Crítica | Nada faz sentido em ‘A Caverna’, novo sucesso na Netflix

Usar o tempo em prol de desenvolver uma trama cabível nas leis estabelecidas pela ficção científica não é para todos. Se por um lado, mexer com o tempo proporciona ótimas inovações na narrativa de filmes, por outro, quando mal realizadas, temos exemplos deploráveis e bizarros, como o longa ‘A Caverna’ (Time Trap), lançado em 2017 mas que está fazendo grande sucesso no catálogo da Netflix só agora, certamente por prometer viagens no tempo, elemento que chama bastante a atenção dos assinantes. Mas, apesar de ser empanturrado de elementos, não é a maluquice narrativa o maior problema desse filme, mas sim, seu péssimo ritmo e desenvolvimento, já que a premissa em si até era promissora caso fosse feita por algum diretor ou roteirista minimamente mais cuidadoso.

A trama

Desde o começo, percebemos que a produção é de baixo orçamento, mas isso não é problema para a direção, já que decidem, ainda assim, mostrar momentos de puro delírio visual com efeitos especiais tirados diretamente da década de 1980 de tão falsos e artificias que são. A dupla de diretores Ben Foster e Mark Dennis optam por mostrar demais, mesmo com poucos recursos disponíveis. Essa ambição é um dos elementos que mais prejudica o desenvolvimento lento e sem ânimo da história, que se passa quase totalmente dentro de uma caverna mágica, com uma fenda temporal onde o tempo funciona de outra forma. Um minuto naquele lugar pode significar milhares de anos do lado de fora. Dessa premissa, os personagens extremamente vazios e irritantes descobrem que o planeta Terra nem é mais habitável depois de algumas horas presos na tal caverna e, como se não bastasse, ainda tem viagens espaciais, alienígenas, fonte da juventude, homens das cavernas e uma cacetada de outros elementos para deixar o roteiro ainda mais desconexo, absurdo e trash.

Sinceramente, após uma hora de filme percebemos que qualquer coisa maluca é possível e a trama nem mais envolvente consegue ser. A fenda temporal e as viagens no tempo dão espaço à tantas presepadas sem fundamento, que o drama dos personagens e suspense do lugar dão espaço para uma comédia grotesca, que mais se aproxima de um TCC de faculdade de audiovisual do que um longa sério, feito para os cinemas. Falta tratamento de cor, direção de fotografia e uma montagem mais astuta. O ritmo, por sua vez, é lento demais e a história não anda, certamente é o espectador que se sente preso no emaranhado de cafonices e decisões ruins dos personagens, que só cresce para um desfecho tão distante e maluco em relação a trama inicial que mais parece dois filmes diferentes dentro de um filme que não faz a menor ideia para onde está indo. E olha que fendas temporais são algo que, se bem trabalhadas, rende histórias criativas e divertidas, ainda que loucas, como a comédia romântica ‘Palm Springs’.

O elenco

O elenco, por sua vez, é formado por atores desconhecidos que visivelmente estão desconfortáveis nos papeis. Em especial, a atriz Brianne Howey (Batwoman), que vive uma personagem tão desconexa com o ritmo e a intensidade do filme, que fica difícil encaixá-la. Mas é o galã Reiley McClendon (Os Meninos Voadores) que entrega a pior performance possível com zero emoção e entusiasmo de sua parte. A sensação que fica é de que o elenco está tão perdido na trama quanto nós, espectadores. O jovem Max Wright, por exemplo, que vive um personagem que era para ser a criança carismática, entrega apenas uma chatice sem precedentes. E com ressurreições sem pé nem cabeça, o roteiro não consegue ser ousado a ponto de se despedir de personagens. Nada realmente se mantém por algum tempo e a trama começa a dar voltas e mais voltas em torno de nada, porém, plenamente acreditando que está inovando na narrativa e apresentando uma história singular. E ainda sobra espaço para ser brega, ultrapassada e tediosa? Sobra.

Conclusão

Através disso, haja suspensão da descrença para que qualquer coisa em ‘A Caverna’ possa fazer algum sentido. A trama maluca não funciona, o elenco é puro desânimo e os efeitos especiais parecem ter sido retirados das piores obras dos anos 1980. A premissa boa é jogada no lixo com o excesso de presepadas que o roteiro insiste em encaixar na história que, por si só, já teria funcionado caso fosse mais sutil e melhor desenvolvida dentro da proposta de brincar com o tempo. Sinceramente, a vontade é de entrar em uma fenda temporal ir para longe da Netflix nesse momento.  

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você vai querer ler isto: