Crítica | Parker – Boas cenas de ação em roteiro cafona e desregular

É estranho perceber como um filme é moldado por um ator e como tal artista busca performar apenas o que está em sua zona de conforto. Os astros de ação, principalmente, são encaixados em uma caixinha padrão e vivem sempre o mesmo tipo de personagens, inserido em subtramas diferentes, como acontece com Jason Statham em ‘Parker’, longa de ação que está fazendo sucesso na Netflix. O ator não é o único a cair no mal do personagem estereotipado e clichê, mas é plenamente exaustivo assistir repetidas vezes a mesma figura sem que ela (ou a direção) busque agregar qualquer novidade. Esse temor de rejeição do público alvo impede que a obra, assim como tantas outras, possa inovar enquanto diverte, com isso, resta apenas uma trama de ação genérica, desregulada e que apenas preenche catálogo de streaming.

A trama é uma adaptação de ‘Flashfire’, o romance com o personagem criminal Parker, escrito por Donald E. Westlake sob o nome de Richard Starkque, que começa de forma até enérgica, ao mostrar um assalto curioso em um parque de diversões, mas desanda com facilidade por dois grandes motivos: uma direção descompensada e cafona de Taylor Hackford (Advogado do Diabo) e o excesso de subtramas e personagens vazios que ocupam grande parte da história central e, inclusive, são deixados de lado no desfecho, que diminui sua importância a quase zero. Além disso, a montagem desregular e corrida lembra filmes da década de 80 e, apesar disso ser uma referência boa, o diretor não soube trabalhar a nostalgia com o contemporâneo de forma adequada, resultando em flashbacks inseridos em momentos aleatórios, que só servem para desconectar o espectador da intensidade das cenas que já não são lá grandes coisas.

A ação física, por sua vez, tem coreografias boas, mas segue na zona de conforto, sem explorar todo o potencial e carisma de Statham, já que tenta fazer o ator entregar um lado dramático que ele não possui. Da metade para o final, outra história acontece dentro do filme, logo quando a personagem da Jennifer Lopez (As Golpistas) é inserida. Nesse ponto, parece uma história desconexa dentro de outra e nada faz muito sentido. O ritmo que estava sendo construído se perde por completo e a sensação é de que o roteiro não sabe exatamente para onde ir com a jornada daquele personagem do título.

A química entre Statham e Lopez é forçadíssima e não existe e, apesar da ótima atuação da atriz, sua personagem cai na artimanha do “macho movie” e se torna apenas um objeto de desejo para o protagonista masculino. Aliás, todas as mulheres no filme são estereotipadas e hipersexualizadas sem necessidade alguma, apenas para “embelezar” o roteiro e agradar o público alvo. É uma pena ainda ver esse tipo de abordagem em filmes tão recentes.

Dessa forma, ‘Parker’ se mantém tão forte na zona de conforto e se preocupa tanto em agradar o público alvo, que esquece de desenvolver uma trama coerente e divertida, que possa ultrapassar a já esperada ação desenfreada de um Jason Statham que vive sempre o mesmo papel. Seja na forma como trata as personagens femininas ou como a direção perde o eixo narrativo com tanta história desregular dentro do roteiro, uma coisa é certa: não há nada aqui que já não tenhamos visto em tantas outras obras que são infinitamente mais interessantes que essa.

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você vai querer ler isto: