Essa falta de localização torna toda a premissa um tanto quanto descompensada e, certamente, leva a história para lugar algum.

A trama e o elenco

Com produção da cantora Selena Gomez e desenvolvida para ser uma narrativa contemporânea, sobre relacionamentos amorosos e essa busca desenfreada por não ficar sozinho na vida, o roteiro até constrói bem as mensagens de “seja feliz e siga em frente” que deseja passar e utiliza um casal divertido (e com bastante química) como mensageiro dessa proposta, porém, a atmosfera nova-iorquina e a pegada “jovens adultos em crise existencial” fogem totalmente dessa iniciativa. Seus personagens, ainda que engraçados, são infantis demais para o contexto, porém, suas vidas são de adultos, que precisam lidar com diversos problemas mais complexos ao longo da trama.

No roteiro vago, falta profundidade e clareza sobre qual público deseja alcançar primeiro, especialmente para explicar essa tal independência que tanto explora artificialmente. Na trama, Lucy, uma colecionadora de lembranças e objetos pessoais das pessoas que já passaram por sua vida, sofre um término ruim com o namorado, que também é seu chefe em uma galeria de arte. Sem saber o que fazer com os itens que o amado abandonou, ela organiza a “A Galeria dos Corações Partidos”, uma espécie de museu destinado à pessoas que estão se curando do fim de alguma relação amorosa. Porém, claro, logo Lucy esbarra com Nick, um jovem doce e no modelo “príncipe encantado” ou “o homem heterossexual perfeito”, e dessa união de pedaços de corações, brota um novo amor. Pois é, mais clichê, impossível, mesmo com todos os esforços do roteiro para que a trama não caia em certas previsibilidades.

Mas é graças a Geraldine Viswanathan (Má Educação) que o humor têm êxito. A jovem é fenomenal e hilária. Todo momento em que está presente em cena é delicioso de assistir, especialmente por conta da naturalidade e carisma que possui e que agrega à personagem. Já Dacre Montgomery (Stranger Things, Power Rangers), que vive o sedutor Nick, tem bastante charme e sua conexão com Viswanathan funciona. A dupla tem ótima química e, felizmente, não é doce demais a ponto de amargar. Porém, a construção do casal é aquele feijão com arroz de sempre: não se dão bem de início, mas depois se apaixonam perdidamente. Nada surpreende e as nuances seguem convencionais.

A direção e o roteiro

Uma das qualidades do texto e da direção de Natalie Krinsky (Grey’s Anatomy) está na forma em como consegue dividir a dinâmica do casal e explorar os dois lados. Uma jovem que busca encontrar o caminho dos seus sonhos e ser feliz, e um jovem cauteloso, que não quer se envolver emocionalmente com ninguém. Ainda que Lucy tenha mais foco, muito por conta da atuação de Geraldine, Nick tem momentos bons e sua personalidade condiz melhor com o contexto da trama. A diretora acerta na sensibilidade da direção, mas peca na montagem.

Há diversos cortes estranhos e erros de continuidade que não passam despercebidos, fora o roteiro, com bom humor, mas arrastado, dilatado e sem surpresas. O ritmo também não é bom. O filme é longo demais e essa quase meia hora desnecessária faz a trama ser lenta, cansativa e pouco convidativa depois de algum tempo, não conseguindo se sustentar pela ausência de reviravoltas e de não seguir caminhos menos convencionais e mais corajosos. O desfecho, por sua vez, é forçado, exagerado e bem inferior ao que se estava sendo desenvolvido até então.

Conclusão

Ainda que possa divertir o público-alvo, ‘A Galeria dos Corações Partidos’ é uma comédia romântica com poucas surpresas, mas carregada de carisma e liderada por uma atuação de Geraldine Viswanathan que é difícil não amar. Além da perfeita conexão do casal e de alguns bons momentos de humor, não há nada para agregar ao gênero e a sensação que deixa é de ter desperdiçado a chance de ser a melhor rom-com do ano, já que esse posto ainda se mantém para Palm Springs. Não é ruim como os filmes recentes e vazios do gênero, mas está longe de ficar na lembrança de alguém.

Nota: 6

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