Crítica | ‘Cobra Kai’ aprendeu a voar na 2° temporada

“Primeiro aprender a ficar em pé. Depois aprender a voar. Lei da natureza.”

Essa foi uma frase dita pelo senhor Miyagi em 1984, em Karatê Kid – A Hora da Verdade. Na época, Daniel-San estava dando seus primeiros passos para se tornar um grande lutador, mas, muito mais do que isso, estava dando os primeiros passos para se tornar a melhor versão de si mesmo. Pule algumas décadas e a mesma frase encaixa-se perfeitamente com a série que continua a história: Cobra Kai.

Se na primeira temporada, pode-se ver uma pequena expansão de universo, que alinhava perfeitamente nostalgia com novidade, na segunda isso acontece com ainda mais primor.

A história continua exatamente do ponto onde a primeira terminou, com Miguel Diaz (Xolo Maridueña) vencendo o torneio de All Valley. A partir disso, Daniel LaRusso (Ralph Macchio) percebe que precisa continuar o legado do senhor Miyagi e decide abrir um dojo em homenagem ao seu antigo mestre, fazendo pelos jovens a mesma coisa que fizeram por ele: mostrar o caminho certo a ser trilhado. Enquanto isso, a presença do antigo mestre de Johnny Lawrence (William Zabka), John Kreese (Martin Kove), traz novos desafios para todo mundo e muitos problemas pela frente.

A segunda temporada da série melhora tudo o que foi apresentado no primeiro ano: as cenas de luta são mais bem coreografadas e têm um escopo maior também; a trama se torna mais complexa com a presença de Kreese e equilibra muito mais as partes de Daniel e Johnny Lawrence; e, por fim, traz novas nuances de todos os personagens, mostrando da melhor forma possível que não existe apenas bom e mal.

A adição de Kreese na trama, à primeira vista, não é tão interessante. Parece uma repetição desnecessária, ainda mais considerando que ele já havia retornado no terceiro filme da trilogia. Mas os produtores conseguiram criar uma história interessante com ele, que engata durante os últimos episódios. Ainda que seja a parte mais previsível deste novo ano, traz um desafio pessoal interessante a Johnny.

Se na primeira temporada a série apenas estava vendo onde poderia chegar, a segunda já reitera que Cobra Kai é uma das melhores produções do momento. A forma como a série sabe retratar que cada pessoa tem uma história por trás de quem ela é – especialmente na forma como faz isso com Johnny – é um dos maiores ganhos que a televisão norte-americana teve.

Apesar de ser um ano mais sério, a segunda temporada não perde a leveza que é intrínseca de Karatê Kid. O senso de humor segue bem ajustado e com um timing perfeito, sem exageros ou palhaçadas. Mas o melhor incremento deste segundo ano é o drama. Na primeira temporada, a série apresentou sutilmente o passado de Johnny e Daniel, mas, agora, expande isso e insere uma carga dramática perfeita – principalmente por conta da adição de Kreese. Além disso, os personagens secundários ganharam mais tempo de tela, especialmente os que fazem parte do dojo Cobra Kai – o que foi uma decisão sábia, porque a garotada sabe atuar!

E outra coisa importante: Karatê Kid sempre foi um conjunto de coisas. É um filme que fala sobre bullying, superações pessoais, paixão, a importância da figura de um mentor e ensina sobre o valor da determinação. Cobra Kai tem como seu maior mérito conseguir manter todas essas coisas, ainda que não tenha a peça principal do filme, que é o senhor Miyagi. Em vez disso, a série ensina algo muito importante também: que as pessoas se vão, mas o legado delas vive nas pessoas que continuam vivendo como elas viviam. E isso é evidente não só no Daniel, mas também em Johnny. É muito interessante ver esses personagens amadurecidos e, mesmo que sejam mais velhos, ver como eles ainda erram tanto.

Diferentemente de continuações como Star Wars e Jurassic World, que se prendem a uma nostalgia barata e desnecessária, sem avançar em nada, Cobra Kai é a melhor dessa leva de continuações da cultura pop. A série respeita o que já foi estabelecido, subverte expectativas, traz novos personagens interessantes e cativantes, e inova em sua história.

Como já diria o senhor Miyagi: “Primeiro aprender a ficar em pé. Depois aprender a voar. Lei da natureza”. Na primeira temporada, Cobra Kai aprendeu a ficar em pé. Agora, na sua segunda, a série aprendeu a voar. E tem tudo para manter isso na terceira.

Texto escrito por Mateus Santos

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