Crítica | Rosa e Momo – Drama comovente com a lenda do cinema Sophia Loren

O roteiro, ou seja, a estrutura óssea, é a parte mais valiosa de um filme e a que mais contribui para que o mesmo venha a ser bem sucedido no que se propõe. Mesmo com baixo orçamento, se a história for interessante e a condução prender o espectador, certamente a obra vai repercutir, como acontece com o ótimo e simples ‘Rosa e Momo’ (La vita davanti a sé), novo drama italiano da Netflix marcado por um texto impecável e com atuações poderosas, entre elas, a da lendária Sophia Loren, retornando aos cinemas após alguns anos ausente.

A trama e o elenco

O drama trata-se de um remake do Vencedor do Oscar em Língua Estrangeira ‘Madame Rosa – A Vida à Sua Frente’, filme francês de 1977 que conquistou o público na época. Nessa nova versão da Netflix, o contexto é obviamente atualizado e, de forma sensível e carinhosa, a trama acompanha uma sobrevivente do Holocausto chamada Madame Rosa (Sophia Loren), que se torna responsável por cuidar de um menino muçulmano senegalês de 12 anos que a assaltou recentemente.

O jovem Momo é órfão e teve uma vida sofrida, por conta disso, Rosa o reeduca e acaba desenvolvendo um forte amor materno por ele e ele, inevitavelmente, vê em Rosa a mãe que sempre buscou. A força da obra está exatamente nessa dinâmica entre os dois e na maneira como o roteiro desenvolve, sem pressa, o afeto da dupla. Rosa é a personificação da mulher forte e guerreira, uma verdadeira leoa, já Momo, é rebelde e enérgico por conta de tudo que já apanhou da vida. Aos poucos, um completa as lacunas não preenchidas do outro. Rosa ganha um amigo fiel, enquanto luta contra a velhice, e Momo começa a enxergar o mundo de outra forma, com mais doçura e empatia.

Além da sensibilidade tremenda, as performances são espetaculares, especialmente da dupla protagonista. Loren despensa apresentações e entrega uma emoção contundente, já o jovem Ibrahima Gueye, rouba a cena do filme para si através de um trabalho delicado e carregado de talento. Vale ressaltar também a presença de uma atriz trans no elenco, vivida pela ótima Abril Zamora (Vis a Vis), cuja personagem é retratada com a naturalidade que deve ser e o fato de ser trans não é o foco da exploração do roteiro.

Fora o elenco realmente bem dirigido, a trama é carregada de simbolismos e metáforas, sendo a mais poderosa delas a imagem de uma leoa, que visita a imaginação de Momo e o dá carinho, fruto de sua necessidade de afeto e amor materno. A presença do animal emociona e estilhaça o coração do público, especialmente por conta de Rosa ser a correspondente direta desse sentimento e por representar um retorno as suas raízes africanas. Mesmo longe de casa, o jovem carrega consigo essa sensação de proteção, personificada em um animal selvagem cuja principal característica é ser uma mãe presente e guardiã.

A direção

A condução de Edoardo Ponti, filho de Loren, é delicada e sem pressa. O diretor trabalha as nuances de sentimentos entre a dupla e visivelmente mergulha no individual de cada um antes de fazer as conexões. Apesar do ritmo mais lento, a trama não perde energia e não desgasta, muito pelo contrário, se torna gradativamente mais emocional e interessante, ao mesmo tempo que cresce o teor de reflexão sobre a morte e a tristeza que nasce da sensação de estar sozinho no mundo. Há um recorte poderoso da realidade e a maneira como Ponti escolhe mostrar, agrega um valor de veracidade semelhante ao que vemos em muitos filmes brasileiros, inclusive, a trilha sonora conta com a participação de Elza Soares em uma cena bem deliciosa de se assistir.

Conclusão

Comovente, sincero e poderoso, assistir ‘Rosa e Momo’ equivale a receber um abraço apertado e carregado de afeto, extraído de um drama tocante sobre maternidade e solidão, cuja última cena certamente vai ficar no seu coração por um bom tempo. Com uma direção eficiente e sensível e atuações empolgantes, especialmente da lenda Sophia Loren, a história emociona e diverte na mesma proporção, ainda que seja simples e direta em conquistar o público pelo sentimentalismo. Se está procurando algo de qualidade e realmente expressivo para assistir na Netflix, essa obra passa a frente com facilidade.

Nota: 9

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