A tal crise dos 30 anos têm sido um poço sem fundo de criatividade para os roteiristas na hora de escrever uma comédia dramática contemporânea. Ainda que o tema já tenha desgastado, não deixa de ser uma zona curiosa e que pode sim render ótimas narrativas, como, felizmente, acontece com ‘Caindo em Pé’ (Standing Up, Falling Down), longa-metragem que está chegando ao Brasil como Original TNT e que explora muito bem essa fase da vida de um homem, que não sabe exatamente o que fazer após perceber que já é adulto e precisa construir sua vida de forma individual e longe de seus pais super protetores.
A trama e o elenco
No enredo, uma amizade improvável surge entre um comediante fracassado, que tem seus 30 anos e não sabe o que fazer com sua vida, e um simpático médico mais velho. Os dois descobrem que têm muitas coisas em comum e acabam desenvolvendo um relacionamento “bromântico”, que serve de conforto um para o outro. Enquanto Scott tenta encontrar sua real vocação e independência, Marty busca resgatar o amor de seu filho.
Dessa premissa, nasce uma dramática divertida, sobre estar tudo bem em não saber o que vem a seguir na vida. Ben Schwartz (Sonic – O Filme) está ótimo como protagonista, naturalmente engraçado sem muito esforço, assim como o icônico Billy Crystal (A Máfia Volta ao Divã), que entrega bastante emoção e carisma. A química da dupla conquista o espectador, porém, só se estende mesmo para eles, já que os personagens coadjuvantes são superficiais e descartáveis, afinal, o foco central está mesmo na relação de amizade que nasce dessa diferença de idade e comportamento de ambos. Enquanto um surta por não saber o que quer, o outro sabe muito bem seu caminho, mas quer ser jovem e recuperar o tempo perdido. São personagens com camadas interessantes e bem desenvolvidos.
A direção e o ritmo
O trabalho de Matt Ratner, que tem grande carreira como produtor, talvez seja o ponto mias baixo de Caindo em Pé. A narrativa é arrastada e o ritmo não equilibra bem o tipo de humor, já que o excesso de diálogos paralelos acaba afetando o desenvolvimento da história. Demora para a jornada do protagonista engrenar e, de início, tudo parece muito forçado. Ratner desperdiça a oportunidade de colocar mais ritmo nas piadas e na relação carinhosa da dupla.
O tom melancólico, que permeia por toda a trama, acaba por deixar o drama mais evidente e o humor mais de escanteio. Ainda que esteja longe de ser uma comédia convencional, o riso existe, mas muito isolado e, sem dúvida, teria agregado bastante magnetismo caso estivesse mais evidente, já que o elenco entrega muito bem tanto o drama quanto a comédia. O humor, por sua vez, é sobre decepções do cotidiano e desilusões da vida, ou seja, há bastante o que explorar e talvez tenha se tornado monótono por não seguir, de fato, por esse caminho.
Conclusão
Com isso, ‘Caindo em Pé’ nada mais é do que um “bromance” sobre a crise da meia idade e, apesar de parecer brega em sua essência, o roteiro é divertido e remete bastante as dramédias dos anos 1990, especialmente as com Billy Crystal que, aliás, brilha em seu retorno aos cinemas. Apesar das falhas da direção e de uma trama que caminha na corda bamba entre a monotonia e a emoção, consegue ser uma obra acima da média, com um elenco bom e que conquista gradativamente o espectador que busca um filme leve.