Crítica | Greyhound: Na Mira do Inimigo – Suspense intenso, mas que falta emoção e carisma

Mais um filme de guerra protagonizado por Tom Hanks. Esse é o primeiro pensamento ao começar a assistir ‘Greyhound: Na Mira do Inimigo’, lançado no Brasil através do AppleTV+, correto? Bem, sim, ainda que esse tenha uma energia realmente instigante do começo ao fim, não deixa de ser mais uma obra que não agrega novidade ao subgênero e nem explora outras alternativas. Mais próximo de ‘Dunkirk’ do que de ‘O Resgate do Soldado Ryan’, o longa opta por usar as ferramentas cinematográficas, como o som e a ação desenfreada, para envolver o espectador em uma trama relativamente simples, sem nuances dramáticas ou grandes atuações, mas que prende exatamente pela construção da direção e a intensidade de como a história é contada, já que a sensação de perigo aumenta conforme a premissa avança. Isso, por si só, já aproxima esse filme de uma narrativa mais “videogame”, que está sendo fortemente utilizada desde ‘1917’ e que acrescenta aos filmes de guerra uma modernidade e um gás à mais.

A trama se passa em 1942, quando a Segunda Guerra Mundial estava no ápice e o comboio internacional de 37 navios aliados, liderado pelo capitão Ernest Krause (Hanks), precisa atravessar o temido Atlântico Norte e enfrentar a perseguição por matilhas de submarinos nazistas, escondidos nas águas fundas do local. No melhor estilo “gato e rato”, a caçada se intensifica e os navios precisam sobreviver até que o dia amanheça. É esse suspense que prende o espectador na ponta da cadeira, mas, além disso, não há nada de novo. Tom Hanks tem carisma de sobra, fato, e é um papel relativamente fácil para um ator com a sua experiência fazer. Não há nenhum ápice dramático e, sem dúvida, um pouco mais de emoção teria feito a diferença. Já os efeitos especiais, esses estão medianos e passam longe de uma superprodução de guerra voltada para os cinemas. A sensação é de que o projeto perdeu a força quando começou a ser desenvolvido e culminou em um produto que cumpre tabela em streaming, mas que teria fracassado caso fosse lançado nas telonas.

Além disso, a fotografia está bastante escura, certamente para disfarçar imperfeições dos efeitos especiais capengas. Apesar dessa escuridão parecer proposital, já que os navios estão cercados por inimigos “invisíveis” e a imensidão noturna causa a sensação de medo, na prática, está tudo escuro demais e isso ofusca qualquer boa sequência de ação que o diretor Aaron Schneider (Beijos Que Matam) desejou realizar. Aliás, a direção é realmente boa e sabe conduzir o espectador por uma narrativa de suspense que envolve, mas boa parte disso também se deve pela trilha sonora intensa e constante. Se pegarmos o longa ‘7500’, que também se constrói em apenas um ambiente e necessita do suspense para movimentar a trama, é perceptível como ‘Greyhound’ explora tão pouco seus cenários e os sentimentos dos demais personagens, e como o fator surpresa é utilizado à exaustão, já que não há mais nada para ser entregue pelo roteiro que começa a dar voltas e mais voltas em torno de nada. Enquanto Schneider tenta entregar sequências visuais à la ‘Piratas do Caribe’, o roteiro não sabe exatamente para onde ir e desperdiça oportunidade de dar protagonismo também para outros núcleos.

Com isso, de modo geral, ‘Greyhound: Na Mira do Inimigo’ consegue usar seu suspense para prender o espectador, mas não entrega nada além de uma história pouco desenvolvida e sem elementos marcantes. Falta emoção e carisma para ser um filme de guerra que se perpetue, já que o roteiro tem pouco a oferecer. Tom Hanks vive o mesmo Tom Hanks de sempre e isso, apesar de ser bom, se torna cansativo com poucos minutos de filme. No fim das contas, a guerra minúscula da proposta funciona para o streaming e você sente alívio de não ter gasto para ir ver tão pouco nos cinemas.

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