É bem evidente que as comédias românticas se tornaram o carro-chefe dos conteúdos da Netflix nesses últimos anos e a tendência é crescer ainda mais, já que esse tipo de filme realmente têm funcionado melhor em streaming do que no cinema. Por conta dessa demanda do público-alvo, a quantidade de produções é exorbitante, sendo a grande maioria feita apenas para preencher catálogo, porém, algumas, como a festiva ‘Amor com Data Marcada’ (Holidate), acabam se sobressaindo, ainda que agregue pouquíssima novidade ao gênero. A obra da Netflix reúne o que funciona de melhor em comédias românticas natalinas e estende a premissa para diversas outras datas comemorativas ao longo do ano e, com isso, cria um romance água com açúcar, que parece um manual de “o que não fazer em um feriado americano”.
A trama e o elenco
Na trama de Amor com Data Marcada, acompanhamos uma jovem cheia de personalidade, perto dos seus 30 anos, que não sabe exatamente o que fazer da vida após o término traumatizante de um namoro. Morando com seus pais e sendo regularmente rechaçada por não ter um namorado ou mesmo uma perspectiva para o futuro, ela conhece um galã destrambelhado e desenvolve uma curiosa amizade colorida que, evidentemente, começa a se transformar em um forte romance, enquanto combinam de se encontrar apenas para dates em datas comemorativas. Dessa premissa novelesca, nasce uma comédia até bem humorada, que se destaca por dois principais motivos: ter um casal boca-suja e ácido, diferente do habitual, e o fato de explorar todos os grandes feriados americanos ao longo de um ano de história, não permitindo que a trama caia na monotonia do clima cansativo do Natal.
Porém, obviamente, ainda estamos lidando com uma comédia romântica contemporânea, ou seja, clichês vão existir, especialmente na estrutura básica do roteiro, que tenta (desesperadamente!) fugir do previsível, mas segue um caminho óbvio e cômodo, já que sua proposta é a mesma de tantas outras: mostrar um casal que tem pouco em comum, se apaixonando por conta da convivência, no melhor estilo ‘A Proposta’, com Sandra Bullock, ou mesmo ‘Amizade Colorida’, com Mila Kunis. Ainda assim, é perspicaz em rir desses estereótipos e até consegue subverter algumas expectativas aqui e ali. Definitivamente, o roteiro não inventa a roda, mas sabe caminhar muito bem sobre ela.
No entanto, o carisma brota mesmo através do elenco, especialmente do humor sarcástico e rebelde de Emma Roberts (American Horror Story), que está confortável no papel e visivelmente se diverte junto com a personagem. Já Luke Brace (Até o Último Homem), demora para acertar o tom do galã cafajeste, apesar da química com Roberts ser boa e seu timing cômico funcionar para a grande maioria das piadas carregadas de conotações sexuais e palavrões. Aliás, o humor se sobressai bem mais que o romance, que só ganha espaço mesmo próximo ao desfecho. As piadas são equilibradas e algumas funcionam mais que outras. O tom sínico e desbocado é divertido de ser assistido.
Direção e ritmo
O trabalho de John Whitesell, veterano em filmes exagerados, como os da franquia ‘Vovó… Zona’, é descompensado e com ritmo corrido, obviamente para apresentar todas as datas comemorativas, que vai da Páscoa ao Halloween, porém, constrói precariamente a relação entre os personagens e preenche, de forma bem superficial e rasa, as lacunas entre as datas. Ainda que os atores tenham bastante química em cena, é difícil acreditar na veracidade das situações propostas pelo roteiro e mal trabalhadas pela direção, que se mostra mais preocupada em preencher todos os pré-requisitos do gênero. Falta sensibilidade nos personagens e mais emoção entre suas idas e vindas casuais.
A sensação é de que o barco está afundando gradativamente quando a premissa se esgota e o diretor tapa os furos com elementos expositivos já utilizados ao desgaste em tantos outros filmes, como o fato de um começar a ter ciúmes do outro (para evidenciar o amor e gerar conflitos estúpidos) e situações bregas demais para uma trama que finge ser moderna, que se passa nos dias atuais e não mais no começo dos anos 2000.
Conclusão
Através disso, ‘Amor com Data Marcada’ habita a virtuosa zona entre ser uma comédia romântica genérica e uma obra que, inteligentemente, sabe subverter seus clichês. Ou talvez seja as duas coisas somadas. Porém, um fato é certo: será o novo guilty pleasure da Netflix. Mesmo com previsibilidades no roteiro, funciona em ser o entretenimento que se propõe, diverte, com seu humor debochado, e ainda abre a temporada de comédias românticas natalinas com a breguice única que só esses filmes podem proporcionar.