Apesar de ser uma das poucas séries da TV aberta americana com uma mulher negra no papel principal, ex-funcionários dizem que All Rise dificilmente é um bastião da diversidade racial ou da igualdade de gênero.
Em uma reportagem do New York Times publicada na quinta-feira, ex-roteiristas do drama de tribunal da CBS dizem que entraram em confronto repetidamente com o showrunner Greg Spottiswood sobre o tratamento que o programa dá à raça e ao gênero. Cinco dos sete roteiristas originais da série supostamente pediram demissão devido a esses conflitos, incluindo os três roteiristas negros mais bem classificados da série. Aqueles que falaram com o Times dizem que Spottiswood, que é branco, ignorou ou rejeitou suas tentativas de fazer o programa refletir com precisão as experiências de indivíduos negros, indígenas e de cor.
“Tivemos que fazer muito nos bastidores para evitar que esses roteiros fossem racistas e ofensivos”, disse ao Times a roteirista e produtora Shernold Edwards, uma mulher negra. Ela se lembrou de vários casos em que o diálogo da personagem principal ou os enredos pareciam inautênticos ou estereotipados. Quando ela tentou levantar objeções aos colegas, ela disse, eles perguntaram por que a raça do personagem era importante.
“O fato de ainda estarem fazendo essa pergunta me diz que há pessoas na série que são incapazes de escrever para pessoas de cor e não deveriam escrever para pessoas de cor”, escreveu Edwards em um e-mail para os produtores da série, de acordo com o Times.
All Rise, que é produzida pela Warner Bros. Television, é estrelada por Simone Missick como uma juíza idealista de Los Angeles, com o show seguindo casos de várias figuras do tribunal e vidas pessoais. Em uma declaração fornecida à EW, a Warner Bros. disse: “Assim que tomamos conhecimento das preocupações na sala dos roteiristas de All Rise, tomamos medidas para realizar uma revisão do ambiente de trabalho. As descobertas não revelaram uma conduta que justificasse a remoção [Spottiswood] da função de Produtor Executivo.” Após essa investigação, que ocorreu no ano passado, o estúdio designou um coach corporativo para aconselhar a Spottiswood.
Representantes da CBS não quiseram comentar.
Tanto Edwards quanto o co-showrunner Sunil Nayar, um índio americano, dizem que deixaram o show após desentendimentos com Spottiswood sobre o conteúdo dos roteiros. Isso supostamente incluía um incidente no qual Spottiswood tentou remover uma cena, escrita por Nayar, na qual o personagem de Missick discutia o policiamento racista com um oficial de justiça negro depois que ele foi parado pela polícia enquanto corria. A cena foi restaurada depois que Missick levantou objeções, disse Nayar.
Em outro caso, um roteiro pedia que um homem nu se juntasse a duas mulheres em um elevador, “e elas continuassem a conversa como se nada de estranho estivesse acontecendo”, segundo o Times. Nayar e Edwards dizem que levantaram objeções a Spottiswood depois que “a maioria dos escritores do programa” considerou a cena problemática, e a cena foi finalmente revisada.
Spottiswood disse em um comunicado à EW: “Quando parecia que a sala dos roteiristas estava lutando para funcionar tão eficazmente quanto deveria, reconheci que precisava mudar a forma como estava trabalhando. Procurei voluntariamente treinamento de gestão e coaching de liderança. Reconheço que posso ter um tom retórico, professoral na sala e que pode ser percebido por alguns como condescendente, e que posso ser defensivo em conversas e debates criativos. ”
A Warner Bros. disse que “apesar dos esforços significativos feitos pelo estúdio para reter o Sr. Nayar, ele pediu para ser dispensado de suas funções como produtor executivo / co-showrunner, uma decisão que finalmente apoiamos. Com relação às saídas da equipe de roteiristas, nós valorizamos muito a todos na equipe, incluindo a Sra. Edwards, e nosso objetivo final era retê-los.” Dee Harris-Lawrence, uma mulher negra, foi contratada para substituir Nayar como co-showrunner.
Após a saída dos escritores, Spottiswood realizou uma reunião para discutir as tensões nos bastidores e “ficou emocionado ao dizer à equipe que havia falhado com eles”, de acordo com dois indivíduos anônimos que falaram ao Times.
“Continuo fortemente comprometido em melhorar meu estilo e habilidades de comunicação; e em ser um líder mais inclusivo – garantindo que escritores e artistas não sejam apenas ouvidos, mas se sintam ouvidos, respeitados, seguros e valorizados”, acrescentou o showrunner em sua declaração.
A CBS renovou All Rise para uma segunda temporada.
Fonte: EW