Não se levar a sério é uma qualidade irrevogável que uma palhaçada como ‘A Babá: Rainha da Morte’ (The Babysitter: Killer Queen) pode ter, especialmente por, conscientemente, parodiar o terror slasher sem medo algum de soar cafona e/ou exagerado, por mais que, inevitavelmente, seja. Essa vertente “terrir” do cinema já nos presenteou com ótimas histórias, como o ‘Terror Nos Bastidores’ e algumas bombas, porém, a sequência de ‘A Babá’, filme de 2017 da Netflix, parece ultrapassar todo e qualquer limite entre os dois gêneros para desenvolver uma trama surtada, que joga com cada um dos estereótipos do cinema de terror e entrega uma comédia curiosamente divertida, dominada por exageros, seja de enredo ou mesmo visuais, que necessita do mais difícil: um espectador que não faça perguntas e só se deixe levar pela presepada.
A trama e o elenco
A história dá sequência ao ótimo filme de 2017 e se passa 2 anos após os eventos traumáticos na vida do jovem Cole (novamente interpretado por um já crescido Judah Lewis), agora no ensino médio e precisando lidar com o fato de que todos acham que ele tem problemas mentais. Além de lidar com questões da adolescência, como puberdade e descoberta da sexualidade, Cole é novamente arrastado para a seita satânica que enfrentou no passado, porém, ainda mais poderosa do que antes. Mas ele não está sozinho e contará com a ajuda da misteriosa aluna novata, vivida pela atriz Jenna Ortega (da série ‘Você’).
Dessa premissa, nasce uma aventura espirituosa e imaginativa, que faz referência à diversos filmes clássicos e ainda tira sarro dos clichês do terror, ao mesmo tempo que se desenvolve em torno de todos esses mesmos clichês. De forma criativa, o roteiro coloca um plot twist após o outro, mesmo sabendo que as surpresas já são esperadas e, se alimentando de estereótipos e conveniências do gênero, acaba por divertir exatamente por entregar o que já se espera.
Lewis e Ortega possuem uma química boa e fazem uma ótima dupla em cenas de ação, destaque para Ortega e seu ar de superioridade da perfeita adolescente que se acha a dona do mundo. Emily Alyn Lind (Doutor Sono) também se destaca positivamente, ainda que sua personagem enfrente sérios problemas na construção, fruto de uma sequência que, ainda que eleve o nível de qualidade e seja ainda mais surtada, acaba por anular tramas do passado e enganar o espectador que investiu seu tempo.
É precisa assistir essa franquia com a consciência de que nada é o que parece ser e qualquer reviravolta, tirada sem grandes explicações da mente dos roteiristas sacanas, que só querem provocar, pode mudar o rumo da história toda. Nesse aspecto, personagens mortos retornam do além sem motivos aparentes (e isso se repete inúmeras vezes), ou seja, nem a morte aqui funciona da forma convencional e é visível que o intuito é trazer o elenco de volta, como Bella Thorne (Sol da Meia-noite) e Robbie Amell (Upload). Qualquer ideia sem critério que surgir na cabeça insana dos roteiristas pode ser possível, por conta disso, há uma enxurrada de “deus ex machina” que deviam se dissecados em aulas de faculdade de cinema.
A direção
Há algumas referências à ‘Exterminador do Futuro 2’ (inclusive no visual do protagonista!) em A Babá: Rainha da Morte e o roteiro quer que o espectador note que essa sequência é feita para ser, assim como a franquia de Sarah Connor, melhor que o filme anterior, algo realmente raro no cinema. Essa ambição de ser ainda maior e mais alucinada, acaba levando embora parte do charme que ‘A Babá’ possuía, especialmente por ser uma comédia slasher que se aproximava dos filmes de Halloween. Nessa nova empreitada, além de haver um elenco excessivamente grande, a trama não segue uma lógica e, fora o desenvolvimento do protagonista, todos os personagens são facilmente descartáveis e vazios (ainda que eles sejam propositalmente a personificação de cada um dos estereótipos de filmes de terror, como o galã sem camisa, o negro alívio cômico e a menina que só quer ser sexy).
A direção de McG, que por coincidência (ou não!) foi quem comandou ‘O Exterminador do Futuro: A Salvação’, além dos dois filmes de ‘As Panteras’, é condizente com a proposta e escolhe planos divertidos para construir as cenas de ação, como lutas de videogame e momentos de jump scare. O diretor é criativo e tem uma bagagem boa para esse tipo de filme. Além disso, o humor ácido também funciona. A comédia escrachada e sem limites garante ótimas risadas, mais ainda que o anterior.
Conclusão
Um filme que você não sabia que precisava existir até ver, ‘A Babá: Rainha da Morte’ é uma paródia surtada, gore e violenta, que divertidamente alcança o feito raro de ser melhor que a original por conta de seu humor duas vezes mais absurdo e nonsense.
Ainda assim, apesar de mais divertida e madura, a sequência não possui o charme de terror slasher do primeiro filme e se deixa levar pelo excesso de presepadas e retornos de personagens que não fazem o menor sentido. Mas para esse filme a regra é bem clara: quando não se leva a sério, a aventura hilária e incoerente é o mais puro e exótico entretenimento.