A estética de videogame tem ocupado espaço nos cinemas atualmente, não apenas em adaptações de jogos, mas também na forma de como a direção conduz a narrativa, ao utilizar elementos populares nessas mídias, como vemos no drama de guerra ‘1917’ e ainda mais evidente no thriller de ação ‘Armas em Jogo’ (Guns Akimbo), que chega ao Brasil agora como Original TNT e que ficou famoso na internet por viralizar um meme do ator Daniel Radcliffe (Harry Potter) transtornado pelas ruas da cidade. Felizmente, o longa é bem mais do que o meme, mas não o suficiente para ser singular, ainda que a trama pise no acelerador e só para quando o filme termina, a “acid trip” diverte, mas o roteiro falta substância e se esgota muito rapidamente.
A trama e o elenco
Carregada de violência gráfica e ação, a trama de Armas em Jogo acompanha um jovem nerd comum, que se envolve com uma poderosa corporação cujo objetivo é colocar duas pessoas em um jogo sádico de gato e rato até que uma delas morra. Daniel Radcliffe vive o protagonista, que possui armas de fogo parafusadas em suas mãos de forma involuntária, quase um ‘Edward Mãos de Tesoura’ da Era digital. O ator está ótimo no papel, hilário e espontâneo, que exige bastante de sua capacidade física para entregar a forma desenfreada de como o roteiro se desdobra, muito similar ao que James McAvoy faz em ‘O Procurado’.
Sua jornada é simples e direta, sem nuances ou modificações significantes no seu caráter. Ele sofre bullying no trabalho e sente que o mundo oprime suas ideias, por conta disso, durante a luta alucinante para sobreviver, acaba encontrando forças para se manter vivo, mesmo que o roteiro esteja bem mais interessado em chocar o espectador com o nível de violência nas cenas de ação, que são realmente impressionantes, ainda assim, o desenvolvimento do personagem deixa a desejar. Na outra ponta da caçada está uma Samara Weaving (Casamento Sangrento) divertidíssima, como de costume. Porém, sua personagem agrega um sentimentalismo forçado, mal realizado e que não convence.
A direção
Sem dúvida, destaque positivo da produção está na condução enérgica e alucinada de Jason Lei Howden (que já havia trabalhado com essa estética em ‘Deathgasm’). A câmera flutua sem rumo em planos belíssimos e diferentes, que agregam um nível de alucinação e loucura perfeitos para o ritmo da montagem. O excesso de cortes, especialmente nas cenas de ação, deixa o espectador zonzo e sem fôlego e, por pior que isso possa ser, funciona dentro da proposta.
Porém, assim como a falta de ação cansa, o excesso dela também entorpece e perde o espectador facilmente, principalmente quando todo o restante é vazio, sem rumo e sem grandes surpresas. A fotografia também está bastante escura nessas cenas mais eletrizantes, certamente para disfarçar as imperfeições. Falta mais neon e cores para que a viagem seja psicodélica, já que a trilha, repleta de rock, segue perfeita. Apesar de muito estilo, a identidade visual da obra não chega aos pés do seu conceito.
Conclusão
O divertido e frenético ‘Armas em Jogo’ utiliza a ação desenfreada para esconder a ausência de qualidade do roteiro, mas transforma Daniel Radcliffe em uma máquina assassina hilária, que certamente vai agradar quem gosta da estética videogame. É muita ambição para pouco estilo e, de tão alucinante que a viagem cyberpunk é, a overdose acaba sendo fatal.