Crítica | Espírito de Família – Drama comovente, com humor exagerado

O senso de humor francês consegue ser extremamente eficiente quando trabalhado junto ao drama familiar. Mas isso também pode ser um problema catastrófico. Ambos os gêneros se complementam muito bem, especialmente pelo estilo verborrágico e acelerado das comédias europeias. Essa falta de pretensão e ingenuidade de alguns filmes desse meio pode entregar ao público uma obra bobinha e singela, feita no melhor estilo “Sessão da Tarde”, porém, é preciso duas vezes mais ânimo e energia para manter o espectador conectado com a trama até o final, algo que acaba não acontecendo com a dramédia ‘Espírito de Família’ (L’Esprit de Famille). Apesar de seu tom novelesco e de possuir um humor com altos e baixos, o longa entrega um drama sobre luto que envolve, mas tem total desequilíbrio quando tentar, exageradamente, ser cômico.

A trama e o elenco

Na trama, que vai direto ao ponto, acompanhamos a jornada de luto de Alexandre (Guillaume de Tonquédec), que acaba de perder seu pai. No entanto, ele continua ouvindo, vendo e discutindo com ele. Só Alexandre consegue ver e falar com o falecido, o que causa preocupação em sua mãe e familiares, que o veem falar sozinho o tempo todo sem saber se está ficando louco ou apenas surtando. Dessa premissa no estilo ‘Os Fantasmas Se Divertem’, a trama desenrola a típica reunião de família que dá errado, enquanto o protagonista precisa aprender a lidar com o fato de que seu pai não está mais ao seu lado e, dessa forma, seguir em frente. Carregado de mensagens no estilo Disney e algumas lições sobre paternidade, que são realmente comoventes, especialmente pela boa química entre Tonquédec, que está divertido, e François Berléand (Carga Explosiva), que dá vida ao seu pai fantasma, a atmosfera da comédia é até boa e começa interessante, mas não demora muito para o roteiro dar voltas e mais voltas em torno de uma premissa que se esgota muito rapidamente.

Direção

A condução de Eric Besnard (O Sentido do Amor) é fraca e sem ânimo no quesito ação, mas o diretor sabe trabalhar seu elenco e conquista certa naturalidade das atuações ao longo do percurso. Não é algo espetacular, mas dos males, é o menor. O grande problema está mesmo no roteiro maçante, exagerado e desesperado para fazer graça, principalmente com o fato do morto ser o alívio cômico da história. Apesar dessa proposta funcionar em outras premissas mais sofisticadas, aqui se torna um elemento do roteiro muito falho para gerar comédia, uma vez que só se sustenta através disso e tem dificuldades de ser divertido sem o uso desse artefato. A parte técnica, por sua vez, tem uma direção de fotografia equilibrada, porém, o som direto está bem estourado e falta tratamento. Também faz falta uma trilha mais intensa, para guiar o espectador pela jornada comovente que busca desenvolver.

Conclusão

Ainda que ‘Espírito de Família’ seja uma comédia leve e ingênua, seu roteiro maçante provoca tédio muito rapidamente, uma vez que funciona melhor no drama sobre paternidade que desenvolve do que no humor desesperado que entrega. Ainda assim, deve divertir quem gosta do senso de humor francês e procura um filme inofensivo. Uma pena que, apesar de não ter essa ambição, poderia ser muito mais do que apenas isso.

NOTA: 6

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