Primeiras Impressões | ‘Lovecraft Country’ é a perfeita união de fantasia com crítica social

Juntar dois nomes importantes da TV atualmente é de se esperar que algo minimamente curioso e instigante possa nascer dessa união. Enquanto J.J. Abrams (Lost, Star Wars, Super 8) sabe desenvolver uma fantasia com monstros como poucos atualmente, Jordan Peele (Corra!, Nós, The Twilight Zone) tem a poderosa característica de usar fortes críticas sociais ensopadas de entretenimento de qualidade. E dessas duas fontes de criatividade que brota a impecável ‘Lovecraft Country’, nova série da HBO que mergulha no universo sombrio e singular do autor H. P. Lovecraft, enquanto utiliza o racismo como alegoria para uma trama repleta de reflexões.

Mas, ainda que o primeiro capítulo, que servirá de base para essas primeiras impressões, seja recheado de reparação histórica e debates importantes (e muito pontuais!) sobre a segregação racial nos Estados Unidos, o equilíbrio está no puro e delicioso entretenimento que entrega, com ótimas sequências de ação e uma fantasia muito bem elaborada dentro do universo estranho e maluco de Lovecraft, algo parecido com o que Abrams faz em ‘Castle Rock’, porém, criando ligações entre as obras de Stephen King.

Essa imersão nos livros e histórias dos autores é rica em easter eggs e muito interessante como os roteiros conseguem estabelecer um universo conectado, mesmo sendo de livros tão diferentes. Logo nos primeiros minutos já podemos ver alienígenas, parecidos com os de ‘Guerra dos Mundos’ (do autor H. G. Wells), o icônico Cthulhu, entidade cósmica criada por Lovecraft em 1926, e outras inúmeras referências à ficção científica do começo do século passado. É puro deleite visual, que conquista logo de cara, com uma direção de arte e fotografia primorosa.

O Elenco

O elenco de Lovecraft Country, por sua vez, está perfeito. Jonathan Majors (Destacamento Blood) vive o protagonista e entusiasta da obra de Lovecraft Atticus Black, que se torna um perfeito guia de nós, espectadores, no universo da trama. Jurnee Smollett (Aves de Rapina) tem carisma (e voz) de sobra e Courtney B. Vance (American Crime Story) completa a tríplice dos aventureiros pelo racista Sul dos Estados Unidos. O racismo do país, especialmente nos bizarros anos de 1950 (quando a trama se passa) serve como base para evidenciar os monstros, tanto da sociedade branca da época, quanto criaturas reais, semelhantes à vampiros, que apavoram o desfecho do episódio e prometem grandes sequências de ação ao longo dos próximos capítulos, assim como um mergulho ainda mais profundo na fantasia. Aliás, algo que apresenta levemente um desequilíbrio nesse começo é exatamente essa mudança de realismo e drama racial para uma ficção científica bem descarada. A transição poderia ter sido melhor desenvolvida, a sensação é que a série está se apressando mais do que deveria e isso pode acabar cansando, como aconteceu com ‘Castle Rock’, por exemplo.

Por outro lado, há uma vibe investigativa interessante, que lembra os mistérios de ‘Stranger Things’ e também um livro, desenvolvido por Abrams, chamado de ‘S’ (ou ‘O Navio de Teseu’), que certamente serviu de inspiração para a construção da narrativa da série. A trama cresce de forma intensa e envolve o espectador com sua condução enérgica e a estranheza provocada pelas situações absurdas em que os protagonistas precisam passar durante a road trip pela intolerância. Outro elemento evidentemente bom é o elenco formado majoritariamente por atores e atrizes negros, extremamente assertivo com o momento atual. Inclusive, a trama ainda encontra espaço para abordar violência policial e fazer um paralelo poderoso de como isso ainda é um grave problema, mesmo após mais de 70 anos.

Conclusão

E é com essa energia extremamente promissora que ‘Lovecraft Country’ se torna a perfeita união da fantasia de J.J. Abrams com a crítica social de Jordan Peele, que usa o lado mais sombrio e intolerante da humanidade para fazer um paralelo com os monstros da fantasia. O sólido e instigante primeiro capítulo da série da HBO mostra que essa pode ser uma das melhores e mais assustadoras produções desse ano. A aposta é altíssima e, por enquanto, a entrega está no mesmo nível de perfeição.

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